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Cerca de 77% das crianças moçambicanas vivem em situação de pobreza – seja ela monetária, multidimensional ou ambas. Os dados foram revelados esta quarta-feira, 03 de Julho, em Maputo, pelo representante da UNICEF, Yuchiro Yamamoto, durante a II Conferência Nacional sobre o Serviço Social. Segundo Yamamoto, o cenário, descrito como “crítico”, agrava-se ainda mais com a escassez de profissionais para dar resposta às vulnerabilidades crescentes no país.
A pobreza continua a marcar profundamente a infância em Moçambique. Segundo o representante da UNICEF, Yuchiro Yamamoto, 77% das crianças vivem em pobreza, seja monetária, multidimensional ou ambas, enquanto uma em cada quatro meninas sofre violência física antes dos 18 anos.
A isso somam-se mais de um milhão de deslocados por conflitos armados no norte do país e os recorrentes desastres naturais: “Esses factores colocam os direitos fundamentais de crianças e famílias em risco”, alertou Yamamoto.
A intervenção decorreu durante a II Conferência Nacional sobre o Serviço Social, sob o lema “Fortalecer a Profissão, Construir o Futuro: Promover a Formação e Intervenção do Serviço Social”, que contou com a presença da ministra do Trabalho, Género e Ação Social, Ivete Alane, e representantes da sociedade civil, academia e parceiros internacionais.
Yamamoto sublinhou a importância crítica dos assistentes sociais como primeira linha de apoio às populações vulneráveis, mas lamentou o défice destes profissionais.
“Moçambique tem hoje um assistente social por cada 75 mil habitantes, muito abaixo da referência regional de um para cada 5 a 10 mil”, disse, destacando que essa lacuna compromete respostas integradas e comunitárias.
Para reverter este cenário, a UNICEF propõe três prioridades: o estabelecimento de marcos normativos claros para a profissão, a formação contínua com financiamento sustentável, e a criação de uma liderança colaborativa entre governo, academia e sociedade civil.
Por sua vez, Ivete Alane destacou que o serviço social é essencial para o combate à pobreza e às desigualdades. “Num país que celebra 50 anos de independência, é justo reflectir sobre os caminhos percorridos e os desafios que persistem. O serviço social é insubstituível na construção de um Estado justo e inclusivo”, afirmou.
A ministra apontou ainda os problemas estruturais da profissão, como a falta de regulamentação, reconhecimento e condições de trabalho bem como a qualificação, sobretudo nas províncias.
“O serviço social ainda enfrenta problemas de identidade e reconhecimento, especialmente nas províncias e distritos. Onde o seu papel não é tão reconhecido ou é substituído por um profissional sem formação na área, mas que é tratado por assistente social. Muitos profissionais ainda se sentem desamparados sem uma carreira clara, sem enquadramento funcional ou mesmo sem as condições necessárias para o seu trabalho. Precisamos juntos de mudar este cenário”, sublinhou.
Um dos pontos altos do encontro foi o debate sobre a possível criação de uma ordem dos assistentes sociais, inspirada nas experiências de países como Portugal, Brasil e Gana. Para Alane, essa medida poderá “marcar um novo ciclo de maturidade institucional para o serviço social em Moçambique”.
A conferência serviu ainda de palco para reconhecer o papel estratégico dos assistentes sociais como agentes de transformação: “São eles que acompanham vítimas de violência, crianças em risco, idosos desamparados e jovens sem oportunidades”, lembrou a ministra.
Diante de desafios como “migração, desigualdades intergeracionais e mudanças climáticas”, os participantes reforçaram a urgência de fortalecer a profissão e expandir a sua presença no território nacional.



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