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Há duas semanas, Dane Kondic foi a Botswana em missão da LAM e voltou PCA da concorrente
- Negociação pode envolver ajuste de ordenados e outras regalias
A Comissão de Gestão das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) aguarda, em suspenso, por um gesto de clareza do seu presidente do Conselho de Administração, Dane Kondic, sobre uma questão que se mantém sem resposta: aceitará ele estar exclusivamente ao serviço da LAM? No sábado passado, Kondic embarcou rumo a Portugal, alegando motivos familiares. No entanto, no mesmo dia, circularam informações de que Kondic teria sido nomeado presidente da Air Botswana. A coincidência de percursos e agendas levantou, de imediato, um turbilhão de dúvidas. A Comissão, apanhada de surpresa, tentou conter os ventos de instabilidade com um comunicado pouco esclarecedor, emitido no domingo (29). Na segunda-feira, decidiu ir à sede da LAM reunir-se com os trabalhadores, numa tentativa de manter o moral da equipa e reiterar que aguarda o regresso do PCA para esclarecer o tema da exclusividade. Nos bastidores, porém, circulam informações de que Kondic teria advertido, logo no início, que mantinha outros “compromissos”, o que levanta suspeitas sobre a existência, ou não, de uma cláusula de exclusividade no seu contrato com a LAM. Caso não exista, qualquer tentativa de o obrigar à exclusividade pode acarretar custos adicionais para a companhia, já sufocada por desafios financeiros.
Evidências
O episódio adensa a percepção de que a reestruturação da LAM está a ser atravessada por interesses pouco transparentes. Dois meses após o início da intervenção, os resultados continuam a escassear, enquanto cresce o coro social que questiona a dependência de soluções estrangeiras para problemas cronicamente moçambicanos.
A nomeação de Dane Kondic como Presidente do Conselho de Administração da Air Botswana, tornada pública no último fim-de-semana, lança uma sombra espessa sobre o processo de reestruturação da companhia aérea moçambicana (LAM), da qual é ainda, formalmente, o Presidente da Comissão de Gestão. O que parecia uma simples missão institucional de colaboração, feita há duas semanas em nome da LAM, revelou-se, afinal, o prenúncio de uma transição estratégica, não da LAM para o seu futuro, mas de Kondic para a concorrência regional.
Segundo fontes da própria Air Botswana, Kondic foi nomeado presidente não-executivo do Conselho de Administração, num cargo de natureza consultiva, mas com elevada influência estratégica. Esta nomeação ocorre num momento em que a LAM está a tentar reerguer-se de um colapso operacional e financeiro, tendo confiado a sua recuperação a uma nova Comissão de Gestão liderada pelo próprio Kondic, nomeação justificada, na altura, pela sua vasta experiência internacional em reestruturações do sector aéreo.
Contudo, esta “dupla função” levanta preocupações concretas dentro da companhia moçambicana. No domingo, 29 de Junho, o Conselho de Administração da LAM, composto pelas empresas accionistas HCB, EMOSE e CFM, reuniu-se de emergência para exigir que Kondic se dedique exclusivamente à LAM.
A decisão baseia-se no entendimento de que a liderança da transportadora nacional deve ser exercida com total foco e sem conflitos de interesse, especialmente numa fase em que a empresa tenta reconquistar o mercado regional, precisamente onde a Air Botswana também actua.
Nos bastidores, porém, circulam informações de que Kondic já teria alertado, no momento da sua contratação, que mantinha “outros compromissos profissionais”.
Isto pode indicar que o regime de exclusividade não estava explícito no seu contrato inicial, o que obrigaria agora a um novo acordo com potenciais custos adicionais, um paradoxo para uma empresa em processo de reestruturação financeira, dependente do suporte das empresas do Estado.
Viajou às expensas da LAM para fechar o seu contrato em Botswana?
Mais curioso ainda é o facto de que a sua nomeação na Air Botswana ocorre apenas 14 dias depois de ter estado no País em missão oficial da LAM. Tudo indica que essa viagem, anunciada como parte do esforço de reestruturação da companhia moçambicana, terá servido afinal para pavimentar a sua transição para a concorrência. O episódio, por si só, mina a confiança de trabalhadores e do público na seriedade das soluções que vêm sendo impostas externamente.
Vale recordar que Dane Kondic chega a Moçambique depois de liderar a EuroAtlantic Airways, uma empresa que mantinha contratos de leasing com a própria LAM, incluindo durante o período de intervenção liderada pela consultora FMA. O seu percurso revela, assim, uma cadeia de ligações com interesses recorrentes nas companhias em dificuldades, o que alimenta suspeitas de que a nomeação de gestores estrangeiros pode estar menos ligada ao mérito técnico e mais ao mapeamento de influências numa indústria fragilizada. Angola é disso um exemplo, e só começou a sua acensão quando as soluções pararam de depender de mão-de-obra externa.
A Comissão de Gestão da LAM convocou, nesta segunda-feira, uma reunião com os trabalhadores no início da semana para explicar que aguarda o regresso de Kondic de Portugal, onde está desde sábado passado alegadamente por motivos pessoais, para discutir a sua exclusividade à frente da companhia aérea de bandeira.
Enquanto isso, cresce o cepticismo social e institucional, que questiona se a solução para a LAM deve continuar a vir de fora, sobretudo quando as experiências recentes têm mostrado mais volatilidade do que estabilidade, mais dependência do que soberania. A nomeação de Kondic para duas companhias concorrentes no mesmo eixo geográfico não só enfraquece a confiança, bem como compromete a narrativa de reestruturação séria e transparente.

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