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O caminho para tornar a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) sustentável e exemplar é longo. Excessivamente longo. Não há dúvidas de que existe vontade política para resgatar a companhia de bandeira, mas a boa intenção, por si só, não é capaz de superar vícios estruturais e erros de gestão. Um dos maiores obstáculos neste percurso é a falha crónica na comunicação. Até hoje, a narrativa oficial incide sobre uma visão ambiciosa de futuro, mas omite a explicação clara e transparente do ponto de partida, dos progressos alcançados e dos custos reais das decisões.
Quando a comunicação tenta abordar a realidade, frequentemente revela-se viciada. Anunciam-se receitas, mas silenciam-se as despesas. Defende-se a aquisição de novas aeronaves, mas omite-se a compra de sucatas ou que se trata de aviões com 17 anos de serviço, o que inevitavelmente irá elevar os custos de manutenção e comprometer a confiabilidade operacional. Aliás, que se trata de soluções cujas consequências ainda irão se ressentir neste mandato. Este desequilíbrio narrativo cria um risco real, o de estagnação disfarçada de progresso.
A estagnação é, de facto, palpável. Manifesta-se na qualidade do serviço que não melhora, nos fornecedores nacionais que permanecem sem pagamento, e na composição das tripulações, maioritariamente estrangeiras, que dilui a identidade nacional da empresa. Uma companhia aérea de bandeira é mais do que um activo logístico, é um símbolo de soberania e um cartão-de-visita do país. Quando este símbolo perde a sua conexão com o povo que representa, a sua própria razão de ser é posta em causa.
A estrutura de governação implementada na intervenção também carece de clareza. Os presidentes das empresas gestoras, por mais bem-intencionados que sejam, não devem gerir o dia-a-dia operacional. A sua função deveria ser a de nomear representantes com conhecimento profundo da aviação civil para liderarem a gestão. É provável que essa falta de domínio técnico explique as constantes divergências nas informações oficiais e a sucessão de queixas.
Perante as críticas, a resposta da comissão gestora tem sido, frequentemente, a de se refugiar num discurso defensivo, classificando qualquer questionamento como uma oposição à intervenção. Essa postura é contraproducente. O respeito pelos trabalhadores e pelos procedimentos estabelecidos não é um detalhe, mas a base de qualquer reestruturação legítima. O processo falha quando não há espaço para o questionamento, quando a informação não é partilhada atempadamente, quando o sindicato é ignorado numa questão de restruturação e quando as partes interessadas não são devidamente informadas.
O capítulo da aquisição de aeronaves é talvez o exemplo mais claro da falta de um plano coerente. Cada comunicação sobre o tema é divergente: ora fala-se em cinco aviões, ora em quatro, e agora reduz-se para dois. Ora são sucatas, ora é compra de avião sem motor porque os motores eram alugados por um outro fornecedor. A opção por aeronaves antigas, as mesmas que a LAM não conseguiu vender no passado e acabou por desmanchar, levanta sérias questões sobre a sustentabilidade técnica e financeira dessa solução.
A LAM que os moçambicanos anseiam não nascerá de decisões opacas e de comunicação viciada. Ela será construída com transparência, competência e um genuíno compromisso com o interesse público. A vontade existe; é hora de a equilibrar com um método claro e credível. O tempo de melhorar é agora.



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