Márcia Mavie: A menina que fugiu do professor predador na escola

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Márcia Armando Mavie, hoje com 19 anos, reside no distrito de Moamba, propriamente no Posto Administrativo de Pessene, onde com apenas 14 anos de idade, na 8ª classe deixou a sua formação escolar para trás por causa do assédio sexual que sofria repetidas vezes por parte de um professor da sua antiga escola. Naquela altura Márcia morava com a sua mãe e dois irmãos mais novos. A mãe percebendo que a filha já não tinha vontade de ir à escola, perguntou o que se estava a passar e ela contou; a mãe não acreditou nas suas palavras e disse que era tudo parte de uma estratégia não ir às aulas, visto que a escola ficava a cerca de uma hora de caminhada.

Hoje, a mãe da Márcia se mostra arrependida por não ter acreditado logo nas palavras da filha pois nunca pensou que coisa do género pudesse acontecer vindo de um professor, pior, tendo como alvo a sua filha. Conta que naquela altura não deu a devida atenção ao assunto talvez porque todos dias saía muito cedo para vender no mercado local e retornava a casa por volta das 21horas.

“Eu saía para vender no contentor azul lá no mercado todos dias, e quando voltava as crianças já estavam a dormir e Marcinha só esperava até eu chegar e logo ia dormir. Eu só descansava aos domingos de tarde para segunda-feira sair logo as 5horas. Sou vendedeira há oito anos, tudo o que eu faço é para lhes fazer estudar e colocar comida na mesa, mas acabei errando em não lhes dar atenção”, disse Lídia Mavize, mãe de Márcia.

Marcia conta que ainda queria continuar a estudar, mas não se via passando pelas mãos do professor predador de física que tudo fazia para ficar junto dela. “Ele já nem escondia que me queria, algumas vezes ele me pegava a bunda e minhas colegas riam. Ele dizia que caso eu negasse de namorar com ele eu nunca havia de passar na disciplina dele, porque ele era o único professor de física na escola”.

E acrescenta, “só voltei a estudar em 2021 quando amigas me disseram que ele já não dava aulas naquela escola. E disseram que engravidou uma menina que o pai é polícia por isso lhe tiraram”.

Perguntada sobre o cenário que vivia na sala de aulas Márcia disse: “aquele professor dizia que não tinha 14 anos, que eu era muito grande para minha idade, dizia que estou a crescer bem”.

Hoje Márcia é mãe da pequena Rosa de 1 ano, e conta que para se certificar que não teria receio de fazer a matrícula na mesma escola que outrora sofreu assédio fez-se acompanhar da sua mãe para fazer matrícula para o ano lectivo 2023.

A história da Márcia confunde-se a história de vida de muitas raparigas sofrem caladas, abusadas e ainda em tenra idade se tornam mães e donas de casa; aliás existem muitas Márcias por aí, apenas estão sem voz para gritar pedindo socorro.

Aliás, dados do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) indicam que cerca de sete mil raparigas abandonaram a escola devido a gravidez precoce, e outras mil e duzentas por causa de casamentos prematuros, nos últimos três anos em todo o país.

De acordo com um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), publicado no ano passado, em Moçambique, nove em cada 10 raparigas ingressam no ensino primário, mas apenas 1.5% chega ao ensino secundário.

como tal, o documento revela que os casamentos prematuros, as gravidezes precoces e a fragilidade das leis são as principais causas de abandono escolar. É um cenário preocupante mas que, no entender da Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Carmelita Namashulua, não se esgota apenas nos esforços e medidas que a sua instituição deve tomar, sendo importante uma abordagem multissectorial na prevenção e combate contra todas as formas de violência contra a rapariga.

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