Adesão massiva das mulheres aos serviços de saúde acelera resposta ao HIV

SAÚDE SOCIEDADE

De acordo com estatísticas nacionais, as mulheres tendem a frequentar mais as unidades sanitárias em relação aos homens, razão pela qual estão mais engajadas na luta contra o HIV, ao permitir que o seu estado serológico seja descoberto na sua fase inicial, para permitir a eficácia do tratamento. Onésima Matsolo é exemplo típico disso, com 19 anos descobriu que era seropositiva, aderiu ao tratamento e quando decidiu ter filhos, seguiu todas as recomendações médicas e dois dos seus três filhos nasceram sem o vírus.

Neila Sitoe

Celebrou-se no passado dia 01 de Dezembro o dia internacional de luta contra o HIV e Sida, numa altura em que em todo mundo regista-se uma ligeira redução do número de casos de novas infecções.

Moçambique faz parte dos 35 países prioritários para acelerar a resposta ao HIV, que tinha em vista controlar a epidemia até 2020 e eliminá-la até 2030 e segundo os dados do Relatório Anual das Actividades Relacionadas ao HIV/SIDA 2020, no país, apenas 82% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu seroestado e 81% dessas pessoas deviam estar em TARV, mas apenas 68% estavam em TARV, e no mesmo período 73% deviam atingir a supressão viral, porém só 56% tinham a supressão viral.

E destes dados, as mulheres são as que mais contribuíram, com 83% das mulheres vivendo com HIV que conhecem o seu estado, das quais 73% estão em tratamento. Dos homens, 74% dos que vivem com HIV conhecem o seu seroestado e 62% estão em tratamento, o que destaca a necessidade de se engajar o homem nos cuidados e tratamentos de HIV, para que esteja ao mesmo pé de igualdade com a mulher a acelerar a resposta ao HIV.

Onésima Matsolo, nome fictício, descobriu que era seropositiva aos 19 anos de idade, após ter feito um teste de HIV durante uma feira de saúde. Diz que fazia o teste regularmente e cuidava constantemente da sua saúde, mas não sabe como contraiu o vírus.

“Geralmente, quando fazia o teste me davam alguns conselhos rápidos e me entregavam o resultado, mas naquele triste dia o conselheiro falou muita coisa e depois entregou-me o teste, vi que era positivo e ele continuou a aconselhar-me. No momento, não quis acreditar, mas passando alguns dias iniciei o tratamento. Não foi fácil, mas tive que aceitar, criei coragem e contei para a minha família depois de dois anos, alguns apoiaram, uns estigmatizaram e outros ficaram indiferentes, mas segui com a minha vida”, contou.

Três anos depois, Onésima continuava a fazer o tratamento e decidiu juntamente com o seu parceiro ter filhos, conta que na primeira gestação não foi uma boa experiência porque ela estava com muito medo de que o seu filho nascesse com HIV, mas seguiu todas as recomendações médicas dadas durante as consultas pré-natais e o seu filho nasceu saudável, o mesmo sucedeu com o seu segundo filho.

“O meu maior medo era que os meus filhos nascessem seropositivos, mas felizmente os dois nasceram saudáveis. Continuei com o TARV e depois de um tempo o técnico disse-me que a minha carga viral estava indetectável, fiquei muito feliz”, afirmou.

Mesmo assim, a fonte conta que não parou o tratamento, pois o TARV (tratamento antirretroviral), quando feito correctamente, pode reduzir a quantidade do HIV no sangue para níveis tão baixos que se tornam indectetáveis.

Permanecer no tratamento é importante para evitar a replicação do vírus. Mesmo quando a carga viral é indetectável, o HIV ainda permanece no corpo, em estado latente. Quando o TARV é interrompido, o vírus volta a multiplicar-se, tornando-se novamente detectável.

Nem sempre as coisas correm como esperamos

Arlete Banze, nome fictício, é mãe de três filhos, diz ter descoberto que era seropositiva durante a consulta pré-natal na unidade sanitária quando esperava o seu primeiro filho. Conta que a informação a tomou de surpresa e ficou muito triste ao ponto de pensar em querer tirar a própria vida.

