Com quantas balas se cala a voz de um povo?

OPINIÃO

Edmilson Mate

O artigo que o leitor tem em mãos não estava inicialmente previsto para esta edição, mas a indignação não me permitiu permanecer em silêncio face a acontecimentos tão revoltantes. Hoje, escrevo sobre algo que nos toca a todos, algo que nos envolve enquanto cidadãos de uma nação: a tentativa de silenciar vozes dissidentes e a escalada de violência política num país que se diz democrático.

Recentemente, vi nas redes sociais um vídeo do Dinis Tivane, um homem que, como tantos outros, se encontra a lutar por aquilo que acredita ser a verdade. O vídeo mostrava a sua casa, que havia sido metralhada quando o mesmo estava ausente, isso é revoltante e estamos a falhar como país.

Diante disto, não posso deixar de me perguntar: como pode um cidadão, apenas por expressar a sua opinião, ser alvo de uma violência tão extrema? E a resposta parece estar nas balas, nas tentativas claras de calar aqueles que ousam desafiar o estado das coisas. Este é o retrato de um país em crise.

Dinis Tivane não está sozinho nesta luta. Há poucos meses, o Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, foi regado por tiros, uma grande tragédia: a sua morte brutal com mais de 24 tiros. Esta execução, que chocou a todos, não é um caso isolado, mas parte de uma tendência preocupante. A violência e a repressão parecem ser, para certos sectores do poder, a resposta mais directa para aqueles que se levantam contra a opressão. E, como se isso não fosse suficientemente alarmante, sabemos que, até hoje, não houve uma investigação séria sobre o assassinato de Elvino Dias, nem tampouco sobre o ataque ao segurança de Dinis Tivane. A impunidade reina em Moçambique, sob o olhar impávido dos que deviam garantir a justiça.

Em face desta realidade, questiono-me: que país estamos realmente a construir? Um país onde as vozes que discordam do regime são silenciadas à força? Onde os cidadãos não podem expressar livremente as suas opiniões sem receio de represálias? Onde a democracia parece ser apenas uma palavra vazia, enquanto a violência política assume o controlo?

É preciso que nos perguntemos, como povo, com quantas balas se cala a voz de um país inteiro? Quantos mais terão de ser silenciados, quantos mais terão de ser perseguidos ou até assassinados, para que as autoridades percebam que a democracia não é feita apenas de palavras, mas de acções concretas? A democracia não é apenas o direito de votar, é também o direito de questionar, de criticar e de lutar por aquilo que acreditamos ser o melhor para a nossa nação.

A situação que vivemos actualmente exige uma reflexão séria sobre o papel da justiça no nosso país. A justiça não deve ter cor partidária, nem pode ser usada como instrumento de controlo político. Não importa se sou do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da RENAMO ou da FRELIMO. Todos somos iguais perante a lei, e é isso que deve garantir que, independentemente da nossa orientação política ou ideológica, possamos viver num país onde o direito à vida, à liberdade de expressão e ao acesso à justiça sejam respeitados por todos.

Não podemos continuar a ignorar a violência, nem a permitir que a impunidade seja a norma. A sociedade moçambicana não pode ser uma sociedade onde o medo e a intimidação se tornam ferramentas comuns para impedir que a voz do povo seja ouvida. Temos o direito de viver num país onde a justiça seja imparcial, onde os direitos humanos sejam respeitados e onde as balas não sejam a resposta a quem ousa questionar o sistema. O povo moçambicano já viu demasiados exemplos de violência e repressão. Não podemos continuar a silenciar as nossas consciências, nem a aceitar que as balas sejam a resposta para a liberdade de expressão.

Se queremos verdadeiramente construir um país democrático e justo, devemos começar por garantir que todos, sem excepção, possam expressar-se livremente, sem medo de represálias. Não podemos permitir que a violência se torne a norma para quem se levanta contra o poder, seja ele qual for. Devemos, todos juntos, exigir um país onde a democracia seja mais do que um conceito teórico, onde os direitos dos cidadãos sejam respeitados e onde a justiça seja verdadeiramente feita. O futuro do nosso país depende de todos nós, e é nosso dever lutar por um país mais justo, mais livre e mais democrático.

A voz do povo não pode ser silenciada.

Promo������o

Facebook Comments