Triunfalismo que expõe à insegurança é também terrorismo

EDITORIAL

O saldo das últimas acções terroristas e a exibição de força deste grupo constitui a mais visível exposição das limitações das nossas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e, mais dramático, mostra a insensibilidade do Governo, ou pelo menos de quem compete garantir a segurança nacional.

Muitas questões surgem e até teses de conspiração ganham eco, pelo facto dos terroristas estarem a circular à vista de todos, orientar comícios na sede distrital de Quissanga, permanecer longas horas na mesma aldeia, improvisar portagens, terem o trajecto conhecido… e, no entanto, nada lhes suceder. Pelo contrário, são sacrificados alguns membros dos postos policiais local, que quando são surpreendidos fogem do inimigo, afinal pouco se pode fazer quando os terroristas deixam cada vez mais claro que têm informações privilegiadas das posições das FDS e das fragilidades das mesmas.

Mais dúvidas crescem quando o governo é o primeiro a desdramatizar os efeitos das acções dos terroristas, a ponto de sensibilizar a população a manter-se em zonas ameaçadas pelos terroristas e em muitos casos usar a sua força bélica para impedir a fuga das comunidades na sua procura pelos locais mais seguros. Terrorismo não são apenas acções macabras dos jihadistas, a significância dos termos pode ser extensivo a qualquer discurso que concorre para expor as comunidades às acções terroristas, e infelizmente negar a verdade, seja por arrogância ou ignorância, por triunfalismo ou optimismo, constitui também um acto terrorista.

É aqui onde o Executivo vira cúmplice e assume uma posição suspeita. O governo não esconde a sua intenção de imprimir uma dinâmica de que está tudo controlado em Cabo Delgado, aliás, foi esse o discurso de ministro de Defesa nas suas últimas declarações à imprensa, minimizando as vidas que num passado recente vivenciaram a brutalidade dos terroristas e antes que as feridas dos traumas se curassem se esbarram de novo com o mesmo inimigo. É preciso que se assuma que apesar de a situação estar controlada, há zonas de risco e apontá-las. Negar isso não se difere de ser terrorista, afinal expõe as pessoas à insegurança.

Em menos de três semanas, pelo menos até final de Fevereiro, chegaram no distrito de Eráti, província de Nampula, neste que é o novo destino dos que buscam refúgio, 67 mil deslocados. E o número cresce a cada dia. Mas a resposta do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres é um autêntico desastre.

E de onde vieram a vida parou. A nível de educação, 157 escolas encontram-se fechadas em consequência das acções terroristas. Só no distrito de Chiúre, em Cabo Delgado, 40 escolas fecharam devido aos últimos ataques terroristas. Esta é uma situação humanitária que não comove as autoridades.

O único que não se comove é o Governo, cuja preocupação está em Palma. Equivale dizer que o nosso Governo é hostil às nossas vidas. E quando diz que a situação está controlada reduz à sua visão a segurança dos recursos de Cabo Delgado e não das pessoas. É justamente por isso que todos os recursos bélicos são mobilizados para protecção das infra-estruturas de Palma e Mocimboa da Praia. Este último é a saída e a entrada dos ruandeses, através do Aeródromo da vila sede, enquanto que Palma é onde está centrado o projecto de Afungi. Aqui a segurança é mais sofisticada que o próprio distrito de Mueda, que acolhe a maior base militar. 

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