Theunis Crous paga férias luxuosas do ministro Magala

DESTAQUE POLÍTICA
  • Ministro tornou-se no advogado da FMA, a ponto de mentir pela empresa
  • TravelPort suspende emissão de bilhetes da LAM por falta de pagamentos
  • De 10 milhões meticais de diárias, as receitas baixaram para menos de 4 milhões
  • Cargueiro alugado há quatro meses, inaugurado há duas semanas, ainda não tem documentação para voar.
  • Em 11 meses de intervenção, relata-se passagem de oito consultores, que facturam da LAM 60 mil rands por semana.

Dívidas, atrasos contínuos, problemas de combustível e de manutenção, misturam-se agora com novos problemas de gestão na LAM. Na sexta-feira (22) passada, a empresa viu-se suspensa do sistema TravelPort por falta de pagamento. Recentemente, em Lisboa, o voo teve atraso de duas horas devido a discussão de contas. Mas não são só as dívidas que mancham a companhia da bandeira, que curiosamente paga pontualmente aos fornecedores sul-africanos. Há problemas de segurança para os passageiros. No último sábado (23), o Q400, com matrícula AOW, que fazia Chimoio- Maputo, rebentou dois pneus ao aterrar no Aeroporto Internacional de Maputo. Apesar de serem problemas visíveis, são por alguma razão ignorados a nível político, onde, afinal, a Fly Modern Ark (FMA) tem um “padrinho”, o ministro de Transporte e Comunicações, Mateus Magala, que viu suas férias de Janeiro pagas pela LAM em Cape Town, sob ordem de Theunis Crous, gestor da FMA, recentemente nomeado director geral da LAM em circunstâncias estranhas.

 

A nova gestão da LAM irá completar esta semana, um mês desde que foi nomeada interinamente e 11 na qualidade de gestor. Apesar de reticências do IGEPE (Instituto de Gestão das Participações do Estado), Fly Modern Ark (FMA) recebeu do ministro Magala garantias de que irá renovar o contrato para ficar por mais de um ou dois anos, ignorando o caos que a FAM representa à LAM.

Em termos numéricos, relata-se admirativamente uma redução nas receitas diárias de 10 milhões de meticais para quatro milhões, num contexto em que as despesas aumentaram em mais de 200%.

A redução de tarifas, aberturas de novas rotas, pagamentos de favores, aliado a pagamentos aos consultores contratados para “assessorar o consultor” estão por detrás desses números.

Não há relatório público para confirmar esses dados, mas das várias aparições da FMA ficou evidente que a empresa não tem dificuldades de viciar informações para manipular a opinião pública ao seu favor.

Aliás, Magala, que várias vezes é chamado para intermediar os problemas de combustível, como se viu nos dias 16 passado e no dia 11 de Fevereiro, “baniu” Sérgio Matos de falar à imprensa. O envolvimento do ministro na FMA, a ponto de mentir em nome da empresa sul-africana, não deixa dúvidas de que a relação entre estes transcende as relações profissionais, embora há quem suspeite de envolvimento de famílias a nível mais acima do que a do ministro.

Foi Magala que defendeu que “o Governo tem vontade de recuperar a LAM, mas não tem dinheiro” e deu garantias de que para salvaguardar os postos de trabalhos de muitas famílias, “optou-se por um modelo de gestão combinada. Em que um parceiro com capacidade financeira faria parte da LAM para em conjunto gerir a empresa”. Tal parceiro seria a “FMA, uma empresa Sul africana experiente no ramo da aviação civil e com robustez financeira e técnica” que serviria de tábua de salvação à LAM. Este parceiro entraria na LAM com: aeronaves; financiamento e capacitação técnica de recursos humanos.

Em todas estas palavras, Magala mentiu, tanto na robustez da inexperiente FMA, assim como nas soluções que este ia trazer, até no modelo de compensação.

FMA ordenou pagamento de 77 833 Rands para ministro relaxar em Cape Town

A empresa não fez nem um quarto do que devia fazer. No entanto, recebeu de si avaliação positiva, apesar de reconhecer o insucesso, justificando, no entanto, nos corredores, que não teve devido a “sabotagem” de administração de João Pó Jorge. Pó Jorge foi exonerado já há um mês, e os problemas quase que dobraram, não só para LAM, mas também para as participadas pela LAM. Só para se ter ideia, desde que Theunis ascendeu ao cargo, empresas como MEX, a MAHS, a SMS, a LIMPEX estão numa situação de quase falência. A lista de fornecedores não pagos envolve todos os fornecedores nacionais e estrangeiros, com excepção dos fornecedores sul-africanos, que são pagos pontualmente, o que indicia uma gestão danosa. O consultor não conseguiu salvar a LAM e tenta assaltar as participadas.

Alias, a gestão danosa não é apenas um indício, ela existe. Numa altura em que a empresa se ressente da falta de tesouraria, Theunis ordenou pagamentos de hotel em Cape Town a favor do Magala, em Janeiro passado, que só de hospedagem custou aos cofres da já financeiramente debilitada LAM, um valor exacto de 77 833 Rands num quarto presidencial de luxuoso hotel da F Internactional. Foi um presente do actual DG ao Magala, que estranhamente viria a ser pago pela LAM, o que na interpretação de alguns tratou-se de um golpe. “Factura devia ter sido paga pela FMA”, disse uma fonte familiarizada com o processo.

