- Moçambique entre a Espada e a parede
- Rússia mostra janelas de trigo e combustível baratos para o alívio ao custo de vida
- Governo já estava a estudar a proposta russa e não há impedimento legal
- Estranhamente a Europa continua a comprar gás e petróleo russo
Depois do embaixador da Rússia em Maputo, Alexander Surikov, ter anunciado uma janela de oportunidade para Moçambique importar trigo e combustíveis da Rússia a metade do actual preço do mercado para aliviar o custo de vida, o ministro dos Recursos Minerais e Energia, Carlos Zacarias, garantiu que o Governo está a estudar a possibilidade de comprar petróleo russo em rublos, caso essa opção seja viável, depois de Moscovo ter apresentado a Maputo disponibilidade para esse mecanismo. No entanto, os ânimos dos moçambicanos que viam nesta janela a única oportunidade para sair do sufoco podem entrar em “modo frio” após as declarações da embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, que advertiu aos Estados africanos que se “envolvem com países sancionados” pelos EUA.
Evidências
Há dias, a embaixada da Rússia em Moçambique levantou os ânimos dos moçambicanos ao afirmar que, afinal, é possível comprar combustível e trigo a metade do preço especulativo em que são actualmente transaccionados no mercado internacional.
A Janela de oportunidade foi apresentada pelo embaixador Alexander Surikov num encontro que manteve com o Conselho Directivo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que apresentou os pagamentos directos em rublos à fornecedores russos de cereais, fertilizantes e combustíveis como sendo a única alternativa para aliviar o custo de vida de um povo que vive um aperto sem precedentes nos últimos meses.
O anúncio animou não só a sociedade moçambicana, como também aos empresários que já analisavam a possibilidade do Banco Central poder permitir que se pague em rublos e haver essa ligação directa junto dos fornecedores russos.
O Governo, que enfrenta cíclicas ameaças de manifestações violentas devido ao nível de saturação dos moçambicanos com o custo de vida, não fez de rogado e anunciou que estava a estudar a possibilidade de comprar petróleo russo em rublos, caso essa opção seja viável.
“Estou certo de que vamos estudar e verificar a viabilidade dessa oferta [da Rússia], se houver viabilidade, com certeza que [o petróleo russo] será adquirido em rublos”, afirmou Carlos Zacarias, ministro dos Recursos Minerais e Energia, interpelado por jornalistas.
Contudo, parece que esta pretensão pode esbarrar no poder das sanções dos Estados Unidos da América que, esta segunda-feira, apesar de terem reconhecido que o número de africanos a viver em insegurança alimentar pode chegar aos 230 milhões, fez questão de advertir aos países que decidam estabelecer relações comerciais com a Rússia.
“Nossas sanções contra a Rússia têm a intenção de desencorajar os russos de continuar sua agressão na Ucrânia […] Eu advertiria [aos países africanos] para não se envolverem com países sancionados pelos Estados Unidos”, disse Linda Thomas-Greenfield, num discurso citado pela Lusa, alegadamente enviado pela embaixada norte-americana em Maputo.
Linda Thomas-Greenfield falava durante as visitas de trabalho que realizou a três países africanos na última semana, nomeadamente Gana, Cabo Verde e Uganda.
Para a diplomata, embora os países africanos tenham liberdade para tomar as suas próprias decisões sobre a política externa, o continente está também a sofrer com o impacto da guerra.
“Os africanos têm o direito de decidir as suas posições de política externa, livres de pressão e manipulação, livres de ameaças. Mas deixe-me ser clara […] Anteriormente, mais de 190 milhões de pessoas viviam em insegurança alimentar após a Covid-19. Bem, desde a invasão em larga escala na Ucrânia, estimamos que esse número pode subir para 230 milhões. O facto é que isto prejudica África “, declarou Linda Thomas-Greenfield.
“Independentemente do que sentem em relação à Rússia, todos nós temos um forte interesse comum em mitigar o impacto da guerra na Ucrânia na segurança alimentar”, acrescentou a diplomata, que esclarece ainda que as sanções que os EUA estão a adoptar contra a Rússia não se aplicam às exportações de alimentos e fertilizantes, mas sim para “commodities”.
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