O silêncio do MNEC face às denúncias de racismo

EDITORIAL

Moçambique, à semelhança dos demais países da África negra, constrói-se sobre as cinzas do colonialismo, uma batalha secular que terminou com o negro a impor-se, depois de décadas da busca de afirmação, na sua própria terra. O fim desta guerra enterrou o preconceito e a rejeição com base na cor da pele e o racismo não mais foi debate, sob o risco de estarmos a desenterrar um mal social que supostamente morreu com o passado, afinal, até o inimigo secular transformou-se num amigo mais afável, com privilégios em todos sectores que configuram pilares do nosso Estado. Os traços de legado racial deixados pelo colonialismo foram expurgados com perdão e construiu-se a convicção quase certa de que as gerações que viriam depois de 1975 não mais experimentariam essa rejeição e nem discriminação com base na cor, mas debalde. Afinal, basta um pouco de atenção para escutar que nessa nossa sociedade existem compatriotas que nas relações que vão desenvolvendo no seu dia-a-dia passam por episódios amargos e chegam a desistir de sonhos porque um fulano, que tinha poder de autorizar um visto, mostrou o total desrespeito por julgar a sua textura da pele superior.

 

Não obstante ver nos grupos das redes sociais anúncios de casas arrendadas que deixem no rodapé a preferência de serem ocupadas por um casal de brancos. Nesta edição trouxemos nas páginas deste jornal o cenário do Consulado de Turquia, que se transcreve repugnável, por ser um lugar onde pessoas nascidas nestas terras chegam a derramar lágrima no corredor da instituição por se sentir rejeitadas por culpa de terem nascidos com a pele da cor que não colhe simpatia de qualquer fulano com poder de decisão naquela instituição. Se tivéssemos dúvidas ou suspeitas de que se trata de uma zanga de um solicitante de visto que face a um atraso tenha sido repreendido, não estaríamos aqui a dar eco às queixas das vítimas do racismo, mas trata-se de dezenas de pessoas que se fazem ao local para solicitar um documento e que no fim acabam partilhando a mesma narrativa arrepiante, de que devido à cor da pele foram discriminadas, insultadas até ao cúmulo de serem confundidos com macacos por um suposto indivíduo afinal identificável.

 

A protecção de indivíduos que assim procedem acaba por dar a estas queixas a uma demissão institucional, fazendo sugerir que a tolerância a nível mais alto, mesmo diante das queixas formalizadas pelas vítimas, reflete, afinal, a postura de toda uma embaixada. E mais do que isso, surpreende o silêncio das autoridades moçambicanas que em todas as suas relações com os demais países nunca se mostram estar em nível de igualdade. Eximem-se de investigar as denúncias a fim de proteger a dignidade do seu povo face à opressão alheia, abrindo espaço para acções de género sejam perpetuados. É ainda pior quando são as próprias autoridades a experimentar esses episódios e não conseguem impor a ordem, encolhem-se e acabam sofrendo racismo. Enfim, o custo de ser moçambicano e mal representado.

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *