Salvação da LAM vem de uma empresa que nunca salvou ninguém

POLÍTICA
  • Fly Modern Ark visto a lupa pelo CIP
  • Companhia sul-africana foi rejeitada no Zimbabwe e África do Sul
  • Tentou a mesma estratégia para no fim ficar com acções mas o plano não funcionou
  • CIP desconfia que Governo esteja a privatizar a LAM sem lançar concurso

As Linhas Áreas de Moçambique, empresa que a par da TMcel tem sido nos últimos anos um fardo pesado para Estado, vai, a partir do corrente mês de Abril, ser gerida por uma comissão de gestores internacionais que entre seis ou doze meses terão a árdua missão de tirar a companhia de bandeira do vermelho. Segundo adiantou o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, trata-se da companhia sul-africana Fly Modern Ark, uma empresa que doa 10% dos seus lucros para a ANC, que vai trazer seus aviões e outros equipamentos de modo a ajudar o País a melhorar a gestão da companhia de bandeira. Entretanto, apoiando-se no padrão da companhia sul-africana, conhecida por caçar acções nas empresas à beira da falência, no mercado aéreo da região Austral, o Centro de Integridade Pública (CIP) desconfia que o Governo pode ter privatizado a LAM de forma indirecta sem que tenha sido lançado um concurso internacional.

Duarte Sitoe

Depois dos estudos anunciados no ano passado, visando tirar as Linhas Áreas de Moçambique da falência, o Governo tomou a decisão de nomear uma comissão internacional para gerir os destinos da companhia de bandeira nos próximos seis meses e a empresa sul – africana Fly Modern Ark foi a escolhida para o efeito.

A privatização da companhia de bandeira era um dos cenários que estava em cima da mesa. Contudo, o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, referiu que o Governo não avançou para a privatização das Linhas Aéreas de Moçambique porque o País estaria a despender um valioso activo, tendo igualmente assegurado que a Comissão internacional vai melhorar a imagem daquela empresa estatal.

Nos próximos seis meses, a gestão da LAM estará a cargo de uma equipa mista, liderada por uma companhia internacional que, juntamente com alguns membros da actual equipa nacional, vai trabalhar para tirar a instituição liderada por Pó Jorge da crise que se encontra mergulhada, sendo que, de acordo com Magala, depois deste período o Governo pode avançar a privatização da companhia de bandeira.

“Neste momento, o que precisamos é reestruturar, realinhar, cortar gorduras e estabilizar as contas, para permitir que haja, depois, uma melhor decisão”, disse Magala, destacando que tanto a LAM, assim como a Tmcel, ambas com dívidas que ascendem mais de 300 milhões de dólares, actualmente estão com um valor abaixo de um dólar.

A Fly Modern Ark é uma empresa especializada em leasing e venda de aeronaves executivas e de helicópteros de todos os tipos, no aluguel de jactos particulares a médio e longo curso e no monitoramento e gerenciamento de aeronaves executivas, sendo que é igualmente conhecida por caçar acções em companhias áreas em situação de falência com propostas e planos de reestruturação milagrosos em troca de acções.

Há risco da Fly Modern vir a ser paga em acções

A título de exemplo, em 2017, aquela companhia sul – africana aliciou o Governo de Zimbabwe com uma proposta para equipar a Air Zimbabwe, companhia nacional daquele país da SADC, com equipamento turboélice da fornecedora chinesa Xian Aircraft Company em troca de 25% das acções da empresa, porém a proposta foi recusada.

Gorada a possibilidade de adquirir acções na companhia de bandeira das terras de Robert Mugabe, a Fly Modern Ark aliou-se a  Cerberus Capital Management, empresa norte – americana e um dos maiores administradores de activo no mundo, para oferecer 21 mil milhões de rands em troca de uma participação de 51%, mas a proposta foi recusada pelo governo sul – africano.

A empresa dirigida por Theunis Christiaan deKlerk Crous, um empresário politicamente influente que doa 10% dos lucros das suas empresas para o Congresso Nacional Africano(ANC), partido com uma amizade histórica com a Frelimo, ainda mantém intactas as aspirações de adquirir acções de uma companhia área na África Austral para dar o pontapé de saída do seu projecto de se tornar uma referência no sector aéreo no continente africano.

Aliás, tudo indica Amizade entre a Frelimo e ANC pode ter influenciado a escolha da Fly Modern Ark para dirigir os destinos da LAM, sendo que a companhia liderada por Crous,   que olha este cenário como uma oportunidade de ouro para finalmente adquirir acções uma empresa aérea da África Austral, uma vez que depois de seis meses o Governo pondera avançar com a privatização da companhia de bandeira.

No entanto, o Centro de Integridade Pública (CIP) observa que a companhia sul – africana está mesmo interessada em adquirir acções da LAM, mas desconfia que o Executivo tenha privatizado indirectamente a companhia aérea sem lançar c concurso internacional

“O padrão de actuação da Fly Modern Ark no mercado aéreo regional não deixa dúvida de que pode estar interessada em adquirirparticipações na LAM, como possível contrapartida. Tal pretensãonão é em si problemática, mas pode acarretar sérios riscos como,por exemplo, a privatização da LAM de forma indirecta sem quetenha sido lançado um concurso internacional”, refere o CIP.

Por outro lado, o CIP aponta que o Executivo refere que, a bem da transparência, o Governo deveria tornar público o estudo e os principais resultados que culminaram com a escolha da Fly Modern Ark para dirigir os destinos da companhia de bandeira nos próximos seis meses.

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