Para quem olha para os diversos episódios que acontecem na nossa sociedade com olhos sendentos de vingança, vai, certamente, achar normal a decapitação de cidadãos em praça pública com requintes de terrorismo, a violação dos mais elementares direitos das pessoas e outras atrocidades com alguma normalidade. É evidente que a ideia das acções de sabotagem em curso é inviabilizar o Governo da Frelimo, em virtude de ter-se saído de uma eleição com fortes vícios, o que colocou em causa a sua vitória e tornou legítimas as manifestações que começaram como um acto contra a fraude eleitoral e resvalaram numa contestação sem precedentes à má governação, sobretudo dos últimos 10 anos.
No entanto, o processo eleitoral já passou e as manifestações no sentido de repor a verdade eleitoral tiveram os seus resultados, embora não suficientes para demover a Frelimo do poder, se é que o objectivo era esse. E, por agora, novas formas de fazer pressão são necessárias, mas em função dos objectivos. E, era suposto que, em nenhuma circunstância, tais acções de pressão incluíssem a destruição do país e muito menos a normalização da desordem. Afinal, se o VM é presidente, em defesa da honra deste, não pode o povo permitir que seja de um país somalizado.
Mas não é neste sentido que tudo está orientado. Está tudo acaudilhado para destruição e a fiscalização do povo limita-se às fontes de orçamento do Estado ou outros que concorrem para exposição e fraco desempenho da própria economia, cuja factura vai chegar tarde ou cedo, com maior impacto sobre os governados. O povo, que fiscaliza o governo, ignora comportamentos colectivos que questionam a nossa civilização e humanidade. Só é o mal aquilo que vem da Frelimo, logo isso não é sobre Moçambique, que devia ser o nosso projecto coletivo, é sobre paixões (amor e ódio), é sobre política e um suicídio colectivo por amor a Venâncio e ódio à Frelimo. Está errado! Estamos, de novo, a discutir grupos e a brincar com o país.
Os meios de pressão ou persuasão accionados para esta fase de luta criam mais efeitos nefastos ao povo do que a aqueles que, supostamente, deviam ser os principais visados destas acções. E há um silêncio suspeito face a acções subversivas de pessoas que recorrem ao nome do VM para expor o pior do homem do que aquilo que a Frelimo está a fazer com o país. Este Domingo, cumpriu-se, ao que tudo indica, o primeiro “Olho por Olho, dente por dente” que consta de algumas das medidas de Venâncio Mondlane. Em Morrumbala, na Zambézia, supostos justiceiros Naparamas degolaram um militar na reserva e exibiram a sua cabeça como um troféu num lugar de estilo, no centro da vila. É uma guinada anunciada ao terrorismo, sendo assistida e até aplaudida por aqueles que na sua sede de vingança contra a Frelimo,não medem esforços e estão dispostos a qualquer preço.
Basta olhar, por exemplo, para os jovens que, de forma organizada, entraram num camião e foram para uma brigada de polícia de trânsito para fazer com estes se abstenham de exercer o seu trabalho. Devemos nos perguntar qual seria o objectivo de impedir a fiscalização de viaturas pela polícia de trânsito? A primeira resposta é de que o objectivo seria normalizar a inobservância das regras de condução e permitir a desordem.
Ao falar da anarquia, basta-nos olhar o caso de Manhiça, onde o edil viu sua casa saqueada e incendiada por indivíduos que protestam contra o desaparecimento de um jovem na localidade das Palmeiras, que está muito fora da jurisdição desta autarquia, ou seja, são pessoas cuja actuação de Luís Munguambe não tem impacto sobre a sua vida. De novo, devíamos nos perguntar qual era o objectivo. Não estamos perante um ajuste de contas em nome de justiça? A manipulação da opinião pública, com beneplácito de grandes nomes da sociedade civil e até com vuvuzelas de grandes opinion makers não seria nova nesse sentido, afinal já nos foi provado que não interessam os meios quando os objectivos são políticos.
Em Namicopo, uma agente da Polícia foi violada por 15 manifestantes durante assalto à esquadra. O que efectivamente se reivindicava nos meios das pernas de uma outra vítima do mesmo sistema? O prazer? Na mesma linha, podemos nos questionar sobre o fogo colocado numa viatura de funerária, concretamente de transporte de corpos para sepultamento em vala comum. O objectivo dos manifestantes que atearam fogo nesta camioneta era de impedir o sepultamento de corpos não reclamados? Se o Estado parar de prestar aquele serviço, alguém vai ter nariz para pelo menos passar perto de uma morgue a exalar cheiro putrefacto de corpos não reclamados? Alguém vai aceitar chegar a uma morgue e ver corpo do seu ente querido abandonado no chão por falta de gavetas disponíveis para conservá-lo? E o que dizer do custo que vamos pagar dentro de algum tempo pelo saco de cimento que aos poucos está a se tornar ouro, visto que os comerciantes preferem fechar do que aderir a um preço imposto, sem obedecer a nenhuma lógica de cadeia de mercado?
Estes são alguns exemplos de comportamentos que vimos em tudo que é lado. Não há mais limites e ninguém ousa questionar. O VM, que se comunica todos os dias, incentiva algumas práticas e mete-se em silêncio sobre outros assuntos quando o convém. Sobre a decapitação de Morrumbala não disse nem uma palavra. Nem parece o pai ideológico do “dente por dente”. Não há duvidas que lhe interessa a desgovernação para provar o que todos sabemos: o esgotamento da Frelimo. Mas por outro, o seu silêncio só pode ser interpretado de duas maneiras: Ou é cúmplice do recrudescimoento da anarquia ou sua obsessão pela aceitação não lhe permite dizer não sob risco de não ser ouvido, e cair o pano de que, afinal, não tem controlo do suposto povo que usa do seu nome para fazer e desfazer.
Tudo bem que todos somos moçambicanos, mas é preciso olhar para o sujeito do voto. Os políticos não podem se limitar em apoio, é preciso consciência de que um voto de 15 estupradores vale muito menos do que um voto dessa mesma vítima. A qualidade dos sujeitos faz diferença.

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