“Compramos barcos e mandamos formar pessoas para combater o que hoje se vive em Cabo Delgado”

DESTAQUE POLÍTICA
  • Armando Guebuza diz que SIMP falhou por desarticulação interna

Uma sabotagem pelo governo sucessor e uma desarticulação das estruturas internas terá sido o que levou ao fracasso na implementação do Sistema Integrado de Monitoria e Protecção (SIMP) da Zona Económica Exclusiva que culminou com a contratação das dívidas ocultas. Quem assim defende é Armando Guebuza, então Presidente da República na altura em que o projecto foi concebido, que mais uma vez vinca que aquele investimento visava combater ameaças que haviam sido identificadas, dentre as quais o risco de terrorismo em Cabo Delgado, e a luz do mesmo foram adquiridos equipamentos e foram formadas pessoas.

Elísio Nuvunga

No quadro das celebrações dos 60 anos do desencadeamento da Luta Armada de Libertação do país do jugo colonial, o antigo estadista moçambicano, Armando Guebuza, proferiu uma palestra, no campus da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), sobre “Progressos e Desafios do Moçambique Contemporâneo”.

No evento ocorrido semana finda, Armando Guebuza não só se limitou a discutir em torno da questão dos 60 anos das forças armadas, bem como discutiu um tema que não perde actualidade: dívidas ocultas.

Para o antigo Presidente de Moçambique, a ideia foi desenvolvida com vista a proteger a nação e por ventura travar situações que hoje se assistem em Cabo Delgado, onde desde 2017 um grupo terrorista tem estado a semear luto e dor. Porém, o projecto viria a falhar por actuação de alguns elementos do projecto.

“A famosa ideia de dívidas ocultas é porque nós reagimos contra a situação. Compramos barcos, mandamos formar pessoas para combater o que se passava lá, mas disseram que é traição. É óbvio que se tentou fazer muita coisa, mas não se conseguiu muito. Houve desarticulação das estruturas internas que levaram aqui os nossos esforços e não nos favoreceu e fizeram com que nós não pudéssemos coordenar todos os esforços no mesmo sentido”, explicou Guebuza, dando a entender que houve sabotagem do projecto.

Prosseguindo, Guebuza Armando Guebuza alertou para a manipulação em torno das riquezas naturais que o país dispõe, ressaltando a necessidade de um debate claro e transparente sobre a distribuição dos mesmos assim quando forem extraídos.

“O gás? ainda nem temos gás. O gás está lá no fundo, mas já se julga o regime na base disso. Não sejamos ingénuos, querem nos meter em confusão entre nós mesmos. Naturalmente, têm situações como aquelas que estamos a ver em Cabo Delgado, querem que distribuamos correctamente as riquezas que nós não temos, riquezas nossas, mas que estão debaixo da terra”, disse.

Para ele, a distribuição da riqueza constitui ainda um desafio para Moçambique por este ter alcançado a independência há pouco tempo, por isso, no seu entender, a ideia de distribuição de riquezas é para os “distraídos”.

“Essa coisa de distribuição da riqueza é uma coisa que apanha os distraídos. Qual é o país que tem a distribuição de riqueza correcta? Havia, naqueles momentos, países que sabiam utilizar recursos. Não é Moçambique, que acaba de ser independente hoje, que tem que distribuir bem os recursos”, argumentou.

As declarações do antigo presidente surgem numa altura em que estudos apontam ganhos nas receitas de gás. Por exemplo, em 2023, as vendas de gás natural em Moçambique ascenderam para 1.726 milhões de dólares (1.591 milhões de euros), três vezes mais do que em 2022, aproximando-se do carvão, que ainda lidera entre as exportações moçambicanas.

Dados recentes da Consultora Delloite apontam que as reservas de gás natural de Moçambique representam receitas potenciais de 100 mil milhões de dólares (92,7 mil milhões de euros), o que destaca a importância do país na transição energética.

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