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- Só havia seis vagas de emprego e igual número de vagas de estágio
 - Muitas empresas foram à feira de emprego para vender os seus produtos e serviços
 - As poucas vagas disponíveis exigiam experiência entre cinco e 10 anos
 
A Feira Nacional de Emprego, realizada esta sexta-feira, 08 de Agosto, tinha tudo para ser um momento de celebração e esperança. No entanto, o que deveria ser uma ponte para o futuro da juventude moçambicana transformou-se num palco de frustração e desilusão. O evento, que prometia ligar talentos a oportunidades, acabou por expor as profundas falhas nas políticas públicas de emprego e a forma como a juventude é tratada. Com apenas seis vagas de emprego disponíveis e igual número de vagas de estágio, milhares de jovens, muitos munidos de CV e diplomas de licenciatura e mestrado, afluíram ao local e saíram desiludidos. Para associações juvenis, o que aconteceu foi uma demonstração da falta de um plano estrutural para a juventude no País. A confusão, a má organização e as exigências desproporcionais das poucas empresas que estavam a recrutar levantaram sérias questões sobre as políticas públicas e o verdadeiro propósito de eventos como este. Um dos aspectos que mais chamou atenção é a exigência de um de entre cinco e 10 anos de experiência.
Luísa Muhambe
A esperança era visível nos seus rostos, uma esperança que, infelizmente, se desfez rapidamente. A desorganização era palpável, com a presença de cerca de 60 empresas, que colocaram à disposição apenas seis vagas de emprego e igual número de vagas de estágio, a revelar-se insuficiente para a avalanche de candidaturas.
Milhares de jovens, muitos deles com diplomas de licenciatura e mestrado, afluíram à feira na esperança de encontrar um emprego. O evento, que decorreu num único dia e em simultâneo com a VIII Conferência Nacional da Juventude, acabou por se tornar um palco de desorganização, frustrando as expectativas de quem buscava uma oportunidade.
A coincidência do espaço e hora entre a feira de emprego e a sempre politizada feira de emprego acabou por aumentar ainda mais a frustração no seio dos jovens. A indignação não foi somente por falta de vagas de emprego propriamente ditas, mas sim uma aparente instrumentalização do desemprego para montar uma ratoeira visando atrair os jovens para o discurso do Presidente da República que aconteceria naquele espaço, sem que muitos tivessem tido informação prévia.
Segundo vários relatos, após visitarem os stands, os jovens foram encurralados numa sala onde iria decorrer a Conferência da Juventude, e cujo discurso de abertura seria proferido pelo Presidente da República, Daniel Chapo. O objectivo aparente era criar a ilusão de um auditório cheio, mas, para as associações juvenis, a atitude revela um desrespeito pela juventude e pelas suas aspirações.
A ordem expressa: “ninguém sai e ninguém entra, até à chegada do Presidente da República”, confirmou as suspeitas de que o evento tinha um viés mais político do que prático, segundo quem quase se viu encurralado na gigantesca sala multiúsos do Centro de Conferências Joaquim Chissano.
Muitos dos jovens, na sua maioria convocados por via de apelos das redes sociais, referiram não terem sido previamente informados de que deviam participar da Conferência Nacional da Juventude para decorarem a sala durante o discurso do Presidente da República, por isso forçaram a sua saída, o que deu início a uma grande confusão do lado exterior.
Frustração e a falta de um plano estrutural
É que em termos objectivos, apesar da presença de dezenas de empresas na exposição, quase todas elas não tinham nenhuma oportunidade de emprego a oferecer. Antes pelo contrário, estavam ali para vender os seus produtos e serviços como se de uma feira se tratasse.
Como tal, a vitrine escancarava a triste realidade. Perante uma multidão de jovens que algumas estimativas arriscam-se a presumir tratar-se de mais de 10 mil jovens, apenas havia na exposição seis vagas de emprego e igual número de oportunidades de estágio.
As expectativas dos jovens foram frustradas. O evento expôs uma realidade dura: a discrepância entre a qualificação dos jovens e as oportunidades de emprego reais. Michael Mirante, coordenador de projectos da Associação para o Empoderamento Juvenil, afirmou que a feira não cumpriu o seu propósito.
“Não temos planos estratégicos para o jovem, ainda não se definiram planos concretos para os jovens. Cada país tem um plano, qual é o plano do país para os jovens?”, disse , questionando a ausência de um plano específico.
Mirante acredita que o fracasso da feira “revela um facto que estava escondido atrás dos vícios e prostituição, que é a falta de oportunidades reais”, e que o problema do desemprego é tratado de forma superficial, sem a dimensão real que exige.
O representante da associação sublinha: “não se faz um esforço para achar soluções” e que o problema é tratado de forma superficial: “Não se dá ainda a importância a isso, não se olha a dimensão real do problema. Os programas são tratados de forma superficial. Não há um programa estrutural para os jovens.”
A visão é partilhada por Luís Orlando, representante da Visão Juvenil, que considera que o evento não foi um sucesso “porque o governo não consegue abranger a camada juvenil.”
Orlando aponta para a discrepância entre o discurso e a realidade, questionando como é possível a promessa de emprego para milhares quando as vagas são escassas. Para ele, a principal falha é a falta de inclusão.
Orlando sublinha o papel crucial das associações juvenis na sociedade moçambicana. Eles insistem na necessidade de mudanças para abranger mais jovens e propõem a criação de iniciativas concretas.
“A sociedade civil ou as organizações juvenis mostram ao governo que existem jovens que têm imensas capacidades para o talento que é o emprego, precisamos de mudanças para abranger mais jovens na inclusão do trabalho,” propõe.
A indignação dos jovens foi amplificada pelas exigências desproporcionais de algumas empresas. Para além de qualificações como licenciatura ou mestrado, exigiram entre cinco e 10 anos de experiência, uma realidade que desmotiva os recém-formados.
O evento de Maputo é visto pelas associações juvenis como um sintoma da ausência de um plano estrutural para os jovens e a necessidade de um plano estratégico e estrutural para a juventude é, mais do que nunca, urgente.



											
						
						
						
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