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O antigo presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, alertou esta terça-feira que a suspensão das operações da Mozal poderá desacelerar o crescimento económico e influenciar negativamente a confiança dos investidores no país.
Vuma falava durante a inauguração da Fundação para a Competitividade Empresarial (FUNDEC), onde analisou os impactos económicos da paralisação de um dos maiores projectos industriais e exportadores de Moçambique.
Segundo o antigo dirigente da CTA, a decisão de suspender a Mozal representa um impacto significativo para a economia nacional, afectando directamente o sector industrial transformador e provocando efeitos em cadeia sobre a logística, energia, serviços e pequenas e médias empresas fornecedoras.
“Esta suspensão das operações da Mozal representa um impacto significativo para a economia moçambicana, dada a sua relevância como um dos maiores projectos industriais e exportadores do país. Haverá uma redução substancial das receitas de exportação e da entrada de divisas, pressionando a balança comercial e o Metical”, afirmou.
No plano laboral, Vuma advertiu que milhares de empregos directos e indirectos ficam em risco, com potenciais consequências sociais sobretudo na região da Grande Maputo. Acrescentou ainda que a redução da procura de electricidade industrial poderá afectar as receitas do sector energético, ao mesmo tempo que diminui a arrecadação fiscal do Estado.
“Em termos macroeconómicos, o crescimento económico poderá desacelerar e a confiança dos investidores ser negativamente influenciada”, sublinhou.
Ano de 2025 marcado por choques múltiplos
Vuma enquadrou a suspensão da Mozal num contexto económico já fragilizado em 2025, ano marcado por vários choques simultâneos. De acordo com estatísticas oficiais, as tensões pós-eleitorais afectaram 955 empresas, resultando na perda de cerca de 17 mil postos de trabalho e prejuízos superiores a 32,2 mil milhões de Meticais.
A estes factores somam-se os atrasos prolongados na retoma dos projectos de gás natural devido ao terrorismo, choques climáticos severos que comprometeram cadeias logísticas, a produção agrícola e o emprego, bem como uma grave escassez de divisas que encareceu importações, reduziu a capacidade produtiva e deteriorou a confiança dos agentes económicos.
Como consequência, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que Moçambique registou três trimestres consecutivos de recessão económica. No primeiro trimestre, a actividade económica caiu 3,92% do PIB, seguida de uma queda de 0,94% no segundo trimestre, acumulando uma contracção de 2,8% no primeiro semestre. No terceiro trimestre, o PIB voltou a recuar 0,85%.
Neste período, o sector secundário registou quebras expressivas, com destaque para Electricidade, Gás e Água (-29,4%), Indústria Transformadora (-9,5%) e Construção (-2,2%). O sector dos serviços seguiu a mesma tendência negativa, com a Hotelaria e Restauração a recuar 11,4%, além de contracções no Comércio e Transportes.
“Estes números não representam apenas estatísticas — representam empresas, empregos, famílias e um país inteiro a navegar em dificuldades e incertezas”, observou Vuma.
No plano fiscal, a pressão também se intensificou. Segundo o responsável, as projecções do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) 2025 terão de incorporar um crescimento adicional de 1,3 pontos percentuais, com impacto directo na arrecadação do Estado. Estimativas preliminares apontam para uma perda de receita de cerca de 24 mil milhões de Meticais em 2025 e uma redução adicional de 14,9 mil milhões em 2026, o que poderá elevar o défice orçamental para aproximadamente 114 mil milhões de Meticais.
Perante este cenário, Vuma afirmou que a FUNDEC assume o compromisso de liderar esforços para assessorar e monitorar riscos económicos, fornecendo dados e análises que apoiem políticas públicas, investimentos e processos de reestruturação, com vista à melhoria do ambiente empresarial e económico no país.



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