- As estranhas conexões de Christian Malanga em Moçambique
- Pai e filho, com nacionalidade americana e negócios em Moçambique, apanhados na tentativa de Golpe de Estado
- No ano passado, Malanga afirmou ter discutido as semelhanças de Cabo Delgado e Leste de Congo com Alberto Chipande
O suposto líder da tentativa do Golpe de Estado na República Democrática de Congo (RDC), Christian Malanga, morto neste domingo (19), tem, afinal, fortes ligações com Moçambique, onde é dono de empresas que actuam em sector mineiro, “coincidentemente”, com fortes atenções em Cabo Delgado (e não só), onde sete anos depois do surgimento da insurgência permanecem especulativas as razões da insegurança. Sem conotação visível, tem em Moçambique, para além de negócios com dois sócios americanos em duas empresas, mantido encontros com altas figuras, como são os casos de Alberto Chipande, um general na reserva, com quem já discutiu a situação de insurgência no Norte.
No último domingo, a imprensa internacional anunciou uma suposta tentativa de Golpe de Estado na RDC. Entre os golpistas estava Christian Mussumari Malanga, que ao vivo nas redes sociais estava acompanhado de perto de 50 homens, incluindo três americanos, que viriam a ser detidos pelas autoridades militares daquele país.
Entretanto, Christian M Malanga, que estava acompanhado do seu filho, Marcel Malanga, foi morto no local (arredores do palácio do Presidente da RDC, Félix Tshisekedi), e o seu filho foi detido.
Nas suas redes sociais, Christian se autoproclamava Presidente da RDCongo. Tem um histórico militar – foi oficial das tropas congolesas.
Entre as motivações por detrás do ataque consta que Malanga, de 41 anos de idade, não concorda que o antigo Zaire se chame República Democrática do Congo (RDC). A polêmica à volta do nome Zaire é antiga, começa em Maio de 1997.
Essa mudança de nome ocorreu após a queda do regime do ex-presidente, Mobutu Sese Seko, que havia governado o país desde 1965.
Naquele ano, em 1997, o então líder rebelde, Laurent-Désiré Kabila, que liderou a Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo (AFDL), assumiu o poder e renomeou o país para República Democrática do Congo.
Christian Malanga nasceu em Kinshasa, a 2 de fevereiro de 1983. Ele é um ex-oficial militar congolês que reside nos EUA.
Actualmente, é presidente do Partido Congolês Unido (PCU), um partido político nacionalista que formou após as suas experiências durante as eleições parlamentares de 2011.
Já em maio de 2017, o “Novo Zaire” nasceu oficialmente quando o Presidente Malanga criou um governo no exílio em Bruxelas. E depois dessa aparição sumiu dos radares, tanto no activismo como na política.
“Fortes e estranhas” ligações em Moçambique
É coincidentemente no período que desaparece na política que o ex-oficial tem presença forte em Moçambique, abrindo empresas no sector mineiro. De acordo com o Boletim da República que circula nas redes sociais, Malanga era sócio da Bantu Mining Company, uma empresa envolvida em actividade mineira, criada em Julho de 2022.
Christian Malanga, identificado como congolês no acto de registo de empresa em Moçambique, detinha 33,3% da empresa da Bantu, contra 33,4% de Cole Ducey, americano, e 33,3% de Benjamim Polun, também americano.
No entanto, quatro meses depois, os três accionistas decidiram mudar a estrutura, tendo Cole Ducey passado a controlar 99,72%, contra 0,14% de Malanga e igual porção para Polun. A empresa dedica-se à pesquisa e exploração mineira, compra e venda de minérios.
Os três registaram também a Global Solutions Moçambique, onde Malanga controlava 55%, contra 45% de Polun. A firma registada em Chimoio, província de Manica, em Setembro de 2022, actua na área de mineração, construção civil, segurança, educação e saúde.
Em Abril de 2022, Malanga, Polun e Ducey abriram a CCB Mining Solutions, onde cada um controlava 33,33% das acções, também envolvida em actividade mineira.
Um outro dado que não passa despercebido é o seu encontro com o general Chipande, registado num vídeo partilhado por Malanga, no próprio perfil, há menos de um ano, em que aparece afirmando ter discutido as semelhanças de Cabo Delgado e do leste do Congo.
