Um dia depois da solução da LAM, PCA do IGEPE reuniu com direcção e explicou quem manda

DESTAQUE POLÍTICA
  • Há aparente desalinhamento entre IGEPE e Ministério dos Transportes e Comunicações
  • “Estamos a tratar das questões administrativas” – Ana Senda

A relação entre o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) e o Ministério de Transporte e Comunicações (MTC) não é descrita como saudável, na gestão das empresas tuteladas pelo pelouro de Mateus Magala. Um dia depois do ministro de Transportes e Comunicações, anunciar a passagem de gestão da LAM para uma comissão de gestores internacionais, a presidente do Conselho de Administração do IGEPE, Ana Isabel Senda, reuniu-se com os directores da companhia de bandeira para esclarecer que estes devem seguir toda matriz sob a sua liderança, mostrando, dessa forma, uma percepção de desalinhamento com o anunciado pelo ministro. No entanto, em conversa com Evidências, limita-se em afirmar que “estamos a tratar de todas as questões administrativas para que aquela empresa (Fly Modern Ark) venha”

Evidências

É um conflito histórico e foi experimentado por quase todos ministros que passaram pelo ministério de Transportes e Comunicações. A fusão entre Mcel e TDM foi liderada pelo IGEPE, até ao passado, quando estavam a ser noticiadas faltas de salários aos funcionários da Tmcel, IGEPE insistia em afirmar que a fusão foi um sucesso. Na semana passada, foi o ministro de Transportes e Comunicações a anunciar que a empresa, à semelhança da LAM, será intervencionada, porque na condição actual não vale sequer um tostão.

Depois de muita preocupação em relação ao facto de Março, o mês prometido para o anúncio da solução para as empresas estatais em situação de falência técnica, ter passado sem a tão prometida fórmula mágica, eis que, com um atraso de apenas cinco dias, o ministro veio a terreiro para cumprir com o que prometera, mas também para anunciar uma verdadeira revolução no sector dos Transportes e Comunicações, dando uma visão de transversalidade entre os diversos sistemas.

Mas a grande decisão e a mais aguardada era sobre o futuro da LAM e Tmcel duas firmas endividadas até ao pescoço, devendo mais de 300 milhões de dólares cada, o que faz com que não valham mais de um metical no mercado neste momento.

Mateus Magala anunciou que as Linhas Áreas de Moçambique vão passar para uma comissão de Gestão Internacional,  já a partir do mês em curso. É uma comissão formada pelos gestores da sul-africana Fly Modern Ark que terá entre um ano a 18 meses para resgatar e assegurar a sustentabilidade da companhia de bandeira.

“Os gestores internacionais vão trabalhar com a gestão actual. Todos eles disseram que a marca LAM tem muito valor. O mercado onde a LAM opera tem potencial e o que precisamos é realmente reestruturar, realinhar, cortar gorduras e pôr a LAM numa situação boa financeiramente”, salientou Magala, assegurando que a nova estrutura seria supervisionada pessoalmente por si, envolvendo também o IGEPE, a actual gestão da LAM e a comissão internacional.

Curiosamente, um dia depois desta afirmação, a PCA do IGEPE, Ana Senda reuniu-se com os directores das áreas Comercial, Operações, Técnico, Qualidade, Finanças e Segurança Interna, para partilhar aquilo que para o Evidências chamou de “questões administrativas para que aquela empresa (Fly Modern Ark) venha”.

Seguir toda a matriz sob liderança dela

Na descrição de alguns dos presentes na reunião, o encontro visava garantir o conforto a direcção. Ela disse, cita a fonte, que os gestores deviam seguir toda matriz sob a liderança dela. Todas as operações continuariam a ser feitas por ela, qualquer sugestão ou proposta devia ser remetida ao conselho por si liderado. Lembre-se que a companhia da bandeira é gerida por uma direcção geral, mas o Conselho de Administração é dirigido pelo IGEPE.

A intervenção da Ana Senda incluía, de acordo com os presentes, afirmações como “nada muda”, “continuem a trabalhar normalmente”, porém interpelada pelo Evidências, a PCA do IGEPE começou por pedir um tempo para poder fazer umas consultas por forma a responder-nos.

Passado algum tempo, retornou a chamada para em parcas palavras afirmar que não proferiu tais afirmações, limitando-se em dizer “só isso é que posso dizer. Neste momento estamos a tratar de todas as questões administrativas para” que os gestores internacionais venham.

É preciso lembrar que na apresentação das propriedades estratégicas do sector, Magala não fez referência do IGEPE como estrutura máxima. Detalhou, no entanto, que a nova estrutura, que vai trabalhar para resgatar e tornar sustentável as linhas áreas de Moçambique, inclui o ministro dos Transportes e Comunicações, a presidente do Conselho de Administração do Instituto para Gestão das Participações do Estado – IGEPE – bem como a Comissão de Gestores Internacionais.

“Se nós decidíssemos em privatizar estaríamos a perder um activo que tem um valor muito grande, mas que neste momento não tem esse valor”, sublinhou.

De lembrar que, no ano passado, o Governo encomendou um estudo, pago pelo Banco Mundial, sobre o que fazer com a LAM. O seu conteúdo não foi partilhado, mas foi entregue ao Governo em Dezembro passado. Das fontes, apuramos que o estudo recomendou três saídas, nomeadamente deixar a LAM falir; injectar 300 milhões de USD ou encontrar um parceiro estratégico. O Governo ponderou e optou pela ultima opção e descartou as primeiras duas recomendações.

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