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- Só voltam depois do pagamento das horas extras
- “Não vamos retomar as aulas sem clareza sobre o pagamento das horas extras…”
- Alunos temem que a greve influencie no seu aproveitamento pedagógico
- Direcção apoia-se em problema técnico para justificar o não pagamento
Há um aparente divórcio entre os professores do curso nocturno e o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano na capital moçambicana. Desde Outubro de 2022 que os professores do grosso das escolas da Cidade de Maputo não recebem o pagamento das horas extras. Fatigados pela falta de seriedade da instituição que chancela o sector da educação na capital moçambicana, os educadores decidiram paralisar, na última semana, as aulas. Quem saiu prejudicado com a decisão dos professores são os alunos que apelam a quem é de direito para responder pelas reivindicações da classe docente. Artur Dombo, director do Serviço de Assuntos Sociais da Cidade de Maputo, legitimou as reivindicações dos professores, tendo referido que “estamos a trabalhar junto às finanças para ultrapassar este problema técnico que estamos a ter agora para o pagamento das horas extras”. Por outro lado, Dombo apelou aos professores para retomarem as aulas com a promessa de que o problema será brevemente resolvido.
Duarte Sitoe
Aquando das reivindicações dos professores relacionadas com a implementação da Tabela Salarial Única (TSU), o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse, em viva voz, que os mesmos tinham que “ beber água e deixar o Governo trabalhar”. Entretanto, desta vez foram os professores que mandaram o Executivo beber água.
Na última semana, no grosso das escolas da Cidade de Maputo, os docentes decidiram atirar o giz e o apagador no chão em reivindicação aos recorrentes atrasos no pagamento das horas extras, uma vez que viram pela última vez a cor do dinheiro em Setembro do ano passado.
Os docentes referem que já enviaram muitas cartas para as direções das escolas e para o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) a pedir esclarecimentos sobre o assunto, mas, debalde, até esta parte ainda não tiveram resposta. Como forma de mostrar o seu descontentamento decidiram paralisar as aulas.
O Evidências visitou algumas escolas, com destaque para Francisco Manyanga e Escola Secundária Eduardo Mondlane, e constatou que os alunos se fizeram as salas, mas os professores não marcaram presença.
Um docente que preferiu se identificar pelo nome de Ananias Miguel referiu que a classe está agastada com a situação e, sobretudo, com o silêncio do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.
“É uma autêntica falta de respeito para com os professores o que está acontecer. Quando se trata de faltas as escolas marcam numa velocidade na luz, mas agora que se trata de explicações sobre o pagamento das horas extras abraçam o silêncio. Não é fácil continuar a trabalhar nestas condições. Não podemos continuar a trabalhar sem ganhar nada, por essa razão decidimos paralisar as actividades como forma de mostrar o nosso descontentamento”, disse Miguel para depois referir que os professores engoliram as injustiças da TSU, mas não estão dispostos a lutar até as últimas consequências pelo valor das horas extras.
“Nós já fizemos a nossa parte. Agora, estamos no aguardo do posicionamento do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano. Quando reivindicamos por conta das incongruências da Tabela Salarial Única disseram que tínhamos que beber água, mas desta vez não vamos retomar as aulas sem clareza sobre o pagamento das horas extras do ano passado e dos primeiros meses do ano em curso”.
Através de uma carta datada de 23 de Março do corrente ano, os professores da Escola Secundária Eduardo Mondlane solicitaram ao director daquela instituição de ensino informações sobre as remunerações dos seus ordenados relativo as horas extras dos meses de Outubro e Novembro do ano passado, assim como dos primeiros três meses do corrente ano.
No entanto, o director da Escola Secundária Eduardo Mondlane optou por abraçar o silêncio perante as reivindicações dos docentes que entendem, por sua vez, que se trata de desrespeito à classe que tem se sacrificado desde o ano passado.