“Quando a enfermeira me disse que eu era seropositiva, o meu mundo quase desabou, chorei muito, pensei em suicidar. Cheguei a casa e não consegui disfarçar, meu marido logo notou o meu semblante e perguntou o que se passava, contei-lhe e felizmente ele apoiou-me bastante. Depois voltei à unidade sanitária para prosseguir todas as indicações médicas. O período da gravidez foi bom e pela graça de Deus tive o meu primeiro filho que nasceu seronegativo”, revelou.

O tempo foi passando e Arlete continuava a seguir o tratamento, sentiu necessidade de ter o segundo filho e este também nasceu seronegativo, mas na terceira gestação que considerou uma gravidez tranquila, alguns dias após o parto descobriu-se que o seu filho tinha testado positivo para o HIV.

“Como os meus dois primeiros filhos nasceram seronegativos, decidimos ter mais um filho. Mas para a nossa tristeza este último nasceu seropositivo. Não sei se foi porque tive cesariana e os outros foram por parto normal, mas fiquei muito triste, e infelizmente terei que contar para o meu filho quando ele tiver consciência das coisas, que ele é seropositivo, e apesar de saber que é possível viver com HIV, porque sou um exemplo disso, temo muito a reacção dele”, lamentou.

Tal como o filho de Arlete, várias crianças nascem seropositivas, algumas porque as mães não seguiram o tratamento, outras por complicações que podem ter decorrido durante o parto ou durante o período da amamentação.

De acordo com o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), divulgado na última semana, a cada dois minutos uma criança foi infectada com HIV no mundo em 2020, o que corresponde a cerca de 310 mil crianças. E no mesmo período, causas relacionadas com HIV mataram 120 mil crianças, o que equivale a uma morte a cada cinco minutos, e, destas, 88% das mortes por HIV em menores ocorrem em África.

“São casos não muito comuns, mas acontecem”

Para Gertrudes Joaquim, técnica de saúde, o Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV) não se manifesta, é um vírus que está no organismo e pode ser adquirido através do uso de objectos cortantes não esterilizados, através de relações sexuais desprotegidas, da transmissão vertical de mãe para o filho durante o parto ou na amamentação, entre outras formas, e as mulheres são as mais susceptíveis a contrair esse vírus, mas também são as que mais aderem a testagem, fazem o tratamento e se retêm nele.

“As mulheres são mais suscetíveis a contrair infecções sexualmente transmissíveis, devido ao seu órgão genital que é muito sensível. Basta encostar em algo contaminado, logo fica infectado, por exemplo, se ela tiver uma ITS, facilmente a flora vaginal fica toda infectada, devido a sua anatomia. Mas mesmo assim as mulheres são as mais engajadas aos serviços de saúde, quando tem qualquer problema e em relação ao HIV não é diferente”.

E quando questionada sobre uma gestante que segue com todas as indicações médicas e mesmo assim o filho nasce com o vírus respondeu que “são casos não muito comuns, mas acontecem, por vezes durante o parto se houver rompimento dos vasos no parto normal, ou num parto cesariana se houver muito sangramento. Mas há casos também em que o bebé pode nascer sem o vírus, mas contrai-lo durante a amamentação, o que faz com que algumas mães seropositivas optem por não amamentar os bebés.

A técnica aconselha a todos os que vivem com HIV a aderirem ao tratamento, independentemente do sexo e da idade, porque é possível viver com HIV se fizer o tratamento que é fácil, simples e seguro, e, actualmente a toma é diária, um comprimido por dia e acabou, e a primeira linha de eleição ao tratamento escolhida é um comprimido que se toma logo de manhã e o paciente pode seguir a sua vida normalmente e aos demais para que continuem se prevenindo do HIV, não usando instrumentos cortantes não esterilizados, não terem parceiros múltiplos e a usarem sempre o preservativo ”, frisou.

Ainda de acordo com a técnica, com a pandemia da COVID-19, a retenção dos pacientes ao TARV aumentou devido a inserção destes em modelos diferenciais de diagnóstico, mas infelizmente a inclusão de novos pacientes reduziu, disse.

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