Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 9

OPINIÃO

Felisberto Botão

Não se incomode com o racismo

O livro “Capitalist Nigger”, de Chika Onyeani, jornalista aclamado internacionalmente, refere-se a um provérbio africano que achei muito adequado para iniciar este artigo:

“Não é como você me chama, mas ao que eu respondo, que mais importa”.

Não se incomode com o racismo, ele representa uma expressão de inferioridade espiritual. Simplesmente despreze o racismo e o racista, são manifestações de inferioridade e paranoia. O racismo é uma das grandes conspirações contra a raça humana, e exacerbada no africano. Foi orquestrado de forma tão agressiva, a nível físico, mental, social, e espiritual, que o próprio africano passou a acreditar que é inferior, e que vale menos.

O racismo é um crime hediondo. O racismo já tem séculos de vida e continua sendo praticado em todo mundo, de forma impune, e isso só é possível porque é uma ferramenta de expressão de supremacistas brancos, a mais importante por sinal, e sustentada pelo sistema internacional que está sob o seu domínio, aquilo a que o Vladimir Putin, da Rússia, chama de Vampiros.

Na verdade, o racismo é uma consequência de um problema mais profundo, que resulta do facto de os brancos terem desenvolvido uma psicose de risco de extinção, resultado de uma potencial revolta global dos africanos, quando descobriram a dominância da raça africana com relação a melanina, genoma e por eles representarem a minoria na população mundial, cerca de 11% (de acordo com as estatísticas de 2021).

Os brancos têm consciência muito clara da superioridade do africano, só não deixa que você também saiba, de tal forma que até hoje continuam a trabalhar para apagar vestígios do avanço do africano em relação a eles, e mantêm uma vigia permanente. As ruinas do Grande Zimbabwe, as caves do monte Mapungubwe, as minas de ouros e o calendário de Inzalo Ya Langa, na África sul, e as pirâmides do Sudão e do Egipto, são exemplos claros deste processo.

África é a maior de todas as conquistas dos europeus, na verdade a maior de um povo sobre o outro, a todos os níveis, primeiro por representar uma reserva infinita de recursos, e segundo por representar a conquista de um povo muito superior a si. Quando por força de circunstâncias, você conquista e domina alguém muito superior, isso não lhe deixa tranquilo, por medo da vingança, dai a grande paranoia do branco com relação a necessidade de controlar e monitorar o africano, em todo o mundo.

Como Deepak Chopra diz, “a necessidade de aprovação, a necessidade de controlar as coisas e a necessidade de exercer poder externo sobre os outros, são necessidades baseadas no medo”. Este é o estado permanente da raça branca, e pela forma como conspiram para controlar o mundo, acabam arrastando a todos os outros povos a entrar nessa sua paranoia do medo.

Veja-se a paranoia com relação a Rússia e a China, uma psicose absoluta.

Este conhecimento é de extrema importância para o africano, para permitir a sua libertação mental, pois as mentiras dos estereótipos e propagandas contra si, baseadas no medo infundado de quem as espalha, têm um impacto muito grande na sua forma de estar, pensar e agir.

A violência física, mental e social, de forma prolongada, afecta a dimensão espiritual da pessoa ou comunidade, o que resulta na mudança de paradigmas desta comunidade. Com a mudança de paradigma, a manipulação poderá ser orquestrada ao bel prazer, dentro de uma nova realidade e crenças.

Você pode criar novos significados e nova realidade, com a força do seu pensamento, sua determinação e seu comprometimento. Não tente ser aceito pelo europeu e outras raças, ou ser incluído no seu modelo social, você não precisa disso.

Para o próprio cidadão comum branco, muitas vezes também enganado pela narrativa, é um pouco desagradável descobrir que a pessoa que ele passou a vida a chamar de pobre, a sentir pena, é na verdade esta pessoa que o alimenta e sustenta todas as suas mordomias, e morreria de fome, se esta pessoa despertasse e conseguisse fechar as suas portas aos roubos sistemáticos ao governo do branco.

O racismo motiva uma perturbação espiritual tal, que ser africano está associado a medos profundos e inexplicáveis, que geram impulsos de rejeição ao semelhante, e tendência de distanciamento de tudo o que lhe está associado. Isso explica o ódio do semelhante, a falta de confiança no semelhante, e a competição com o semelhante. Estes impulsos, dependendo de circunstâncias e a natureza do estímulo, podem transformar-se em violência e até atentado à vida do semelhante.