“Entendemos aqueles que tinham o dever de nos dar informação sobre o pagamento das horas extras estavam a nos faltar com respeito por não nos responderem as cartas. Perante esta situação decidimos paralisar as aulas do curso nocturno até que sejam esclarecidas as nossas inquietações que se prendem com os pagamentos dos valores que são devidos. Infelizmente, só vamos retomar as nossas atividades, depois do pagamento dos ordenados relativos as horas extras do ano passado e do corrente ano”, disse a fonte.
Alunos desesperados com a greve dos professores
Para além das escolas secundarias Francisco Manyanga e Eduardo Mondlane, o descontentamento em relação ao não pagamento das horas extras estende-se para Escola Secundária de Trunfo e Quisse Mavota.
Se em Triunfo os docentes exigem esclarecimentos sobre a fórmula do cálculo para o pagamento das horas extras do corrente ano lectivo, na Quisse Mavota os professores decidiram por unanimidade paralisar as aulas do curso nocturno, tendo adiantado que só voltam a pegar no giz e no apagador depois de serem canalizados todos os valores em atraso.
Os docentes estão dispostos a continuar o braço-de-ferro com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano até as últimas consequências. Contudo, este cenário deixa os alunos em desespero, uma vez que os mesmos entendem que o seu aproveitamento pode estar em risco.
Horácio Magaia, aluno da Escola Secundária Eduardo Mondlane, estava visivelmente frustrado por saber que não teria aulas pelo segundo dia consecutivo, uma vez gastou dinheiro de transporte para sair do bairro Jardim para aquele estabelecimento de ensino.
“É deveras frustrante o que está acontecer. Esta semana só estudamos apenas um dia. Estamos aqui, mas os professores já nos informaram que não vão dar aulas. Acho que a direcção da escola tinha que explicar os alunos o que está acontecer. Como estudantes, não estamos na posição de condenar a decisão dos professores, porque eles estão a reivindicar os seus direitos e acho que faríamos o mesmo no lugar deles. Acredito que esta situação pode afectar o nosso desempenho académico e, por isso, pedimos a quem é de direito para resolver a situação dos professores o mais breve possível”.
Érica Langa, aluna da Escola Secundária Francisco Manyanga, por sua vez, lamentou a falta de comunicação ao nível daquela instituição do ensino, uma vez que os professores paralisaram as aulas e a direcção da mesma abraçou o silêncio.
“Este ano temos exames e quando acontece este tipo de situações temos motivos de sobra para estarmos preocupados. Esta era a semana de testes, mas, infelizmente, não estamos a fazer. A direcção da escola foi previamente comunicada pelos professores sobre a paralisação das actividades, mas ainda não se pronunciou. Ao meu ver a direcção devia informar os alunos sobre o que está acontecer e, sobretudo, da previsão do retorno à normalidade porque não podemos vir à escola para passear”.
“Estamos a ter um problema técnico, mas a qualquer momento nós vamos pagar”
De acordo com informações na posse de Evidências, Noroeste 1, Josina Machel, Lhanguene e Heróis fazem parte do rol das escolas em que os professores decidiram paralisar as aulas por falta de pagamento das remunerações dos seus ordenados relativo as horas extras dos meses de Outubro e Novembro do ano passado assim como dos primeiros três meses do corrente ano.
Na sua versão dos factos sobre as reivindicações dos docentes, Artur Dombo, director do Serviço de Assuntos Sociais da Cidade de Maputo foi parco nas palavras, tendo declarado que a sua instituição ainda não liquidou a dívida que tem com os professores do curso nocturno devido a um problema técnico.
“Reconhecemos, de facto, que há esta realidade, mas, como cidade, estamos a trabalhar junto às finanças para ultrapassar este problema técnico que estamos a ter agora para o pagamento das horas extras. De facto, estamos a ter um problema técnico, mas a qualquer momento nós vamos pagar”, explicou Dombo.
Prosseguindo, o director do Serviço de Assuntos Sociais da Cidade de Maputo apelou aos professores para retomarem as aulas com a promessa de que o problema será brevemente resolvido.



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