Elementos de detenção não colhem consensos e há suspeitas de se tratar de uma encenação

DESTAQUE SOCIEDADE
  • SERNIC tenta mostrar trabalho depois de Nyusi dar sete dias
  • Depois de ex-sogra de Nini, SERNIC deteve advogado Ercílio Machava sem nenhum mandato
  • O assunto criou nervosismo na OAM e é interpretado como um atentado à classe

O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) deteve, semana passada (13), uma mulher de 66 anos, de nome Ana Paula, e um motorista de 64 anos, cujo nome não conseguimos apurar, por alegado envolvimento em crimes de rapto. Dias depois, no sábado (17), deteve o advogado da suposta mãe do mandante, Ercílio Machava, que se veio a ser solto na tarde desta segunda-feira. O Jornal apurou que, afinal, as detenções são produto de rastreio de contas e pagamentos feitos dentro do sistema financeiro formal. Ana Paula é mãe de Omargi Ibarimo, que reside em Portugal, e abandonou Moçambique há dois anos depois de escapar de uma suposta tentativa de rapto próximo a sua residência em Maputo, tendo, ao que apuramos, deixado cheques assinados na guarda da mãe. Os mesmos vinham sendo usados, segundo a arguida, para “pagamentos de materiais de construção das obras em curso”. Estes pagamentos eram feitos pelo motorista, em valores que não excediam um milhão de meticais por mês. A arguida era defendida por Ercílio Machava que acabou sendo detido sem nenhum mandado, o que está a gerar nervosismo por parte da classe dos advogados.

O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) deteve, esta terça-feira (13), uma mulher de 66 anos de idade. Ela é mãe de Omargi Ibraimo, um jovem empresário agora residente em Portugal e próximo do círculo de Nini Satar, conotado como ex-genro da mulher ora detida. Junto da mãe de Omargi, foi detido o motorista. Aliás, o primeiro a ser detido foi o motorista, de 64 anos de idade, que teria feito a referência de que quem lhe entregava cheques era a senhora para fazer pagamentos sob instrução do filho.

De acordo com uma fonte próxima do processo, Omargi Ibraimo é um jovem empresário, que embora residente em Portugal, que nos últimos dias tem sido um dos destinos dos empresários de ascendência asiática, que devido a insegurança, tem naquele país um dos destinos seguros, continua a manter negócios no país. É de Dubai, Portugal e África do Sul que alguns empresários que fugiram do país, controlam os seus negócios.

Segundo relatou a detida e que é corroborado por fontes familiares, Omargi deixou cheques assinados com a mãe, que alegadamente os preenchia e entregava ao motorista para fazer pagamentos. Ao motorista cabia unicamente a tarefa de proceder com os pagamentos que se diz que se destinavam às obras. Todos os três envolvidos, motorista, o filho e a mãe, são acusados pelo SERNIC de serem os mandantes dos raptos.

O desabafo do marido da suposta mandante que tivemos acesso, manifesta o desespero do mesmo, que acredita que tudo não passa de insinuações lamentáveis.

“Eu que participei no interrogatório da minha esposa, vi que os próprios agentes do SERNIC não apresentaram nenhuma prova, nem indícios, e nem evidências que a minha esposa e meu filho estão envolvidos nos raptos. Mesmo as pessoas do SERNIC sabem disso”, desabafou Ibraimo, destacando que o SERNIC e a Procuradoria deviam concentrar-se em trazer os verdadeiros mandantes, pois, no seu entender, é vergonhoso prender uma mulher de 66 anos e um motorista de 64 anos.

Advogado solto depois da intervenção de Tribunal

Os três vinham sendo defendidos pelo advogado Ercílio Machava, que, no entanto, também acabou detido e mantido sob cárcere, no Lingámo, na Matola, até por volta das 15 horas desta segunda-feira.

A detenção de Ercílio Machava criou uma revolta no seio da OAM, “por que foi ilegal. E foram fazer buscas em casa do advogado, sem que tivessem qualquer mandado judicial”, disse uma fonte. Segundo a mesma, a prisão de Ercilio Machava pode estar relacionada com o facto de que quando prenderam Ana Paula, o advogado teria exigido a mandado de captura e estes não exibiram, e por isso teria ameaçado processar o SERNIC. Foi daí que se criaram desavenças.

Na audiência que devia legalizar a sua prisão, foi defendido por Flávio Menete, antigo bastonário da Ordem dos Advogados, e acabou sendo liberto. Entretanto, Menete se recusou comentar, com argumento de que “não me pronuncio de processos que estejam na minha mãe. OAM é que está a tratar desses assuntos, não comentou assuntos processuais em minhas mãos com a imprensa”, Flávio Manete.

São detenções que ocorrem depois de um fogo cruzado entre o líder da comunidade muçulmana, Nazir Loonat, que acusou abertamente o Governo e a polícia de estarem envolvidos directamente nos sequestros, devido a inércia comprovada. O ministro do Interior, Pascoal Ronda, veio a público acusar que Nazir Loonat estava emocionado.

As declarações de Pascoal Ronda revoltaram ainda mais a comunidade, que não se mostra convencida de que de facto está-se diante de cabecilhas, havendo até quem diz tratar-se de uma encenação em tempos eleitorais.

Ademais, essas detenções surgem depois de Presidente da República, Filipe Nyusi, exigir a apresentação pública de pelo menos um mandante dos raptos, e já fora do tempo, o SERNIC convida uma conferência de imprensa, onda apresenta uma senhora dos seus 66 anos de idade e um motorista de 64 anos de idade como os cabecilhas de raptos que assolam o País há mais de 12 anos.

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