Um grupo de activistas e políticos moçambicanos decidiu realizar neste sábado, dia 24 de Junho, uma marcha em homenagem ao falecido artista Azagaia, pela liberdade e pelo direito à manifestação em Maputo, exactamente três meses após ter havido uma tentativa similar, porém mal sucedida por conta da repressão violenta da Polícia da República de Moçambique (PRM), que resultou em vários detidos, feridos e intoxicados pelo gás lacrimogéneo, porque segundo a PRM a marcha tinha em vista a materialização de um golpe de Estado.
“Nós decidimos marchar, uma vez mais, pela liberdade porque sentimos que há no país um retrocesso em relação aos direitos fundamentais dos cidadãos, muito especialmente em relação ao artigo 51.º da Constituição, que nos dá o direito de se manifestar e marchar”, declarou à Lusa Salomão Muchanga, activista, político moçambicano e organizador da marcha.
A última intervenção policial no passado dia 18 de Março deixou marcas na memória dos moçambicanos e de várias organizações da sociedade civil que a classificaram como sendo um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão e de manifestação no país.
Para a nova marcha, que visa exaltar “figuras que se bateram pela liberdade” no quadro das celebrações dos 48 anos de independência, que se assinalam no domingo, as autoridades foram avisadas e os organizadores acreditam que não se vão registar episódios violentos.
“Nós não podemos viver do medo, somos um povo livre […] Estamos seguros de que uma vez comunicadas as autoridades, dentro dos prazos estabelecidos por lei, está tudo garantido para que esta marcha ocorra”, frisou Salomão Muchanga.
A Lusa contactou o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), que confirmou que equipas serão enviadas ao terreno para “garantir a segurança das pessoas”.
“Não estaremos lá para agredir ninguém, mas a marcha não pode comprometer a tranquilidade e ordem públicas. Se ocorrerem situações de desordem, a polícia estará lá para chamar atenção a estas pessoas. Reiteramos o apelo para que tudo seja feito conforme a lei”, disse à Lusa o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique, Orlando Mudumane.
A iniciativa, promovida pelo partido político extraparlamentar Nova Democracia, visa exaltar, entre outros, os feitos de figuras como Eduardo Mondlane, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Samora Machel, primeiro Presidente do país, Afonso Dhlakama, falecido líder do principal partido de oposição (Renamo), Carlos Cardoso, jornalista morto em 2000 quando investigava uma fraude no extinto Banco Comercial de Moçambique, bem como o próprio rapper Azagaia.
A marcha começa por volta das 08:30 locais na Estátua Eduardo Mondlane, no mesmo local onde a repressão policial violenta contra jovens que tentaram marchar em homenagem ao rapper Azagaia em Maputo ocorreu, no dia 18 de Março.
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