Professores iniciam greve silenciosa em todo país em época de exames

SOCIEDADE
  • Ignorados pelo Governo sobre TSU, ameaçam devolver cartões da Frelimo
  • Desapontados com a ONP, já estão a contribuir para formalizar nova associação

Depois de semanas tentando demover o Governo para rever o enquadramento dos docentes, das carreiras N1, N2, N3 e N4 na Tabela Salarial Única (TSU), parece prevalecer o impasse. Como tal, está previsto para hoje (15 de Novembro) o arranque, de uma greve nacional dos professores, convocada pelo Movimento Professores Unidos que congrega docentes de todo o país, que interagem por via de grupos do Whatsap. A referida greve, um tanto quanto silenciosa, segundo apurou o Evidências, consistirá na paralisação parcial das actividades e boicote dos exames que ontem iniciaram, através das mais variadas estratégias. Ao mesmo tempo decorrem contribuições em todo o país com vista a formalização do Movimento Professores Unidos (MPU), uma nova denominação que visa fazer face à apática e capturada Organização Nacional dos Professores (ONP), que parece estar à leste do clamor da classe.

Evidências

Sem manifestações de rua e sem levantar grandes alaridos ou distúrbios em espaços públicos, os professores adoptaram o silêncio como seu aliado na greve que hoje inicia, segundo apurou o Evidências. Essencialmente a greve vai consistir na interrupção parcial das actividades e boicote sistemático dos exames que iniciaram esta segunda-feira.

Entretanto, a estratégia até ao fecho desta edição, esta segunda-feira, a estratégia ainda não era consensual entre o grupo que ia se comunicando através de várias comunidades do Whatsapp, algumas das quais, segundo apurou o Evidências, já estavam lotadas.

Há entre os grevistas, uma facção que defendia uma paralisação total e completa de todas as actividades lectivas, exames e outros trabalhos afins, defendendo que um eventual recuo na decisão significaria perda da batalha.

“Sermos considerados desorganizados e covardes para sempre. Província e Cidade de Maputo Todos no Jardim dos professores às 7 horas. Nas províncias procurem o lugar estratégico onde a imprensa pode ter acesso! Ass.: MOVIMENTO PROFESSORES UNIDOS  VAMOS PARTILHAR PARA TODOS OS GRUPOS”, avisou o grupo no fim da tarde de ontem.

Os professores acusam o Governo de ter ignorado várias cartas por si endereçadas na tenta de persuadir o executivo a rever o enquadramento da classe na TSU, considerando, por exemplo, que os docentes N1 deviam iniciar do nível 16 como preconizava a proposta apresentada pelo Governo durante a auscultação a aquela classe profissional e não no nível 12 como vieram a calhar.

O grupo entende, que uma vez acomodados os docentes N1 a partir do nível 16, os restantes escalões (N2, N3 e N4) teriam condições de também serem promovidos de escalão, permitindo, assim, a valorização de uma classe que se sente marginalizada.

“A Carta que enviamos ao gabinete do primeiro ministro, Ministério da Educação, Ministério das finanças, dava prazo hoje dia 14, e sem respostas, amanhã dia 15, inicia a greve, a nível nacional, todos os Professores se encontrarão no jardim dos Professores, as 7h, trajados de bata. Nenhum professor do Ensino primário deve controlar exames de amanhã, e todos, junto com os do Secundário, ninguém vai ao serviço. Apela-se aos pais e encarregados para não mandarem seus filhos à escola, porque não estaremos lá. É agora ou nunca. Professores unidos, jamais serão vencidos!”, reforçaram os grevistas.

Prometem boicotar actividades até dia 10 e já estão a formalizar uma nova organização

Vincando que o seu objectivo não é  políticos, os professores, na sua maioria primários e secundários dizem que o movimento visa o resgate do valor que não nos é dado no âmbito de enquadramento na Tabela Salarial Unica.

“Esperamos que o Governo responda satisfatoriamente ou se pronuncie adequadamente a respeito da reclamação submetida  em torno da nova Tabela Salarial. Caso não haja boa resposta haverá boicote da vigia dos exames, apesar de não ser do agrado do movimento”, fizeram notar os líderes da manifestação.

O Movimento Professores Unidos, que está a preencher o vazio do seu principal sindicato, a ONP praticamente capturada, encontra-se a produzir os documentos para oficialização segundo apurou o Evidências.

Com um movimento massivo, havendo províncias que viram-se na obrigação de criar mais de dois grupos devido ao facto de terem atingido o limite de 1050 membros estabelecido pelo Whstsap, os líderes do movimento estão a angariar contribuições no sentido formalizarem a organização, que conta, inclusive com uma acessória jurídica muito forte.

Da insensibilidade do Presidente da República

Outro aspecto que deixa os professores revoltados é o facto de terem ouvido da boca do mais alto magistrado da nação, Filipe Nyusi palavras pouco abonatórias como “comam lá e bebam água”, quando esperavam por uma resposta convincente do governo.

“… Não nos compliquem quem disse que não queremos resolver os problemas do professor? … você faz confusão […] eu já não vou comer, não vou beber água porque já saí de 15 agora estou com 40 e não vou comer porque eu devia ter 100. Coma lá irmão, bebe lá água”, disse o PR de improviso, colocando mais “sal na ferida” dos professores, que consideram as declarações do PR um verdadeiro insulto para a classe.

Para além do enquadramento digno para todos os escalões, os professores exigem que o Governo reponha os subsídios que vinham tendo em função das especificidades do trabalho, dentre os quais destaca-se o de localização. Igualmente, reclamavam o facto de os directores das escolas terem um salário três vezes superior a de docentes licenciados e o dobro do que recebem os mestres.

A esse respeito, Filipe Nyusi deixou escapar que está ciente de falhas que fizeram com que alguns, sobretudo directores das escolas e chefes de secretaria, passaram a receber salários acima do que deveriam. Nestes casos, prometeu que serão resolvidos.

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