Recentemente tivemos um caso triste no parlamento do ECOWAS, onde o parlamentar senegalês Guy Marius Sagna, estava a fazer a sua apresentação, a explicar os seus pares que não é verdade que os países da África ocidental representam parte dos 13 países mais pobres do mundo, pois a verdade é o contrário. Que isso se devia a mentes colonizadas do povo e os presidentes marionetes da europa, que governavam aqueles países sem nenhum senso de nação, repetindo os mesmos erros por mais de 50 anos, e esperando ver mudanças. Isso foi suficiente para uma senhora, membro do pódio, perder as estribeiras e andar aos gritos, e até descer do pódio para confrontar fisicamente aquele parlamentar. Notava-se claramente que ela estava a agir de medo de algo muito sério e profundo, que só ela podia explicar. Parecia que o parlamentar estava a tocar num assunto proibido, e que poderia resultar em represálias para todos.

Há uma explicação aceitável no campo da psicanálise, que tem a ver com a manifestação do mecanismo de defesa de “deslocamento” de acções de um alvo desejado para um alvo substituto, quando o primeiro alvo não é acessível. Nesta perspectiva, o pressuposto é que a maioria dos africanos carrega a dor da escravatura e da colonização no fundo do seu ser, e isso acumula energias negativas dentro de si, que precisam ser libertadas.

As independências não resolveram o problema do africano, as eleições democráticas e troca de liderança não resolveram o problema do africano, a religião não resolveu o problema do africano, a globalização não resolveu o problema do africano, e, no entanto, continua vendo no seu meio, na sua terra, brancos gozando dos privilégios pelos quais tanto luta, e tanta esperança alimentou.

Entretanto, não vê neste branco nenhum sinal de remorso, nenhum sinal de interesse de reparo dos estragos causados durante séculos, pelo contrário, ele se mostra orgulhoso de ser merecedor destes privilégios e continua empenhado em preserva-los.

Toda tentativa que o africano tem feito para tirar o branco do seu caminho, de forma sistematizada ou isolada, redundam no fracasso, porque todo sistema internacional, incluindo os governos africanos, foi desenhado pelo branco para defender seus interesses. O que acontece? O africano, não podendo alcançar o branco, que no seu subconsciente sabe que é a causa dos seus problemas, ele vai descarregar a energia no alvo acessível que ele tem, que é o seu irmão preto, e para isso, vários motivos são invocados, que não passam de uma justificativa.

Assim, assistimos a genocídios, a xenofobia, massacres e decapitações, insurgências, violência pós-eleitoral, perseguições institucionais e singulares, extorsão ao semelhante, dentro e fora do continente, intrigas e disputas familiares, até mortes, enfim, são vários exemplos de descarga de energia que assistimos ao longo dos anos um pouco pela África e na diáspora, que quando buscamos razões plausíveis para os mesmos, na lógica comum, não achamos.

Oficialmente já não há racismo, e nós temos todos os direitos e igualdade social em qualquer parte deste mundo de direitos universais. Isso é uma construção do branco, o “politicamente correcto”, falar de racismo tornou-se um tabu, e um desconforto entre nós os negros, tanto no continente como na diáspora.

Se não for interrompido o curso dos acontecimentos, com relação ao racismo sistémico em África, vamos assistir ao surgimento de guerras civis em algumas sociedades como África do Sul, Zimbabwe, Moçambique, Angola, República Democrática do Congo, entre vários outros países, pois o africano quer se libertar, mas está confuso sobre “libertar-se de quem”.

O racismo é um crime hediondo, um crime contra a humanidade, que você deve combater a partir de dentro de si, reconhecendo que se trata de uma grande farsa, e um desespero do caucasiano, que sente necessidade de controlar as pessoas para exercer o poder e roubar recursos, e infelizmente sustentado pela maioria dos líderes africanos.

O racismo não é condenado pela ONU porque esta instituição também é racista, um instrumento do neocolonialismo, que tem cometido crimes hediondos contra África, como o da Líbia, o Chade, República Centro Africana, o Mali, República Democrática do Congo entre outros, com falsas missões de paz, contra a vontade dos visados.

Lembre-se de interiorizar esta máxima, pois você é muito superior: “Não é como você me chama, mas ao que eu respondo, que mais importa”.

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