Castigo Langa entrou ao Congresso como estrela e saiu isolado

POLÍTICA
  • Condenado pela Comissão Política e isolado pelos camaradas
  • Nyusi nunca assumiu terceiro mandato e nos corredores já garantiu não ter essa intenção
  • Purificação de fileiras sugerida pela ACLIN entendida como outro puxão de orelhas
  • Estará em jogo frustração por não ter sido nomeado Conselheiro?

Dias depois de ter tentado trazer um assunto que não constava da agenda durante a sessão do Comité Central, que teve lugar dias antes do XII Congresso, a Comissão Política “censurou” nos moldes mais veementes as declarações de Castigo Langa, que acabou por pagar mais caro pela tentativa frustrada de desviar o debate, tendo sido visível o seu isolamento por parte dos camaradas durante o Congresso, em que andou sozinho ou ladeado de camaradas de menor expressão pelos corredores da Escola Central do partido, na Matola.

Evidências

De herói para uma das alas que tenta se opor a um fantasma chamado terceiro mandato à “patinho feio” isolado naquele que é um dos maiores Congressos da Frelimo até hoje, seja pela musculatura organizacional, como também o número de delegados. Essa é a sina de Castigo Langa, que acabou sendo o porta-voz e mensageiro de uma facção do partido que se opõe a um provável terceiro mandato que nunca foi publicamente assumido por Nyusi.

Provavelmente devido a censura da sua atitude pela Comissão Política, nos corredores do Congresso, Castigo Langa, um ex-ministro do governo de Joaquim Chissano, que entrou na escola central do partido como membro do Comité Central e saiu como simples simpatizante, em virtude de não ter conseguido se reeleger para o órgão, era um homem praticamente isolado.

Não se notou nenhum apoio que se esperava a quem tentou levar ao debate o tema do terceiro mandato quando aconselhou o Presidente da República, Filipe Nyusi, a não aceitar propostas para voltar a ser candidato da Frelimo nas próximas eleições. É que de fora parecia que as declarações de Castigo Langa seriam apoiadas por uma parte dos membros no Congresso, mas foi debalde.

“O meu apelo vai pessoalmente para o camarada Presidente: caso apareça uma proposta no sentido de ser o próximo candidato da FRELIMO nas eleições presidenciais, por favor, faça como fez com a oferta de tractor: não aceite. Não seria bom nem para o Camarada Presidente e sua família, nem para a FRELIMO, e seria um precedente com consequências imprevisíveis para o nosso país. Uma proposta nesse sentido, tanto pode provir de oportunistas com o objectivo de cavalgarem o Camarada Presidente na prossecução de seus fins egoístas, contrários ao interesse nacional, como de camaradas de boa-fé, apenas invadidos pelo medo do desconhecido”, sustentou Castigo Langa.

Estas palavras assumiram algum teor agressivo quando nalgum momento fala de probabilidade de uma tragédia de derramamento de sangue, não caíram bem para as hostes da Comissão Política e dos membros do partido, que condenou a atitude daquele membro do partido por ter forçado a discussão de um ponto fora de agenda e o seu tom agressivo.

Frustração por não ter sido escolhido conselheiro do Presidente Nyusi?

A Comissão Política chegou mesmo a apelidar o pronunciamento de Castigo Langa, no decurso do XI Comité Central extraordinário, sobre um alegado terceiro mandato como um atentado contra a “imagem do Partido e integridade do seu Presidente (Filipe Nyusi)”, para além de tratar-se de “um ponto fora da agenda aprovada”.

No seu comunicado, mesmo à porta do Congresso, a Comissão Política escreve que “lamenta e repudia veementemente a atitude do camarada Castigo Langa, Membro do Comité Central, em ter levantado, no decurso da II Sessão Extraordinária do Comité Central, um ponto fora da agenda aprovada”.

Mas não foi somente a tentativa de ajuntar ao debate um assunto fora da agenda aprovada que enfureceu a Comissão Política, mas também o facto do teor da missiva de “apelo” de Castigo Langa a Nyusi ter posteriormente vazado por ele próprio,  “nas redes sociais, com afirmações que atentam a imagem do Partido e integridade do seu presidente”.

Essa terá sido, se calhar, a razão que fez com que Castigo Langa fosse isolado pelos camaradas durante o Congresso, pois não quiseram estar associados a imagem de um membro que tentou insurgir-se contra o partido e seu Presidente.

Não está claro se Castigo Langa agiu como um lobo solitário ou em representação de interesses de um pequeno grupo, mas durante o Congresso as palavras de Castigo Langa não tiveram nenhuma réplica e saiu com a imagem um pouco fragilizada, sobretudo com a reeleição de Filipe Nyusi como presidente do partido com 100% dos votos, depois de ter sido aclamado pelas organizações sociais e delegações provinciais.

Ficou assente a ideia de uma referência a este episódio, quando o secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLIN), Fernando Faustino, defendeu a necessidade de purificação de fileiras, o que é entendido como outra condenação dos antigos combatentes a Castigo Langa.

Antes, nalguns órgãos de comunicação social e nas redes sociais circulou uma narrativa de que a aparente “zanga” de Castigo Langa, que nalgum momento foi tido como próximo de Filipe Nyusi, é pelo facto de não ter sido nomeado como conselheiro do Presidente da República, cargo que supostamente aquele ex-ministro estaria interessado.

Em círculos restritos, Nyusi nega ter interesse de um terceiro mandato

Em meio a polémica sobre um provável terceiro mandato, Filipe Nyusi foi eleito, este Domingo, com 100% dos votos para mais um mandato a frente dos destinos da Frelimo. Todos os 1136 delegados ao XII Congresso que decorre na Matola, província do Maputo, reiteraram a sua confiança em Nyusi, a princípio, para os próximos cinco anos, mas como tem sido tradição na Frelimo poderá não cumpri-lo integralmente.

É que, Filipe Nyusi nunca se pronunciou sobre um provável terceiro mandato e Evidências apurou que nalguns círculos mais restritos, incluindo pessoas próximas, já vincou que não tem interesse em voltar a governar o país por mais cinco anos.

Quer isso dizer que se não mudarem os desejos e vontades do actual chefe do Estado, este poderá renunciar no primeiro Comité Central logo após a eleição do novo Presidente da República, ou seja, no primeiro semestre de 2025, tal como aconteceu com Chissano e Guebuza, que colocaram seus lugares à disposição.

Logo após a sua eleição, num pleito em que concorreu como candidato único, o presidente honorário da Frelimo, Joaquim Chissano, que foi escolhido para o empossar, desejou sucessos a Filipe Nyusi e o encorajou a promover a reconciliação, a continuar a desenvolver acções com vista ao desenvolvimento do país e promoção da imagem de Moçambique no concerto das nações.

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