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- Depois de ter sido declarado desaparecido e incomunicável
- Tomada de posse vai ser à revelia da liderança do PODEMOS
O deputado do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), António Furuma, vai tomar posse brevemente na Assembleia da República, após meses de polémica em torno do seu alegado “desaparecimento”. A informação foi confirmada pela sua assessora jurídica, Judite Mahocha Simão, que garante que a justiça já deu luz verde para o início do mandato do parlamentar.
Elísio Nuvunga
Segundo Mahocha, a cerimónia de investidura estava inicialmente prevista para esta segunda-feira, 20 de Novembro, mas acabou adiada para uma data ainda por anunciar devido à agenda da Assembleia da República.
“O jovem deputado Furuma, que tinha sido dado como morto pelo secretário-geral do PODEMOS, (Sebastião Munhane), sob minha assessoria jurídica e contra a vontade do PODEMOS, já vai tomar posse brevemente, segundo vincou a justiça”, afirmou.
Visivelmente emocionado, António Furuma confirmou que aguarda apenas pela nova data para formalizar a sua entrada no Parlamento.
“O processo já está encaminhado. Só tenho de agradecer a Deus por tudo. Sempre acreditei que com Ele tudo ia dar certo”, disse ao Evidências.
Judite Mahocha Simão, assessora jurídica de António Furuma, não é uma figura alheia aos bastidores da política nacional. Foi mandatária do ex-candidato presidencial e actual líder do recém-criado partido ANAMOLA, Venâncio Mondlane, depois de o seu anterior mandatário, Elvino Dias, ter sido assassinado em Maputo. Ademais, actualmente Mahocha é também membro do partido ANAMOLA.
A sua intervenção no “caso Furuma” reacendeu o debate sobre as práticas internas do PODEMOS, nomeadamente na selecção de candidatos e na transparência das suas estruturas. Recorde-se que uma investigação do Evidências revelou que alguns nomes de candidatos do partido foram alegadamente recolhidos de forma aleatória em mercados e ruas, apenas para completar as listas eleitorais.
Como tudo começou?
O caso de António Furuma tornou-se um dos episódios mais insólitos da política moçambicana recente. Em Janeiro deste ano, quando o grosso dos 250 deputados eleitos à X Legislatura tomavam posse, Furuma encontrava-se em casa, “a cumprir ordens superiores”, segundo explicou mais tarde.
Na altura, o PODEMOS declarou-o “desaparecido, incomunicável e sem pista”, e chegou mesmo a informar à imprensa que ele e outros deputados eleitos para a sua bancada poderiam ter sido vítima de violência política durante as manifestações que passaram de pacíficas para violentas.
No entanto, em Março, o deputado reapareceu de fato e gravata na Assembleia da República, desmentindo publicamente a versão do seu partido. A sua tentativa de tomar posse foi travada pela administração parlamentar, que o orientou a aguardar uma nova convocatória, após apreciação do caso pela Comissão Permanente.
Dias depois, a 31 de Março, o PODEMOS convocou uma conferência de imprensa para apresentar outro deputado “desaparecido”, Faizal Gabriel, numa tentativa de justificar o episódio que já manchava a imagem do partido. Ambos afirmaram não ter conhecimento de que concorriam à Assembleia da República, o que levantou novas suspeitas sobre a forma como as listas de candidatos foram elaboradas.
Evidências, na altura, chegou a revelar, com base numa investigação, que, afinal, parte dos deputados eleitos foram parar nas listas do PODEMOS sem saber que estavam a concorrer. Muitos viram os seus nomes recolhidos na rua e nos mercados, simplesmente para preencher a lista de candidatos, visto que antes de se aliar ao movimento de Venâncio Mondlane, aquele partido não tinha chances de eleição.



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