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- Tensões persistem na RENAMO após Conselho Nacional
- Nem a suposta reconciliação com Magumisse e Elias Dhlakama atenuou a situação
Com a realização do Conselho Nacional da RENAMO, no dia 16 de Outubro, na província de Nampula, esperava-se que a tensão interna na Renamo atenuasse. Contudo, mesmo depois de uma suposta reconciliação promovida por Ossufo Momade com Alfredo Magumisse e Elias Dhlakama, que o presidente da Renamo acredita serem os líderes dos ex-guerrilheiros que contestam a sua liderança, a situação prevalece bastante conflituosa. Os ex-guerrilheiros desmobilizados da RENAMO, por intermédio do seu porta-voz, João Machava, manifestaram total descontentamento com os resultados do encontro, classificando-o como uma “fantochada” e “manobra para manter Ossufo Momade na liderança”.
Elísio Nuvunga
O Conselho Nacional, que deveria funcionar como momento de reafirmação estratégica e resolução da crise interna, acabou parindo decepção. Embora Momade tenha tentado projectar uma imagem de estabilidade e abertura ao diálogo, o mal-estar entre as bases e a direcção nacional permanece evidente.
A reconciliação, ainda que anunciada, não se traduziu em consenso político, nem conseguiu restaurar a confiança entre os diferentes segmentos da organização, com destaque para os ex-guerrilheiros que agora endurecem o tom da sua voz.
“Tal como dissemos antes, este Conselho Nacional não passou de uma encenação. Foi apenas para manter o Ossufo Momade no poder. A nossa profecia se concretizou”, afirmou Machava, sublinhando que o evento “não resolveu nenhum dos problemas” que o partido enfrenta “neste exacto momento”.
O representante dos desmobilizados acusou ainda a direcção da RENAMO de limitar a participação de vozes críticas e de preparar um alegado sequestro contra alguns dirigentes, incluindo o general Elias Dhlakama e Alfredo Magumisse, que, segundo ele, “escaparam por sorte”.
“Para a gravidade dos problemas que vivemos, era necessário no mínimo dois dias de debate, que deveriam culminar com a renúncia de Ossufo Momade, a convocação de um congresso extraordinário e a criação de uma comissão preparatória. Em quatro horas não se resolve nada”, criticou Machava.
Os desmobilizados prometem avançar, nos próximos dias, com conferências provinciais em todo o país para eleger novas “comissões de gestão”, com o objectivo de “recuperar o partido das mãos de quem o governa sem visão”.
“Ossufo é uma árvore seca. O seu destino é ser substituído a curto prazo. O partido não pode ficar refém de quem não tem visão para defender o povo moçambicano”, disparou Machava.
Durante o Conselho Nacional, o presidente da RENAMO, Ossufo Momade, procurou transmitir uma mensagem de reconciliação e unidade. O líder fez as pazes com os quadros seniores do partido, Elias Dhlakama e Alfredo Magumisse, nomeadamente, a quem recentemente havia acusado de serem “os arquitectos da instabilidade” interna.
Entretanto, a Liga da Juventude da RENAMO, através do seu presidente Ivan Mazanga, também expressou preocupação com a situação interna do partido, defendendo a necessidade de antecipar o congresso para o primeiro trimestre de 2026.
“Olhemos nos olhos, com honestidade, e assumamos que o nosso partido não está bem. Não estamos bem, não apenas no nosso relacionamento interno, mas também no nosso relacionamento com o povo”, disse Mazanga, pedindo aos dirigentes para deixarem de lado o orgulho e priorizarem o bem comum.
O líder juvenil reconheceu ainda que o partido atravessa o seu pior momento político, lembrando que nas últimas eleições legislativas a RENAMO registou uma redução histórica no número de assentos parlamentares.
“Precisamos de nos reerguer. O realismo manda dizer que o pior foi termos reduzido, de forma histórica, os nossos assentos na Assembleia da República”, rematou Mazanga.



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