MANAS aposta no empoderamento econômico das raparigas para contornar a ausência dos centros transitórios no país

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  • “O empoderamento não resolve o problema porque os centros transitórios são bastante necessários não só para os casos de casamentos prematuros”
  • “As gravidezes precoces retardam todo o progresso do desenvolvimento do país”

Withney Sabino, jovem moçambicana que se iniciou no activismo com 14 anos de idade, criou a plataforma Manas, um espaço de partilha de mulheres para mulheres, de mulheres para Moçambique e de mulheres para o mundo, para partilhar informações relevantes sobre o que está a ser feito em Moçambique para que as mulheres tenham um futuro justo. Os casamentos prematuros e as gravidezes precoces continuam a tirar sono ao Governo e as organizações da sociedade civil. Actualmente, Moçambique não dispõe de centros transitórios para as raparigas resgatadas nas uniões prematuras. Para contornar a ausência dos centros transitórios, a MANAS aposta no empoderamento econômico da rapariga. 

Texto: Duarte Sitoe

Moçambique ocupa actualmente a 10ª posição na lista dos países mais prevalência de uniões prematuras. As organizações da sociedade têm travado uma luta cerrada contra o fenômeno em todo território nacional.

No entanto, em caso de resgate das raparigas que estavam nas uniões prematuras as mesmas debatem-se com a falta de centros transitórios, uma vez que o grosso das famílias se recusa a recebe-las de volta.

A MANAS, uma plataforma criada pela activista moçambicana Withney Sabino, aposta no empoderamento econômico das raparigas para contornar a ausência de centros transitórios.

“As raparigas têm estado a receber treinamento para o empreendedorismo e formas de geração renda. Elas têm estado a receber financiamento para as suas actividades dando a possiblidade delas contribuírem financeiramente nas suas famílias porque uma das principais razoes por detrás de entrega de raparigas para as uniões forcadas é a vulnerabilidade econômica das famílias, mas quando essas raparigas têm a oportunidade de contribuir para o agregado e se tem a possiblidade de se tornarem referência pelos negócios que desenvolvem a situação tendem de ser mais fácil”, referiu Withney Sabino para posteriormente instar o Governo para ser mais célere na resolução do problema da falta de centros transitórios

“O empoderamento não resolve o problema porque os centros transitórios são bastante necessários não só para os casos de casamentos prematuros, mas também da violência domestica. Não faz sentido que seja a vítima a levar a intimação para o agressor e não faz sentido que a vítima depois de denunciar tenha que voltar para o convívio com o agressor, é importante que o Governo comece a dar passos mais concretos em relação a isso”.

“As gravidezes precoces retardam todo o progresso do desenvolvimento do país”

Para disseminar informações sobre as uniões prematuras a MANAS tem uma parceria com o Fundo das Nações Unidas para a População, tendo para o efeito criado o programa Cantinho da Rapariga, espaço quem as mulheres que foram resgatadas das uniões prematuras contam as suas histórias.

Moçambique consta do rol dos cinco países com maior número de gravidezes na adolescência. Withney Sabino, que referiu que as gravidezes precoces nem sempre são resultados de uma relação sexual voluntária, declarou que a organização por si chefiada aposta na consciencialização das raparigas para que as mesmas adiram aos serviços de saúde sexual e reprodutiva.

“As gravidezes precoces continuam uma grande preocupação. Temos feito este exercício de consciencialização com as raparigas não só no sentido de adesão aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, mas também para a abstinência com vista a adiar ainda mais as relações sexuais. É importante dizer que a gravidez indesejada nem sempre é resultado de uma relação sexual voluntaria, há uma grande franja de gravidezes precoces que são resultado de abuso sexual, de violações que temos estado a denunciar massivamente”

Se por um lado, Sabino referiu que as gravidezes precoces retardam o desenvolvimento país. Por outro denunciou que há professores que abusam das raparigas nas zonas rurais.

“Nas zonas rurais há professores que abusam das raparigas e as raparigas acabam ficando gravidas, há raparigas abusadas pelos pais e opor pessoas na sua comunidade. O risco da gravidez precoce o risco contaminação por HIV. As gravidezes precoces retardam todo o progresso do desenvolvimento do país porque estamos a dizer que famílias pobres se tornam cada vez mais pobres. Meninas que já viviam em condições de extrema vulnerabilidade, as famílias estão a crescer de forma desproporcional”.

Nas entrelinhas, a fundadora da MANAS declarou que revogação do decreto que colocava as meninas gravidas no curso nocturno tem estado a melhorar embora a passos muito lentos

 

 

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