Celebrando 48 anos da (in)dependência

EDITORIAL

Já são 48 anos da independência, estamos a menos de dois anos para meio século da constituição da República de Moçambique.

 

O valor simbólico da data não passa despercebido e por isso, é celebrado pelos moçambicanos que na sua maioria têm as memórias do jugo colonial intactas, contrariando a máxima de que os moçambicanos esquecem rápido. E para estes, que experimentaram também a sangrenta guerra civil, o sabor das celebrações do quadragésimo oitavo aniversário vem conjugado com a manutenção da paz, no contexto democrático, na medida em que pela primeira vez, desde a constituição de multipartidarismo, a data é celebrada sem o som ou ameaça das armas de uma oposição armada.

 

O mesmo não se diz das gerações que tem o retrato do jugo colonial a partir dos manuais da história, e aquele passado negro constitui uma vitória do passado, e não se pode viver dela, sendo este um tempo onde são necessárias novas vitórias que façam jus os desafios da actualidade e não do valor simbólico da independência.

 

É neste último grupo que está a grande maioria da população moçambicana, constituída maioritariamente por jovens que não se contentam por uma glória do passado que por mais virtuosa e significativo que seja, é apenas vitória do passado.

 

Estamos neste grupo que quando hoje ouve o “viva a independência”, não nos ocorre a vitória contra os portugueses, contra os inimigos de ontem e amigos de hoje, ocorre-nos a liberdade que temos ou que devíamos ter de tomar as nossas decisões sem pensar nos não moçambicanos. Ocorre-nos a liberdade de falar de orçamento do Estado sem pensar em mendigar qualquer parceiro, ocorre-nos a possibilidade de pensar no desenvolvimento sem a maldita bênção do FMI ou Banco Mundial, ocorre-nos pensar na habitação cuja terra pertence ao Estado sem o suborno institucional; seria sim a independência exercer o jornalismo sem receio da intimidação do libertador de ontem, seria igualmente a independência o não desgostos de ver a soberania nacional hipotecada a agentes externos em nome de garantia de segurança. Esta falha é o ponto mais alto do fracasso governativo e que olhamos de ánimo leve e pouco fazemos para garantir que num futuro próximo chamemos um país como Ruanda para garantir a segurança dos moçambicanos.

 

A nossa ânsia pela actuação da justiça estrangeira no país; a intervenção estrangeira para garantir a sustentabilidades das empresas nacionais; a incapacidade de ter um plano de desenvolvimento a longo prazo como Nação, sem depender do partido A, B, C e dos Chefes sem consciência da unidade nacional, é um retrocesso no capítulo da independência e distorce qualquer conceito de um país independente.

 

Sem nem a terra é garantida aos moçambicanos e nem o desenvolvimento flui sem intervenção externa é seguro nos assumir como independentes?

 

Meio século não é suficiente para tamanha ambição. Dirão alguns. Mas é a partir de quando é que o país deve estar orientado para o desenvolvimento? Quantas gerações são necessárias pelos menos para que tenhamos uma estrada nacional que ligue todo o país? Ou para que pelo menos na capital, não se assista a digressão na saúde, nos transportes e a destruição da educação? Somos tão incapazes de manter até as pequenas conquistas a ponto de arriscar destruir todo o país em benefício estomacal? Viva a paz! Viva a liberdade da (in)dependência.

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