Da democracia à procrastinação partidária

OPINIÃO

Dionildo Tamele

As eleições decorridas no pretérito final de semana do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) mostraram um processo retardado de se fazer política no país, no sentido mais lato. A situação que se verificou desde o início das eleições denotou, não só, um processo tribal, mas também uma lógica da linhagem familiar, cuja perspectiva era favorecer um único candidato, neste caso Lutero Simango, que era o único que tinha uma ligação forte com o fundador desta organização.

Com a morte do fundador desta organização foi notório um debate de sucessão no meio desta organização que mostrava que o novo líder ou melhor o futuro presidente do partido devia sair da família Simango, colocando a organização como sendo uma organização familiar, apenas para a recordar o discurso do tio Simango no funeral, quando disse que a questão da liderança no MDM era um processo dos seus ancestrais.

O discurso de ancestralidade proferido no meio do funeral deve nos levar a duas hipóteses: a primeira é que esta organização nunca devia, de certa forma, ser liderada por uma outra pessoa além dos Simangos, outra pretensão pode-se depreender de que a saída tantos quadros desta organização de tanto valor também pode estar associado a ideia de que o partido nunca teve a ideia de ser um partido da dimensão, do país, mas se limitar não a Beira, mas a família Simango.

Que culpa tem os Simango em liderar esta organização, sendo que os mesmos é que fundaram, outros sim que implicações pode trazer esta atitude, para a organização. As interrogações são várias, desde a estabilidade do partido, a sua projeção ao nível doméstico, internacional, todavia, estas são apenas hipóteses, que podem ser respondidas de forma pragmática, no sentido que os próximos anos serão fundamentais para a estabilidade desta organização.

O Movimento Democrático de Moçambique tentou dar uma aula de democracia quando iniciou este processo, desde o processo das eleições primárias, para se encontrar o substituto do anterior líder da organização, que em simultâneo era presidente. Este processo apenas nos leva a um procedimento que se tem discutido em Moçambique nos últimos anos, associado ao tribalismo, regionalismo, mas se isso for verdade, na presente eleição, pode-se dar um passo mais para trás, no sentido de que este partido político deixou claro que no seio do partido nunca houve democracia, mas apenas funciona como um sistema monárquico, onde o reinado é da família Simango.

Voltemos um pouco para mostrar que esta situação já denotava uma vitória dos Simango na lógica da ancestralidade dita pelo tio. Não se pode, nestas alturas, desconstruir as evidências, dado que a organização partidária sempre deu maior privilégio aos dois irmãos. A certa altura Daviz prestava uma entrevista na Rádio Moçambique. Questionado entorno desta apenas disse que as pessoas tinham inveja da família Simango, porque ninguém imaginava que os dois filhos que estavam em vida poderiam estar na elite política e as posições no seio do partido não eram tomadas por questões familiares, porém pelas competências, mas o que se pode dizer do seu irmão mais velho entorno de competências de liderança, pois nunca demonstrou habilidades para o cargo, e muito menos deu indicações de capacidades políticas para governar.

Nos últimos tempos, em Moçambique, tem se discutido uma questão de suma importância desde o processo da organização política de forma mais ampla que está aliada às discussões que se tem levado a cabo no seio das organizações que estão associados ao debate étnico, entre as pessoas do sul, centro e norte, incrementando um outro elemento que é a família. Este debate não traz de maneira alguma um crescimento à vida política do país, muito pelo contrário, retarda o desenvolvimento democrático da vida política, porque o móbil fundamental de qualquer organização que seja, deve ser de certa forma a sua fortificação.

No meu artigo anterior a este eu propunha que o III congresso do MDM devia ter como sua maior preocupação a sua consolidação das bases no seio do partido, na perspectiva de descontruir, toda a teoria segundo a qual com a morte do seu interno fundador, esta organização também ficava a deriva sem nenhum horizonte.

Outrossim, era da opinião que o próximo líder ou presidente tinha que ser capaz alavancar o partido, para outros patamares em primeira instância, sair da zona do conforto e atingir patamar ainda não alcançados desde que a organização foi fundada, no sentido que a mesma tem limitado apenas a província de Sofala, mas na verdade na cidade da Beira. Tendo em conta que o país tem mais de 10 províncias.

De tal forma que o MDM deve ultrapassar as suas limitações em termos regionais,aos centros urbanos e perceber que fazer política é mais do que estar na Beira mas ir além daquela compreender por uma vez por toda que é uma organização cuja sua dimensão é o alcance do poder no país e não na Beira, tendo em conta que Moçambique é um país que ainda está cheio de muitas zonas periféricas e rurais que precisam ser exploradas ao longo do tempo, sem nenhuma desculpa de questões fraudulentas do partido no poder.

Continuo a não prescindir da ideia de que este novo líder ou presidente tem mais desafios enormes em relação ao seu anterior no sentido de que o mesmo deve ser capaz de ser um aglutinador no seio do partido no sentido que o espírito que se viveu nas últimas eleições foi dos melhores momentos, desde o primeiro dia do congresso por causa de algumas questões da organização entre as delegações e a retirada da candidatura do então presidente interino da organização. Estas coisas denotam os desafios enormes da organização e do seu líder.

Se o ano de 2009 é de relevo para a política, no sentido em que muitos não acreditavam que este partido político pudesse, de certa forma fazer, coisa de suma importância, tendo em conta as experiências anteriores, onde algumas organizações políticas teriam falhado. O terceiro congresso deve ser um marco fundamental não só para esta organização mas para no sentido que o sistema de bipolarização no sistema partidário moçambicano que está instalado deve ser rompido, por esta força política.

Com o presente ensaio não queremos apenas limitar a discussão, a questões democráticas no seio do partido, por entendermos que esta situação ainda muito longe de ser resolvido não só neste partido. Isto por causa da maneira da organização deste congresso, isto dentou que ouve todo um processo maquiavélico, para o alcanço do poder desde a mobilização, étnica, familiar, sem nenhuma discussão, em concreto de ideias que pudessem fortificar o crescimento da organização.

É preciso não comprender que o surgimento do MDM foi visto  como uma alternativa no campo político moçambicano, ao que parece ainda não passou desta condição, faz-se necessário galopar de movimento e ascender para uma categoria mais substancial a de partido, não são os congressos que fazem os partidos, mais estes dentro de um espírito conciliar se fazem partido, os concílios muitas das vezes fazem verbo e ecoam a mensagem definatória que determinados movimentos querem fazer passar a uma nação ou povo, ao que consta, o MDM até então tem alardeado mais não conseguiu expor-se ideologicamente, sendo um reflexo estético e poético daquilo que se chamou dadaísmo no século transitório. Mas é preciso levar em conta que o cenário que caracteriza a actividade política desde o período em que Moçambique se transformou no lugar de debate, a maneira de convivência tornou-se extra social, na medida em que inseridos na sociedade os indivíduos não se reconheciam como membros da mesma, querendo se valer apenas dos benefícios da mesma, criando deste modo um contrato no qual as pessoas rubricam com os partidos políticos interesses alheios ao poder político o que fagocita a politiquice.

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