Sucessão: de atraso na Frelimo a uma sucessão de atrasos

EDITORIAL

Nyusi está a criar sua forma de processo de sucessão, olhando simplesmente para dentro da Frelimo, ignorando a magnitude da Frelimo e a sua relevância como um Partido – Governo, aliás, Estado. Os impactos dessa “forma de sucessão” estão a ser discutidos apenas dentro da Frelimo e reduzidos apenas à própria Frelimo. Infelizmente, os debates externos estão a ser encarrados como intromissão e com alguma hostilidade, como se a própria Frelimo não tivesse a visão clara da sua grandiosidade. Ora, qualquer um que queira influenciar na escolha do próximo Presidente da República, seja militante ou hostil a Frelimo, sabe que só pode o fazer direcionando as suas contribuições/críticas a Frelimo como partido/Estado ou simplesmente como partido.

A oposição não transmite qualquer confiança ou ambição de querer ir mais além. E, quando se deixa de buscar ir mais além, não se consegue nem se manter onde se está. A Renamo de Ossufo Momade está a viver o sonho de manter-se como o segundo maior partido do país. O MDM, o sonho de ser o terceiro.

Esta configuração política, enquanto não muda, leva-nos a uma convicção óbvia: o Presidente da República virá da Frelimo e passa a ser um imperativo nacional o debate sobre o perfil dentro do partido, com vista a influenciar a própria Frelimo a trazer o seu melhor candidato, internamente consensual. Porque, qualquer erro interno, terá uma magnitude maior dentro do Estado. Ou seja, a discussão do sucessor de Filipe Nyusi, dentro do partido, não é um assunto exclusivo a Frelimo, mas uma agenda que a princípio devia ser pontual para desbloquear o país da incerteza, assombrado pelas especulações de que se Nyusi tivesse qualquer chance de continuar nos destinos da Nação.

Enquanto a Frelimo reduz o tema ao partido, o atraso destas discussões tem agora efeitos sobre a economia e ambiente político do País. Porque a Frelimo está atrasada na escolha do seu candidato, todo o país anda atrasado. Incluindo a oposição, que não tem candidatos.  Só agora, a oposição já tem as datas marcadas para os seus congressos/Conselho Nacional, seguindo, desta forma, a reboque da Frelimo.

Mas o maior penalizado pelo arrastamento do processo de sucessão dentro da Frelimo, não são os pré-candidatos confessos, entregues a incerteza e exaustos pela infinita espera, é a economia, que não aguenta manter-se por muito tempo numa incerteza política, num país como o nosso, onde a política se sobrepõe sobre todos os sectores.

Os próprios processos eleitorais são colocados na mesma esteira de atrasos. Empurrados a ser discutidos por cima de joelho. É o que se pode dizer do processo da revisão da legislação eleitoral que regula eleição do Presidente da República e dos deputados da Assembleia da República (Lei n.º2/2019, de 31 de Maio que altera a Lei n.º8/2013 de 27 de Fevereiro), que de tanto ser discutido tarde, acaba por não ser inclusivo. Estamos a reduzir um processo de desenvolvimento de um país à protecção de um indivíduo.

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