O “suicídio” político do General Nihia

OPINIÃO

Alexandre Chiure

O dossier sobre as eleições internas fechou, num misto entre a alegria dos que foram escolhidos, a vários níveis, para os diferentes órgãos sociais do partido Frelimo e a tristeza para os que não conseguiram alcançar os seus objectivos políticos que passavam por ser eleitos ou reeleitos.

Entre os não eleitos ou reeleitos há os que foram vítimas de ajuste de contas do estilo se depender de mim, o fulano e beltrano não passam. Figuras que, por razões pessoais de um grupo ou de alguém com influência de voto, tiveram que ser sacrificadas.

Foram postos de lado nas opções ou porque são bem sucedidos na vida e, por isso, alvos de inveja. Ou porque têm ideias próprias ou, ainda, porque não quiseram embarcar na de corrupção que passa por comprar o voto, uma prática corrente nestes dias.

Por outro lado, não há dúvidas que entre os que foram eleitos existem os que fizeram um jogo limpo. Que foram escolhidos por mérito. Mas há, também, neste grupo os que jogaram sujo. Bateram na mesa. Rolou dinheiro, e não foi pouco, para fazerem valer as suas candidaturas.

Outros optaram pela fraude eleitoral. Em Chókwè, alguns membros da Frelimo saíram à rua a queixar-se de que o processo eleitoral foi fraudulento. Reclamaram, mas tudo terminou com o silêncio.

Alguns apostaram no obscurantismo. Só assim se justifica que alguém tenha espalhado sal numa sala, em tudo que é canto, nas vésperas de votação, algures na província de Gaza, provavelmente para expulsar maus espíritos de uns a favor de outros.

Há os que, sem esforço nenhum e para a surpresa da maioria, foram eleitos ou reeleitos, mesmo com um caso na justiça. (Vide secretário distrital da Frelimo em Chiuta, em Tete, com um processo na procuradoria em que é acusado de abuso de poder e corrupção envolvendo mais de um milhão de meticais).

Há, ainda, os que se mantiveram no poder, reeleitos, curiosamente, como candidatos únicos, apesar de esse critério ferir a democracia e tirar o brilho ao próprio processo eleitoral, mas proteccionista para alguns camaradas  (vide secretários dos comités provinciais e não só).

Cada um dos camaradas escolhidos jogou como pode e chegou ou manteve-se no poder. Estão preenchidas as vagas nos diferentes órgãos sociais do partido Frelimo e a vários níveis, nomeadamente dos comités de círculo e da zona, dos comités distritais, provinciais e do Comité Central da Frelimo, estes a serem homologados pelo XII Congresso agendado para a próxima semana, em Maputo.

Quem jogou e perdeu é o General Eduardo da Silva Nihia. Os seus créditos de antigo combatente da Luta de Libertação Nacional não foram suficientes para salvar a sua candidatura a membro do Comité Central pelo círculo eleitoral de Nampula. Os macuas, a quem ele chamou de “falsos e sem direcção”, viraram-lhe as costas.

Nihia foi vítima dele próprio. Do seu discurso proferido num momento impróprio. Da forma como abordou a questão. Na vida tudo pode ser dito, dependendo da forma como se diz.

Ele ofendeu, ostensivamente, os seus potenciais eleitores. O pior é que não soube ser humilde. Perdeu a oportunidade de se redimir e pedir desculpas. Foi um autêntico suicídio político do general. Teve apenas um voto, o dele mesmo. É assim em democracia. Os erros pagam-se caros.

Sendo que o dossier sobre as eleições internas deixou de ser assunto para os camaradas, pois as atenções estão viradas, agora, para o congresso, o que resta dizer aos que não foram eleitos é que sejam pacientes. Têm que aguardar até que chegue a sua vez no partido, com a posição de chefia, lhes bate as costas para avançar com a sua candidatura, com selo de vitória.

Quanto aos felizardos, os eleitos e reeleitos, dizer que no exercício das suas actividades políticas priorizem as preocupações das populações. Não se distanciem das massas. Não olhem apenas para o seu umbigo. Não prometam o que não são capazes de fazer ou oferecer às populações.

São chamados a ser exemplares no combate à corrupção que se tornou uma forma de ser e estar na sociedade, mesmo dentro do partido Frelimo. Sejam capazes de buscar soluções, em tempo útil, para os problemas que apoquentam as populações.

Usem o cartão vermelho para se identificarem como membros do partido Frelimo e não como passaporte para obter ganhos ou ameaçar cidadãos e expropriar-lhes a terra.

Aprendam a ser tolerantes e a conviver na diferença. O país é de todos independentemente de cores políticas, confissão religiosa, tribo e a cor da pele. Aprendam a ouvir os governados para tomarem decisões que vão ao encontro das suas prioridades.

Vale a pena relembrar estas coisas aos que ascendem ao poder, pois, infelizmente, alguns têm a tendência de deixarem se corromper e, no lugar de servirem os cidadãos, serve-se a eles próprios. Abocanham oportunidades de negócio, emprego e formação. São as suas empresas que ganham concursos públicos.

Aprendam a ser os primeiros no sacrifício e os últimos nos benefícios, como era na Frelimo de 75, a Frelimo de Samora Machel. Coloquem, em primeiro lugar o povo moçambicano, em segundo, o povo moçambicano, em terceiro, o povo moçambicano e em quarto lugar, o povo moçambicano.

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