O problema da fistula obstétrica em Moçambique é grave – observa Igor Vaz

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De acordo com dados do Ministério da Saúde (MISAU), em Moçambique a fístula obstétrica é um problema grave de saúde pública em Moçambique, sendo, a par da pobreza, fracos serviços de saúde, casamentos prematuros, gravidez precoce e desnutrição, uma das consequencias da desigualdade de genero. Falando a margem do workshop de pré-lançamento da 8ª Conferência Internacional de Cirurgiões de Fístula Obstétrica, evento que vai juntar cerca 185 participantes dos entre cirurgiões, médicos e técnicos de saúde de 32 países, o especialista em cirurgia de fístula, Igor Vaz, que também desempenha a função de Director Geral da organização Focus Fístula, observa que o problema da fistula obstétrica em Moçambique é grave.

O Governo, através do Ministério da Saúde, e as organizações da sociedade civil tem levado a cabo uma série de iniciativas para reduzir os índices de fistula obstétrica, uma abertura anormal entre o trato genital da mulher e seu trato urinário ou recto, causado por trabalho de parto arrastado e obstruído sem acesso a cuidados médicos imediatos e de qualidade, no país. Entretanto, os números continuam assustados o que, segundo Igor Vaz, é muito grave.

“O problema da fístula obstétrica é grave em Moçambique. Nós temos uma falta de assistência ao parto muito grande, temos muitas mulheres a viverem nas zonas rurais e não tem acesso a saúde, temos ainda muitas dificuldades nas nossas maternidades e, portanto, umas pequenas percentagens de mulheres têm partos dentro das unidades sanitárias. Isto leva a que elas percam muito tempo e que haja mortalidade e morbilidade materna muito grande”, apontou Vaz para depois acrescentar que não obstante as melhorias que foram alcançadas nos últimos anos taxa de mortalidade continua alta.

“O Ministério da Saúde tem os dados todos sobre a taxa de mortalidade que é muito alta, que é de quatro a cinco em cada cem partos vivos. Nós normalmente temos fístula em mulheres muito jovens, desde os 16 anos, mas também podem aparecer fístulas em mulheres de uma certa idade, entre 40 e 45 anos que também são as idades onde aparecem complicações de parto”.

MISAU destaca colaboração de instituições estrangeiras para a eliminação da fístula obstétrica até 2030

Para reverter o actual cenário, o Director Geral da organização Focus Fístula falou de dois programas que foram implementados ao longo do ano em curso, sendo que um deles é regulado pelo MISAU e o outro pela Focus Fístula.

“O Ministério da Saúde tem o programa Nacional de Fístula e nós, Focus Fístula, temos um outro programa, paralelo ao programa do Ministério, onde em colaboração operamos doentes em todo o país. Portanto, os doentes podem vir não só ao Hospital Central, na Clínica Cruz Azul, como também às nossas equipes têm se deslocado às diferentes partes do país para operar. Nós por ano estamos a operar seiscentas mulheres”.

Ainda à margem do workshop de pré-lançamento da 8ª Conferência Internacional de Cirurgiões de Fístula Obstétrica, a Directora Científica e Pedagógica do Hospital Central de Maputo (HCM) não mostrou reservas para afirmar que a fistula é um problema de saúde pública em Moçambique, tendo avançado que as sessões de cirurgia que decorrem no Bloco Operatório do HCM constituem uma oportunidade para a troca de experiências entre cirurgiões de vários países

“Acredito que com este evento teremos oportunidade de troca de experiências entre os nossos profissionais com os outros profissionais de diferentes instituições estrangeiras e melhorar aquilo que é a colaboração entre Moçambique e outras instituições estrangeiras, melhorar aquilo que é o ensino e aprendizagem em relação a fístula obstétrica que nós sabemos que é um problema de saúde pública. É um problema que todos devemos lutar e acredito que cada um de nós aqui presente poderá contribuir para aquilo que é o objectivo global de eliminação da fístula obstétrica até 2030”.

Refira-se que em Moçambique, segundo dados do MISAU, estima-se que mais de dois mil novos casos de fístulas obstétricas são registados anualmente.

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