Sem solução a vista, transportadores moçambicanos acumulam prejuízos em vias alternativas

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  • Negociações não produziram efeitos e medo de vandalização permanece

Passados três meses após terem sido anunciadas conversações entre a ministra do Interior de Moçambique, Arsénia Massingue e o ministro sul-africano da Polícia, Bheki Cele, com vista a obterem soluções para ultrapassar a onda de ataques a viaturas particulares e de transporte de passageiros com matrícula moçambicana na região de Kwazulu Natal, na vizinha África do Sul, ainda não houve uma resposta satisfatória, o que faz com que transportadores nacionais da Rota Maputo-Durban continuem com receio de usar a fronteira da Ponta de Ouro. Para manterem as suas actividades, muitos introduziram seus veículos em rotas domésticas e enquanto outros passaram a aceder ao território sul-africano pela via de eSwatini [antiga Suazilândia] como forma de fugir dos ataques perpetrados nas vias anteriormente usadas, acumulando assim inúmeros prejuízos, pois acarreta mais custos pelo facto da via ser muito longa.

Desde que a 24 de Janeiro eclodiu uma onda de vandalização de viaturas com matrícula nacional do lado sul-africano, na rota Maputo-Durban reina um clima de medo e desamparo por parte dos transportadores nacionais que clamam por uma resposta que tarda em chegar por parte do Ministério do Interior, que não mostra nenhum desenvolvimento das negociações anunciadas com a contraparte da terra do Rand.

Até Março passado contabilizavam-se mais de uma dezena de carros particulares e de transporte colectivo de passageiros saqueados, vandalizados e incendiados na vizinha África do Sul, situação que obrigou aos transportadores nacionais a interromperem a circulação na via Maputo-Durban,  através da fronteira da Ponta de Ouro.

Apesar da detenção de uma pessoa e o anúncio de processos crimes contra cinco supostos malfeitores que se dedicava, a semear terror, transportadores moçambicanos continuam com receio de desafiar a via, sobretudo devido a ausência de uma resposta formal por parte do governo.

Falando ao Evidências, o presidente da Federação Moçambicana dos Transportes (FEMATRO), Castigo Nhamane, avançou que não se conhece o desfecho das conversações entre o Ministério do Interior com o seu homólogo sul-africano, com vista a acabar com os ataques a viaturas moçambicanas em Kwazulu Natal.

“Os transportadores deixaram de usar a via [de KwaZulu-Natal] por medo. Um avanço ou uma orientação clara do Governo que nunca houve. No início, fomos ditos que o Governo está a trabalhar à procura de solução, mas não sabemos se lá está calmo ou não”, avançou.  

Mais 123 quilómetros a mais na nova rota

Após somarem prejuízos por conta da paralisação do seu trabalho, e sem resposta das autoridades, os transportadores optaram em passar a usar a via que atravessa o Reino de eSwatini, o que acarreta muitos custos, dados os encargos fronteiriços e o facto da distância ser muito mais longa comparativamente a anterior via.

Usando a via alternativa, os transportadores têm 123 quilómetros a mais para chegar a Durban, devendo ainda lidar com sucessivos processos burocráticos e sem contar com a travessia de duas fronteiras.

“Os custos operacionais das viaturas na rota alternativa têm sido muito altos facto que fez com que houvesse redução significativa do número de transportadores dispostos a viajar a terra do rand. É preferível que os transportadores ganhem pouco do que perderem os meios, por isso, mesmo com os custos operacionais associados a via alternativa usada seja proibitivos e prejudiciais aos transportadores não houve reajuste das tarifas dos transportes pois o passageiro não tem culpa”, lamentou.

Evidências sabe que alguns carros estão parqueados, enquanto outros foram integrados em rotas domésticas menos rentáveis. Mas os problemas não param por aí. Mesmo na rota nova passando pelo eSwatinei já há relatos de perseguição de transportadores com matrícula moçambicana.

Numa na reportagem desenvolvida pelo Evidências, o académico e analista político, Wilker Dias, já havia alertado sobre a possibilidade de não haver avanços no processo das conversações da ministra do Interior com o seu homólogo sul-africano, pois Moçambique estaria tentando evitar um embate directo com o Governo sul-africano, pois é comercialmente dependente da África do Sul.

“O facto de haver uma longa relação de amizade entre o ANC e a Frelimo pode fazer com que Moçambique não tenha espaço para fazer pressão com vista a resolver o assunto em causa, optando em fazer vista grossa”, alertou na ocasião.

 

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