A Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma integrada pelos partidos angolanos UNITA, Bloco Democrático (BD) e PRA-JÁ Servir Angola, pediu ao Presidente da República, Filipe Nyusi, que use “toda a serenidade inscrevendo essa sua acção positiva na história de um momento de grave crise do país, como apelam um conjunto de Intelectuais moçambicanos renomados, encabeçado pelo filósofo Severino Ngoenha”. Por outro lado, a FPU adverte que a contínua desagregação económica e social, com desigualdades e pobreza crónicas, concorrem para multiplicar as tensões, fragilizar a coesão nacional.
Duarte Sitoe
Desde que a Comissão Nacional de Eleições divulgou os resultados das Eleições Gerais, Legislativas e das Assembleias Provinciais, instalou um clima de instabilidade em todo o território mesmo em zona que num passado recente eram bastiões da Frelimo.
A crise pós-eleitoral em Moçambique teve eco a nível internacional. Várias organizações apelaram ao diálogo para a resolução do problema e, sobretudo, respeito pelos direitos humanos, uma vez que as autoridades da lei e ordem têm usado balas reais para dispersar os manifestantes.
Recentemente, a Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma integrada pelos partidos angolanos UNITA, Bloco Democrático (BD) e PRA-JÁ Servir Angola, através de uma carta enviada a Filipe Nyusi, juntou-se ao rol das organizações que apelam a rápida resolução da crise que se instalou desde que a CNE divulgou os resultados.
Adalberto da Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes e Abel Chivukuvuku, líderes dos três partidos da oposição em Angola, dizem que a sua “inquietação é ainda maior quando se aguarda uma greve geral, anunciada para a próxima segunda-feira, cujas consequências agravarão ainda mais a situação muito difícil de Moçambique, nosso país irmão”, tendo, por isso, apelado o Chefe de Estado que “se empenhe institucional e pessoalmente na protecção de Venâncio Mondlane, pois percebemos que estando ele à cabeça do amplo movimento que reivindica a verdade eleitoral, uma atitude contra a sua integridade física ou à sua privação de liberdade pode conduzir o país ao caos”.
A FPU entende que a actual crise pós-eleitoral em Moçambique não beneficia a ninguém, daí que defende que é preciso mudar as formas de governação e, sobretudo, reformas na Lei Eleitoral.
“A actual situação não interessa a ninguém, mesmo aos sectores de grande poder em Moçambique que tardam em compreender que é preciso mudar as formas de governação (renegociar o “contrato social”) e que a arquitetura jurídico-legal dos sistemas eleitorais de muitos países da região continua, infelizmente, a padecer do vício original do partido-Estado, da opacidade e falta de escrutínio de todos os actores”.
Assassinatos de Elivo Dias e Paulo Guambe agravaram mais ainda o clima de descrédito do Estado e de insatisfação
Os líderes dos três partidos da oposição em Angola defendem que Filipe Nyusi, que caminha a passos largos de terminar o seu segundo e último ciclo de governação, deve prestigiar a sabedoria africana e que o Governo e Forças de Defesa e Segurança estejam “receptivos a todos os estímulos provenientes de todas as forças de África e do mundo, mormente, as que têm intervenção económica, militar e de segurança direta em Moçambique”.
“Por nosso lado, instaremos o Governo angolano a prosseguir igualmente uma política de estímulo à paz e estabilidade em Moçambique, contra uma pretensa ordem que não toma em conta o sofrimento do povo e a satisfação da sua cidadania”, referem os líderes da FPU.
Ainda na carta de duas páginas escrita na véspera do regresso de Venâncio Mondlane à Moçambique, A Frente Patriótica Unida aponta que “a ressaca das guerras civis nos nossos países ou a existência de insurgências militares, em alguns casos, assim como a contínua desagregação económica e social, com desigualdades e pobreza crónicas, concorrem para multiplicar as tensões, fragilizar a coesão nacional, afectar a integridade territorial, aliados a factores de disputas geopolítica e económica que ameaçam não só o alcance da democracia como a integridade do Estado-Nação”.
Nas entrelinhas, Adalberto da Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes e Abel Chivukuvuku não têm dúvida de que a falta de esclarecimento do assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe “têm contribuído para agravar mais ainda o clima de descrédito do Estado e de insatisfação e turbulência popular que tem perturbado gravemente o normal funcionamento do país”.
De referir A FPU enviou a carta ao Presidente da República com o conhecimento do secretário-geral das Nações Unidas, União Africana, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, líderes dos partidos políticos e religiosos, organizações da sociedade civil baseadas em Moçambique.

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