- Estágio de marinheiros termina em tragédia no Dondo
Uma tragédia marcou o estágio prático de seis estudantes do Instituto de Ciências do Mar e Pescas, quando, por volta das 12 horas de quinta-feira, a canoa artesanal em que navegavam naufragou na lagoa de Mandruzi, no distrito do Dondo, província de Sofala. O acidente, que inicialmente resultou em três mortes confirmadas, teve o seu desfecho trágico neste sábado (5), com a recuperação do último corpo, no caso de Paulo João, de 24 anos, que permanecia desaparecido desde o dia do naufrágio. A vítima foi encontrada a boiar nas margens da lagoa, após três dias de buscas intensas.
Jossias Sixpence- Beira
Segundo o Serviço Nacional de Salvação Pública (SENSAP), o acidente ocorreu quando um dos estudantes, com pouca experiência em navegação, manobrava a pequena embarcação, a qual transportava um total de seis pessoas, mais do que a capacidade recomendada. O excesso de peso e a instabilidade da canoa foram apontados como principais causas do acidente.
Apenas dois dos ocupantes daquela embarcação foram resgatados com vida e levados ao Centro de Saúde do Dondo. As restantes três foram retiradas da água, no mesmo dia, já sem sinais vitais e declaradas mortas na unidade sanitária, enquanto um continuou desaparecido por três dias, até o seu corpo ser encontrado a flutuar na água.
As buscas mobilizaram uma equipa multissectorial composta pelo SENSAP, Polícia da República de Moçambique (PRM) e membros da comunidade local. O comandante distrital do SENSAP no Dondo, Chapance Paulino, destacou o envolvimento da população nas operações.
“Foi um trabalho muito complicado. Passámos três dias neste local à procura. Agradeço profundamente aos jovens da comunidade que deixaram os seus afazeres para se juntarem à equipa de resgate”, sublinhou.
João Paulo, pai do último estudante encontrado, é residente no distrito do Búzi e revelou-se profundamente abalado com a perda daquele que era visto como uma esperança para melhorar as condições da sua família.
“Não sei ao certo o que aconteceu no rio. O meu filho sabia nadar muito bem. Era o único da família que estava a estudar e tínhamos esperança de que viesse a ajudar os irmãos. Agora, não sei o que fazer. Estou devastado”, desabafou.
A tragédia levanta preocupações sobre as condições de segurança nas actividades práticas de instituições de ensino técnico, sobretudo em zonas com infraestruturas precárias. Até ao fecho desta edição, aguardava-se um pronunciamento oficial por parte do Instituto de Ciências do Mar e Pescas.
Os residentes locais manifestaram profunda consternação com o sucedido. Segundo relatos, esta foi a primeira vez em que se registou um incidente desta natureza na lagoa de Mandruzi. Alguns membros da comunidade criticaram a falta de supervisão durante as aulas práticas.
“Os responsáveis pelos estudantes deviam ter convidado jovens locais experientes em natação para os acompanhar e monitorar”, defendeu um morador.
José Simbe, residente no Dondo, contou ter sido chamado de emergência para ajudar no salvamento.
“Fui chamado com urgência, mas não consegui chegar a tempo. Só conseguimos tirar duas pessoas. As outras já tinham afundado. Trabalhámos dia e noite até encontrarmos o último corpo. Não foi fácil”, referiu.
Victor Hugo, também residente local, apontou falhas na embarcação utilizada. Aliás, na sua opinião a canoa não era adequada e não estava em boas condições.
“Tinha buracos que tapámos com barro para evitar a entrada de água. Se um dos nativos estivesse presente, teria alertado os estudantes e talvez esta tragédia tivesse sido evitada”, referiu.

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