Anteriormente, Magala teria garantido que seria com a FMA que seriam resolvidos os problemas de avarias constantes das aeronaves; falta de refeições à bordo; atrasos dos voos; pilotos despreparados; frota diversificada e obsoleta; dívidas acumuladas e insustentáveis. É só comparar com a realidade actual para se ter a dimensão do retrocesso. Em cada queixa ou impasse, Theunis cria uma perceção de que actua em nome do ministro, sem ordem, sem despacho, seguindo ordens verbais. Até porque na primeira factura dos 75 mil USD, paga à FMA, Magala teve que emitir um despacho de conforto quando os departamentos financeiros e jurídico da LAM mostraram resistência de pagar a factura de um gestor que viria com dinheiro, e não para cobrar dinheiro.

LAM suspensa da TravelPort

Desde a última sexta-feira que as agências de viagens estão limitadas de emitir passagens na Plataforma TM, da TravelPort. Em causa está a falta do pagamento cujos números o Evidências não conseguiu apurar. O Sistema de Distribuição Global Travelport é uma importante plataforma electrónica que conecta fornecedores do sector de viagens, incluindo companhias aéreas, hotéis e locadoras de veículos, com agências de viagens em todo o mundo. Mais de 80 porcento dos bilhetes da LAM são vendidos pelas agências e destas, mais de 75 porcento, usam plataforma da TravelPort.

As dívidas tendem a crescer e não são poucas as vezes que a empresa teve de ser ameaçada para proceder com o pagamento. Em Lisboa, só com os aeroportos, a LAM tem uma dívida de 300 mil euros, enquanto que com a CateringPor teve de ser ameaçada para reduzir a dívida de 160 mil euros. Já com a EuroAntlatic, a quem deve pagar 1 milhão e 400 mil euros mensais, já teve casos de receber ultimatos para proceder com os pagamentos. Assim procede em Dar Es Salaam, Lisboa e Maputo, no entanto, o cenário é totalmente diferente na África do Sul.

Mas não são apenas as dívidas ou pagamentos a elite política que apoquenta a LAM. A nível de segurança o cenário é pior ao representar uma insegurança a empresa. No sábado (23) passado, o avião Q400, com matrícula AOW, que vinha de Chimoio, rebentou dois pneus ao aterrar em Maputo. Problemas de avarias de aviões são cada vez mais comuns.

Há também problemas que indiciam incapacidade administrativa. É que a FMA, embora seja uma empresa de Consultoria, tem estado a contratar consultores de origem Sul Africana e tornou a LAM um centro de desfiles de consultores. “Na Direcção Técnica, nos meados de 2023, desfilou um consultor com ordenado de 60 000 rands por semana. Rececentemente foi contratado um outro nas mesmas condiçoes salariais. Na Direcção de Operações, também há neste momento dois consultores, ganhando cerca de 71 000 rands por semana. Há também dois consultores para a Direcção Comercial.  O próprio DG tem dois consultores. Um, para assuntos transversais e outro, para a área financeira”, relata uma fonte da empresa.

Num documento intercetado pelo Jornal, que arrola os problemas administrativos da LAM, lê-se “num espaço de dez meses ja desfilaram na LAM, mais de oito consultores, mas os resultados dessas consultorias não são conhecidos e quase todos são provenientes da África do Sul. Portanto, o pagamento é feito em Rands, numa periodicidade semanal e sem dedução dos respectivos impostos ou retenção na fonte”, colocando a LAM num exportador de divisas.

Cargueiro lançado há duas semanas continua ancorado no Hangar

Em meio a denúncias de gestão questionável, com incapacidade a mistura, as Linhas Aéreas de Moçambique lançaram, no dia 13 passado, o transporte exclusivo de carga com capacidade para 17 toneladas por voo. O avião inaugurado está em Maputo desde Dezembro passado.

A FMA contratou um cargueiro sem estudo prévio sobre o volume de negócio que este cargueiro iria movimentar. “Desde Dezembro de 2023, aos dias que correm, esse cargueiro nunca realizou sequer um voo, e a LAM já desembolsou cerca de 266 000 dólares, em rendas de aluguer e neste momento o fornecedor faz pressão para que sejam pagas todas as facturas pendentes”, narra uma fonte que pediu anonimato.

Há duas semanas que o avião foi lançado, o Cargueiro não está a voar não por falta apenas de carga, mas o Evidências apurou que afinal não tem toda certificação e nem tem instrumentos de apoio para manuseamento de carga, é tudo feito a mão.

Neste e noutros aviões, os contratos de aluguer de aeronaves celebrados pela FMA são em regime de ACMI. ACMI é o acrónimo em inglês para Avião, Tripulação, Manutenção e Seguro. Este modelo torna os custos “mais onerosos e asfixiantes e os arrendadores são sul-africanos.  Neste momento, há no Hangar da LAM um avião Q400 com o motor avariado, mas a FMA não se preocupa em reparar este avião e a LAM está a pagar rendas por um avião que nada produz. O foco da FMA está na priorização de aluguer de aeronaves sul-africanas e em regime de ACMI. ACMI só é justificável quando existe probabilidade de altos encaixes financeiros e a curto prazo”, explica a fonte.

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