Investigador americano acusa Governo e Total de terem ocultado número de mortos no ataque a Palma em 2021

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  • Relatório de Perry aponta que 1357 pessoas foram mortas no “massacre” de Palma
  • “A TotalEnergies tem responsabilidade porque quando os insurgentes atacaram saiu e fechou os seus portões
  • “É ridículo a Total contratar este exército (moçambicano) para proteger pessoas

O Governo falsificou os dados do “massacre” de Palma. Este facto foi tornado público pelo jornalista e investigador norte-americano, Alex Perry. Enquanto o Executivo fala em dezenas de mortos, Perry, na base de uma investigação independente, aponta que os insurgentes mataram 1357 pessoas entre civis e trabalhadores das empresas subcontratadas pela TotalEnergies. O investigador norte – americano, que referiu que Moçambique é um Estado falhado, declarou que as Forças de Defesa e Segurança não tem capacidade para ombrear com os insurgentes. Alex Perry acusa ainda a TotalEnergies de não ter honrado o compromisso de garantir a segurança das pessoas que estão no perímetro do maior investimento estrangeiro de sempre no continente africano.

Texto: Duarte Sitoe

Os insurgentes atacaram a vila de Palma no dia 24 de Março de 2021, sendo que no dia 28 do mês em alusão o Ministério da Defesa Nacional convocou uma conferência de imprensa sem direito a perguntas para revelar que dezenas de pessoas morreram na sequência dos ataques.

“Um grupo de terroristas penetrou, dissimuladamente, na vila sede do distrito de Palma e desencadeou acções que culminaram com o assassinato cobarde de dezenas de pessoas indefesas e danos materiais em algumas infraestruturas do Governo” relatou o então porta – voz do Ministério da Defesa Nacional, Omar Saranga.

Enquanto o Governo fala de dezenas de mortos, o jornalista e investigador norte – americano, Alex Perry, na base de uma investigação que durou 15 meses, aponta que os dados revelados pelo Executivo foram sonegados, uma vez que morreram cerca de 1357 pessoas entre civis e trabalhadores das empresas subcontratadas pela TotalEnergies. Aliás, Perry, que revelou que gastou cerca de vinte mil dólares para fazer a investigação, classificou o “massacre” de Palma como o maior ataque da história do petróleo e gás, tendo acusado o Governo e a TotalEnergies de omitir dados.

 “Os dados estão em bruto, é provisório. Nós fizemos a contagem dupla, mas gostaria de ter uma auditoria independente, mas pretendia dizer a Total o que teria acontecido porque muito claramente eles não sabiam. Sou jornalista e estou interessado em factos. Havia um facto sobre o massacre de Palma que eu não sabia que era simplesmente quantas pessoas morreram. Demorei cinco meses e gastei 20 000 dólares para descobrir esse facto. O facto é que 1357 pessoas foram mortas. O Al Shabab foi impiedoso, a Total não fez contagem, eles são basicamente o poder na região. As autoridades moçambicanas também não contabilizaram, isso para mim parece uma omissão que quase parece deliberada porque tudo mundo está ciente de que algo terrível aconteceu, ninguém quer quantificar e eu quantifiquei porque é meu trabalho”, declarou Perry numa entrevista a RDP África.

O investigador norte – americano revelou que cerca de 184 pessoas no universo de 1357 são jovens, classificando o ataque a Vila de Palma como o segundo maior ataque terrorista de sempre.

“É importante saber que as mortes foram descriminadas, as idades variam entre os dois meses e os 105 anos. 184 crianças foram mortas e identificadas como menores de 18 anos. No dia 11 de Setembro de 2021 foram mortas mais de 3000 pessoas, mas aqui é a metade disso, sendo que na Síria e Afeganistão pessoas com menos de 20 anos chegam perto disso. Este é o segundo maior terrorista que alguma vez aconteceu. É pior desastre em 164 anos de história do petróleo e do gás”.

“É ridículo a Total contratar este exército (moçambicano) para proteger pessoas”

Alex Perry inocenta as Forças de Defesa e Segurança da responsabilidade pelos mortes e decapitações em Palma, porém declarou que as garantias de segurança por parte da Total e do Governo foram um autêntico fracasso.

“Acho que ninguém disse que o exército decapitou pessoas, então acho que foi o Al Shabab que decapitou pessoas. Tenho a certeza de que houve represálias é um exército muito indisciplinado, mas tudo na minha pesquisa indica que todas as mortes foram culpa do Al Shabab. A TotalEnergies vale dez vezes mais em relação a Moçambique. Este ataque era destinado a TotalEnergies. Eles não atacariam a total porque o complexo estava defendido, mas atacaram todos os trabalhadores que trabalhavam para a empresa e os que estavam fora da região.

“Tentei contactar a Total sobre os números, mas ficaram em silêncio ou ignoram. Estamos a falar de uma completa aberração de responsabilidade. As garantias de segurança foram um completo fracasso por parte da Total que garantia a segurança das pessoas dizendo que o exército ia protegê-las, mas não fez nada foi uma falha em todas as suas partes e eles não querem aceitar essa falha”.

Ainda na entrevista concedida a RDP África, Alex Perry vincou que foram os terroristas que mataram pessoas. No entanto, atira a culpa a multinacional francesa, visto contratou cerca de 600 militares para proteger as suas instalações e as pessoas que estão no perímetro do maior investimento estrangeiro de sempre no continente africano.

“A TotalEnergies tem responsabilidade porque quando os insurgentes atacaram saiu e fechou os seus portões, os gerentes entraram em helicópteros e foram embora. Eles abandonaram toda gente e como resultado 1357 pessoa morreram. A Total Tinha garantido segurança e quando aconteceu o ataque não cumpriu com a promessa, deixou as pessoas morrerem”, declarou Perry para posteriormente apontar que o exército moçambicano para além de ser incapaz é composto por traficantes de drogas e de produtos da vida selvagem.

“No mundo actual só uma entidade capaz, com exercício eficiente e disciplinado pode controlar uma guerra civil ou um grupo de rebeldes… Na verdade Moçambique é um dos estados mais corruptos do mundo, o exército é uma organização mafiosa que faz contrabando um pouco por todo mundo. Eles traficam pedras preciosas, peles de animais e drogas. A CIA nomeou Maputo como o maior exportador drogas mais de uma vez nos seus relatórios. Pedir ao exército moçambicano para agir como exército é o mesmo que pedir a um bando de traficantes para ser um exército, eles simplesmente não são capazes. Não se pode gastar tempo em exigir responsabilidade a este exército porque toda gente sabe que é uma instituição corrupta. É ridículo a Total contratar este exército para proteger pessoas. Moçambique é um estado falhado, o problema são as pessoas que se aliam a este fracasso e Total fez isso”

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