Oposição, onde andas?

OPINIÃO

Alexandre Chiure

Oposição, é contigo que, desta vez, quero conversar. Não me leves a mal, eu sou assim: crítico, frontal e vou directo ao assunto. Vai ser, por isso, um diálogo um pouco chato, mas paciência.

Sabes, sempre que penso em ti vem-me a ideia de que a oposição à Frelimo encontra-se no seio da própria Frelimo. Há figuras internas que o partido libertador respeita e a quem presta muita atenção. Mas não te embirres com isso. São apenas elucubrações da minha parte.

Oposição, às vezes fico com a sensação de que tu não existes. Andas muito silenciosa. Não apareces, mesmo quando é preciso dar a cara. Não dizes nada, mesmo quando se espera que o faças. O que será que está a acontecer contigo?

Sabes que tens muita sorte? O partido no poder não se cansa de te oferecer trunfos políticos que, quando bem aproveitados, podem, e muito bem, avultar-te, mas não consegues tirar proveito disso. O problema é teu.

O teu adversário político, no poder desde 1975, tem estado a cometer falhas na governação, que dão direito a uma penalização política, mas não consegues explorá-las em teu próprio benefício por falta de perspicácia ou sentido de oportunidade.

A título de exemplo, um quadro sénior do partido libertador disse que os macuas de Nampula, o principal círculo eleitoral do país, são “falsos e sem direcção”. Um autêntico deslize. É uma declaração que dá pano para manga em política.

O que constatámos foi um silêncio cúmplice de quase todos os partidos políticos da oposição. Achas que estás a fazer política ao adoptares este procedimento? Não me parece.

Há, igualmente, o dossier TSU, que se transformou num labirinto do qual o governo não consegue sair. Cerca de 400 mil funcionários e agentes do Estado estão agastados com a situação, depois de reiteradas promessas não cumpridas. Mais uma vez, tu, oposição, não soubeste tirar partido desta situação em termos políticos.

Podia falar, também, da contínua degradação da qualidade de vida dos moçambicanos, com a constante subida dos preços de produtos básicos e da problemática dos transportes. Para quem quer fazer política a sério, estes parcos exemplos seriam suficientes para provocar celeuma nos jornais, nas estações de rádio e televisão, nos canais de Youtube e noutras plataformas de comunicação.

Oposição, afinal onde andas? Será que estás à espera das eleições para apareceres em público? Não achas que nessa altura será tarde demais? Aliás, atenção, as eleições estão à porta. Em Outubro de 2023 teremos as autárquicas e, em 2024, as presidenciais, legislativas e provinciais.

A propósito, o que é que estás a fazer, de concreto, em sua preparação? Será que já tens desenhada a estratégia para os três pleitos eleitorais? Algo me diz que não, o que seria lamentável. Depois vais reclamar, como sempre, quando perderes as eleições. Esqueces-te de que, parafraseando Samora Machel, “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”.

É chegado o tempo de te revitalizares, criar uma base de dados do pessoal que irá fiscalizar os processos eleitorais, desde o recenseamento, passando pela votação, até à contagem dos votos, sem descurara necessidade de mobilização de fundos para garantires a logística eleitoral. Não acredito que te estejas a preparar com afinco. Queres provar-me o contrário? Fica à vontade.

Em todos os processos eleitorais queixas-te de que foste ludibriado. Com efeito, em alguns casos, podes até ter razão, mas não consegues reunir provas concludentes para sustentar a tua reclamação.

Quando tens provas, elas perdem o seu valor por submeteres o expediente de forma extemporânea, confiando na resolução de conflitos pós-eleitorais através de circuitos políticos e não por vias legais, como é o recomendável.

Nas assembleias de voto tudo pode acontecer. As eleições internas do partido Frelimo provaram-me que sim. Um membro que não tinha, alegadamente, ganho o direito de ser incorporadono Comité Central, com apenas 91 votos, depois de exigir a recontagem, obteve 291, o suficiente para integrar o órgão. Ninguém soube explicar donde é que apareceram mais 200 votos. São coisas de eleições.

Oposição, não te esqueças de que estás em crise de liderança! Os dois líderes que tinhas já não se encontram entre nós. Refiro-me a Afonso Dhlakama e a Daviz Simango. Os seus substitutos são meros presidentes dos respectivos partidos. Tem cuidado, pois essa é uma grande fraqueza.

Com Dhlakama vivo, por exemplo, a Renamo não tinha necessidade de recorrer a grande afã para obter resultados consideráveis (44 a 47 por cento do total dos votos nas legislativas e presidenciais). Vencia, habitualmente, em Sofala, Manica, Tete, Zambézia e Nampula. Sem ele, nas últimas eleições, a Renamo não logrou eleger um único governador provincial. Que cenário se vislumbra em 2023 e 2024?

Oposição, com essa mania de cada partido avançar sozinho para as eleições, não chegarás a lado nenhum, sobretudo porque a maior parte deles não dispõe de recursos materiais e financeiros suficientes para fazer uma campanha eleitoral adequada, em todo o país, para além de capital político forte com vista a convencer o eleitorado a votar neles. Por isso, separados, os opositores da Frelimo tornam-se fracos, mas, em coligações, podem fazer a diferença.

Oposição, porque não investir mais nas eleições provinciais e autárquicas onde tens uma larga possibilidade de vencer em algumas autarquias, e nas assembleias provinciais do que nas legislativas e presidenciais que, dada a sua complexidade, não estão ao teu alcance? Tens que crescer primeiro, politicamente, para sonhares com algo maior, que é ascender à Assembleia da República.

Só se concorre para as legislativas e presidenciais com candidatos fortes, à semelhança do que aconteceu recentemente em Angola com a UNITA, que avançou com Adalberto Costa Júnior. Aí, sim. O contrário não vale a pena, pois será uma perda de tempo. Bom, é apenas uma opinião. A decisão cabe, unicamente, a ti.

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