Nos últimos dez anos, cerca de 150 empresários abandonaram o país devido à insegurança, precipitada pelos raptos e sequestros. Os que ficam depois de contacto com os raptores são obrigados a pagar uma taxa de liberdade. Nesse mesmo intervalo, o Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFiM) registou que 2 079 milhões de meticais foram movimentados por este negócio. O investimento Direto Estrangeiro (IDE) em Moçambique, que estava na casa dos seis mil milhões de dólares em 2014, baixou para 2.5 mil milhões em 2023. Estas são as primeiras consequências mensuráveis de um negócio movido por meliantes que torturam suas vítimas e deixam traumas psicológicos que levam tempo para serem superados, senão incuráveis.
Temos ainda as consequências não calculadas dos níveis de desempregos; o desinvestimento dos que não sabem se ficam ou renovam sua experiência nas promessas vazias de um Executivo alérgico a integridade e a consciência colectiva; e a projeção do país a nível internacional. Enquanto os que ficam são obrigados a pagar a taxa de liberdade, os que vão mantêm as empresas a funcionar no mínimo, apenas para manutenção das empresas e pagamento de salários, enquanto aguardam pela vontade política. Essa redução traduz-se em quedas de receitas e de poder de compras nas famílias. E se tivermos em conta que são empresas que se dedicam à importação, teremos a ideia clara dos níveis de perda para a Autoridade Tributária, que privilegia impostos alfandegários em detrimento de impostos internos. Tudo isso nos conduz ao que já sabemos como país, as poucas esperanças de que um dia seremos desenvolvidos.
Este retrato, para países sérios, seria suficiente para despertar as autoridades a tomarem medidas arrojadas, uma responsabilização pública, ao menos dos gestores com incapacidade comprovada de resolver o problema, mas só para se ter uma ideia, o comandante-geral é o mesmo, os criminosos continuam a recorrer o mesmo modus operandi e as vítimas são as mesmas.
Não temos qualquer evidência a nível mais alto de que o Estado está comprometido com este problema, que depende exclusivamente da vontade política, que se recusa a activar as soluções que estão por cima da mesa, o único sinal emitido foi a promessa de criação de uma unidade de ante-rapto, mas não passou de uma mentira e ninguém foi responsabilizado por esta burla. Nem a pessoa que se comprometeu publicamente. Mas, mesmo sem essa unidade, existem as câmeras de vigilância instaladas nas cidades de Maputo e Matola, cidades onde os crimes mais se concentram, mas, em meio aos gritos, estes nunca foram activadas ou servem os interesses obscuros, numa sociedade onde está cristalina a ideia de que os raptores que aterrorizam os empresários triunfam graças a penetração que lhes facilita ter informação privilegiada dentro dos bancos e das forças operativas, a SERNIC e a PRM.
Choca o silêncio ao mais alto nível, diante de acções que expõem o país, minam a produtividade e ameaçam o crescimento económico a curto e médio prazo. Não há qualquer estímulo a economia quando a vida do investidor está ameaçada e não se deve redimensionar os raptos para uma preocupação de apenas pessoas com ascendência asiática, só a exibição de armas no centro da cidade, a alguns metros da Presidência da República, AR ou Comando da PRM, é uma ameaça coletiva e não apenas da vítima.
As recentes declarações do Chefe do Estado, de que se deve apresentar ao menos um mandante, é a ilustração mais palpável de um desnorte do Executivo, que não consegue prover soluções, mesmo a porta de saída. Faltam menos de sete meses para o fim do mandato, não há desgraça maior que ser lembrado como aquele que teve um consulado que chegou a registrar três raptos em menos de duas semanas.
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