Ao confundir-se a Frelimo, a oposição perde a oportunidade de ser alternativa

EDITORIAL
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É assustador, para dizer o mínimo, ver o estado a que chegou a nossa oposição. Não por estar a perder eleições, isso, afinal, faz parte do jogo democrático, mas por ter perdido algo muito mais essencial: a capacidade de ser alternativa.

O que temos hoje? Uma oposição que, em vez de representar ruptura ou esperança, limita-se a ser um reflexo. Um reflexo sujo, deformado, da própria Frelimo. Um espelho gasto que já nem disfarça os vícios, apenas os replica, e às vezes piora.

E aí está a Renamo, o nosso velho embondeiro, cuja robustez já foi símbolo de resistência. Hoje, essa árvore já não dá sombra, nem fruto. Conformou-se em ser o segundo maior partido da oposição… perder até essa proeza. Está, há quase seis meses, em silêncio absoluto, como que paralisada pela mesma apatia que aflige o seu líder Ossufo Momade, desaparecido dos hostes públicos e incapaz até de comunicar com os poucos que foram determinantes para o partido ao menos manter-se em terceiro lugar. A Renamo, fiel à sua liderança, não é achada. Nenhuma mobilização, nenhuma posição firme, nenhum sinal de vida política. O embondeiro virou tronco seco. E brandam os generais, que há quase duas semanas controlam as sedes do partido, pelo resgate de uma Renamo que já foi braço de resistência à Frelimo e alternativa para governação.

Mas quando se pensa que a paisagem não podia ficar mais desoladora, eis que o Podemos, esse partido nascido da crise e da contestação, decide fazer jus ao seu nome, não para renovar, mas para agravar o caos. Na mais triste agitação interna de que há memória, anulou a votação que dava vantagem a Alberto Ferreira na corrida ao cargo de secretário-geral. Sim, anulou. Porque, ao que parece, quando a democracia interna ameaça produzir resultados imprevisíveis, a solução é sempre a mesma: puxar o tapete. Este não é o único episódio que denuncia o Podemos como uma formação política que não se revela alternativa. Na entrevista que saiu esta segunda-feira (26), Forquilha admite a incapacidade da sua formação política de fiscalizar as acções do Governo, é isso mesmo: é assustador – como é possível um legislador com incapacidade assumida de monitorar o que é feito no campo?

É quase poético, se não fosse trágico. A oposição tornou-se uma caricatura. Ela tenta imitar a Frelimo, mas acaba apenas por expor os escombros, os próprios, e os do sistema que diz combater. Nada mais é do que um eco fraco, hesitante, que já nem incomoda. E se esse é o campo onde deveríamos procurar alternativas, talvez a verdadeira pergunta seja: estamos mesmo a ser governados por uma maioria, ou apenas a afundar num deserto sem escolhas?

Diante deste retrato, o que sobra se não partidos de menor expressão, cuja existência relaciona-se com a caça aos fundos da Comissão Nacional das Eleições (CNE), o que nos remete a uma outra reflexão, afinal, não pode ser o fim destes (partidos) beneficiar-se das subvenções do Estado, mas ser alternativas de como ser úteis ao Estado. Mas nada, perdem-se nos tachos provenientes do Estado.

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