“Foi uma honra discutir com o revolucionário e fundador de Moçambique, General Alberto Joaquim Chipande. Cabo Delgado e o Leste do Congo enfrentam actualmente muitas semelhanças. Agradeço à liderança de Moçambique por aconselhar o #NewZaire na reforma da segurança”, escreveu o líder que se autoproclamava governante da RDC.
Conexão entre negócios e terrorismo em Moçambique e Congo?
Desde que começam a surgir as primeiras imagens e evidências que conectam Malanga e seu grupo a Moçambique, vários segmentos da sociedade iniciaram a conjenturar uma provável conexão entre o negócio do sector mineiro em Moçambique e Congo, com um provável financiamento ao terrorismo nos dois países.
Agora suspeita-se que as empresas mineiras em Moçambique e Congo possam ser usadas como plataforma de financiamento de movimentos rebeldes e terroristas nos dois países, uma hipótese a não descartar, sobretudo pelo facto de as actividades das empresas circunscreverem-se à região de Cabo Delgado.
Entretanto, até ao fecho desta edição o Governo moçambicano, seja através do Ministério dos Negócios Minerais e Energia, seja através de outra entidade, ainda não se havia pronunciado.
Malanga cresceu em Ngaba, em Kinshasa, e morou na África do Sul e na Suazilândia antes de se estabelecer nos Estados Unidos.
Este é um golpe que se vem juntar à situação de conflito vivida pelo país na sua fronteira norte, com o M23, e onde há muito Tshisekedi acusa o Ruanda de ter uma forte implicação.
A Embaixada dos Estados Unidos condenou a tentativa de golpe de Estado ocorrida este domingo na República Democrática do Congo (RDC) e anunciou que investigará se um dos seus cidadãos está envolvido nos acontecimentos, conforme informaram alguns meios congoleses.
“Estou chocado com os acontecimentos desta manhã e muito preocupado com os relatos de cidadãos americanos alegadamente envolvidos. Tenha certeza de que cooperaremos ao máximo com as autoridades da RDC enquanto elas investigam esses atos criminosos e responsabilizam qualquer cidadão dos EUA envolvido”, lê-se em comunicado da embaixadora norte-americana no país, Lucy Tamlyn, na rede X.
Golpistas já tinham tomado edifícios oficiais
Apontado como líder do Movimento Novo Zaire, Malanga teria morrido durante a acção, segundo a imprensa congolesa.
“Uma tentativa de golpe de Estado foi cortada pela raiz pelas forças de defesa e segurança”, informou, no domingo, o porta-voz das Forças Armadas do país, Sylvain Ekenge, numa breve mensagem transmitida pela televisão pública e disseminada pelos media internacionais.
Os agressores, “congoleses e estrangeiros”, foram presos e a situação está sob controlo, disse Ekenge.
Durante a madrugada, o activista da diáspora congolesa, Christian Malanga, que afirma ser um ex-militar, publicou vários vídeos ao vivo na sua página do Facebook mostrando um grupo de homens armados em uniforme militar no saguão e nos jardins do Palácio da Nação, a residência do Presidente Félix Tshisekedi.
Segundo fontes locais, Malanga foi abatido pelas autoridades durante essa incursão em edifícios oficiais.
Os agressores queimaram bandeiras do país enquanto carregavam bandeiras do Zaire, o antigo nome da República Democrática do Congo.
“Aproveitem a libertação do nosso novo Zaire”, gritou Malanga em inglês, enquanto os outros homens também falavam em francês e lingala, uma língua bantu usada no noroeste da RDC e em grande parte do vizinho Congo.
Os agressores alegaram ser da diáspora e ter trazido os seus filhos com eles, além de estarem a lutar para tirar Tshisekedi do poder, de acordo com a imprensa local.
Os homens armados também invadiram a residência do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da RDC, Vital Kamerhe, num ataque que deixou pelo menos três mortos: dois polícias encarregados da segurança do político e um agressor.
“Kamerhe e a sua família estão sãos e salvos. A sua segurança foi reforçada”, declarou o porta-voz do ministro, Michel Moto, numa mensagem publicada nas redes sociais.
A embaixada norte-americana na RDC anunciou que está a investigar o suposto envolvimento dos cidadãos americanos na tentativa de golpe.
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