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Corrupção na LAM: Auditoria expõe desvio de 48 milhões de meticais através de falsos serviços de tradução

DESTAQUE POLÍTICA
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A Comissão de Gestão e o Conselho de Administração da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) decidiram suspender o director financeiro e quatro quadros seniores, depois que um diagnóstico recentemente conduzido constatou haver um desvio de 48 milhões de meticais através de facturas falsas de tradução de documentos legais.

A decisão, tomada no âmbito do processo de reestruturação em curso na companhia, contou com o apoio directo do Governo e a aprovação política do Presidente Daniel Chapo, que nos primeiros 100 dias de governação definiu como prioridade a moralização das empresas públicas.

Segundo fontes próximas do processo, a auditoria detectou que uma empresa-fantasma era usada para inflacionar custos de tradução de documentos jurídicos. O trabalho real era executado por uma tradutora juramentada, paga a valores residuais, enquanto a maior parte dos fundos era desviada para funcionários dos departamentos jurídico e financeiro.

O esquema operava há vários anos e, de acordo com as mesmas fontes, o director financeiro suspenso é irmão de um membro do Governo, indício de como o nepotismo e as alianças políticas blindavam a rede.

Chapo dá cobertura à limpeza

O desmantelamento da rede ocorre com o conhecimento e apoio político do Presidente Daniel Chapo, no quadro da reestruturação da LAM idealizada desde o início do novo ciclo governativo.
No discurso dos 100 dias, a 28 de Abril de 2025, o Chefe de Estado já havia deixado um aviso: “Dentro da nossa empresa há pessoas com conflitos de interesse (…) vamos reestruturar e enviar alguns para casa para deixarem o país trabalhar.”

A direcção da LAM assumiu o recado e actuou. Fontes internas afirmam que a auditoria foi conduzida com autonomia inédita e com garantias de que não haveria interferências políticas, como acontecera no passado.

“Várias tentativas de limpeza da casa foram bloqueadas por ordens superiores. Desta vez, há cobertura total para agir”, revelou uma fonte ligada à gestão da empresa.

A empresa e o sistema

Durante anos, a LAM foi um baluarte da impunidade institucional, palco de contratos inflaccionados, leasing de aeronaves com intermediários próximos do poder e viagens de luxo pagas com dinheiro público.

A diferença, agora, é que a Comissão de Gestão age com respaldo do Governo e do próprio Presidente, no contexto de uma reforma mais ampla que visa separar o poder político da gestão empresarial do Estado.

“A LAM era o espelho da promiscuidade entre negócios e política. O que está a acontecer é uma ruptura real”, afirmou ao Evidências um alto quadro do sector dos transportes.

Nova fase

A suspensão dos envolvidos e a abertura da investigação marcam o início de um processo que promete estender-se a outras empresas públicas, incluindo a Petromoc e a Tmcel, onde há denúncias de práticas semelhantes.

Com o apoio do Governo, a Comissão de Gestão prepara-se agora para submeter os resultados da auditoria ao Ministério Público, abrindo caminho à responsabilização criminal dos implicados.

O caso da LAM não é apenas um episódio de corrupção, mas o símbolo de uma mudança estrutural: pela primeira vez, uma empresa pública ligada a figuras de peso político é confrontada dentro das suas próprias paredes.

Como disse uma fonte do Conselho de Administração: “O tempo em que as raposas controlavam o galinheiro acabou. Desta vez, o Presidente está a ver e a mandar limpar.”

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