Promessa do PR aos moradores de Boquisso ainda são se cumpriu

DESTAQUE SOCIEDADE
  • Estrada Ntsivene – Boquisso ainda não está concluída
  • Transportadores agravam a tarifa quando chove
  • ANE rescindiu contrato com um dos empreiteiros por falta de seriedade
  • População pede, uma vez mais, a intervenção do Presidente da República

Os moradores de Boquisso, Mukatine e Vundissa clamaram durante muitos anos pela asfaltagem do troço que liga os três bairros à Estrada Nacional número Um (EN1). Após uma visita ao local, em Novembro de 2019, o Presidente da República, Filipe Nyusi, prometeu a estrada. Em Março de 2020, os moradores dos três bairros viram os seus clamores respondidos com o arranque das obras de asfaltagem daquela importante via de acesso. Entretanto, volvidos quase dois anos, a estrada ainda não foi concluída, o que de certa forma condiciona o transporte de pessoas e mercadorias na época chuvosa.

 Texto: Duarte Sitoe

No dia 13 de Novembro de 2019, em plena pré-campanha, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, interrompeu a sua viagem e desceu do carro protocolar para dialogar com os seus patrões que estavam aglomeradas no Ntsivene, à espera do transporte que tardava a chegar devido ao estado daquela estrada de terra batida, que quando chove se torna intransitável.

Na ocasião, garantiu que a estrada seria asfaltada para minimizar o sofrimento dos residentes dos bairros Boquisso, Mukatine e Vundissa.

A promessa passou da teoria para a prática em Março de 2020. Quando ouviu o roncar das máquinas, a população ficou maravilhada porque um problema que já tinha barbas brancas estava prestes a ser resolvido . Entretanto, quando se caminha a passos largos do segundo aniversário do arranque das obras de asfaltagem daquele troço, ainda não há motivos para celebrar.

A obra não foi concluída e está num autêntico abandono, o que deixa os moradores e os transportadores com os nervos à flor da pele, apelando, mais uma vez, à intervenção do Presidente da República para solucionar o seu problema.

Na altura, sob pretexto de acelerar a asfaltagem dos 5.5 quilómetros do troço Boquisso – EN1, a Administração Nacional de Estradas (ANE) optou por contratar dois empreiteiros. Trata-se da MHL Construções e Logística Limitada, empresa cujos accionistas são Constantino Alberto Bacela, actual ministro na presidência para assuntos da Casa Civil, e a Malala Holding Limitada; foi um dos empreiteiros que ganhou o Concurso Público para a asfaltagem daquela estrada.

A MHL Construções ficou encarregue pela asfaltagem do primeiro troço, ou seja, da Estrada Nacional nº1 até ao novo Posto Policial, tendo concluído a obra nos prazos estabelecidos no contrato que rubricou com a ANE.

Entretanto, o outro empreiteiro não honrou com o compromisso, ou seja, pavimentou apenas um quilómetro, violando o memorando de entendimento rubricado com a ANE.

De acordo com informações na posse do Evidências, a Administração Nacional de Estradas, apoiando-se na falta de seriedade do empreiteiro, viu-se obrigada a rescindir o contrato com o segundo empreiteiro que comprometeu sobremaneira o cumprimento dos prazos.

O desespero de quem viu suas expectativas frustradas

Pedro Martins, motorista da rota Mukatine – Zimpeto desde 2019, é o rosto da desilusão que tomou os utentes daquele troço. Martins lembra nostalgicamente que muitos ficaram animados com a notícia da asfaltagem do troço e correram para construir nos terrenos que adquiriram nos nativos, e agora sentem-se decepcionados.

Se a transitabilidade no troço Posto Policial – Boquisso já é desafiante nos dias normais, a situação complica-se ainda mais quando chove, pois a estrada fica lamacenta, fazendo com que os moradores enfrentem dificuldades para chegarem às suas residências. Como se tal não bastasse os transportadores vêm aumentar o custo de transporte sob pretexto de que nos dias de chuva tem arriscado os seus carros.

É frustrante o que está a acontecer. Quando arrancaram as obras de asfaltagem da estrada recebemos muitos carros interessados em operar nesta rota, mas com o tempo acabaram abandonado o trajecto devido ao estado da estrada, sobretudo na época chuvosa. Todos os fins-de-semana somos obrigados a levar os carros à manutenção, e a suspensão não dura”, declarou visivelmente agastado.

Outro motorista que se identificou pelo nome de Novela declarou que o estado da estrada contribui sobremaneira para a falta de transporte nos dias de chuva, uma vez que não é fácil circular no troço da esquadra para Mukatine.

“Reclamamos e cansamos. Passamos mal aqui nesta via. Depois da esquadra, a estrada está péssima. Pedimos a quem de direito para interceder por nós, porque quando é para nos extorquir a polícia municipal não pensa duas vezes. Tínhamos muitos carros, mas foram arrumados devido a qualidade da estrada. Até a esquadra não temos razões de queixa, gostaríamos que fosse assim todo o troço”, lamentou.

Na opinião de Pedro Macaringue, morador de Boquisso, a Estrada só beneficia os que vão até a esquadra, uma vez que sem nenhuma explicação as obras foram paralisadas ainda em 2020. Macaringue aponta o dedo ao Governo pelo incumprimento da promessa feita por Filipe Nyusi em 2019.

“Para quem sai de Zimpeto para Munhembana pode pensar que toda a estrada está pavimentada, mas infelizmente a estrada ainda não foi concluída. Passamos mal nos dias de chuva devido à escassez de transporte. Os semi-colectivos não andam e os autocarros andam abarrotados. Para os outros, a chuva é sinónimo de bênção, mas para nós é o contrário. Se tivéssemos condições faríamos o possível para terminar a estrada. Quando foi a vez das portagens construíram numa fracção de segundos, porque sabiam que teriam benefícios, é deveras triste o que está a acontecer neste país”, disse.

Pedimos ao Presidente Nyusi para visitar Boquisso, para ver o sofrimento”

Nos dias em que chove, o grosso dos transportadores não se faz a estrada e os poucos que enfrentam as “lagoas” que nascem na estrada aplicam os seus preços.

“A situação da estrada está muito caótica. Os transportes semi- colectivos não se fazem à estrada e poucos que trabalham aplicam seus preços. Antes do reajuste do preço do transporte, em vez de 12 meticais cobravam vinte, e agora que está 15 pagamos 25 meticais. Estamos cientes de que estamos a ser roubados, mas não temos outra opção a não ser acatar a lei dos transportadores”.

Num tom irónico, Stela Macanana pediu ao Presidente da República para, mais uma vez, visitar aquela estrada, com vista a aferir o sofrimento dos moçambicanos que usam a estrada R808, sobejamente conhecida por troço Ntsivene – Boquisso.

“Antes do início das obras de modernização da estrada, embora não fosse frequente, aparecia uma máquina para tapar as covas, com vista a minimizar o sofrimento da população, mas no presente as coisas mudaram, ou seja, sentimo-nos abandonados à nossa própria sorte. Não sabemos o que está a se passar, essa estrada devia ter sido concluída em 2020. Estamos em 2022 e continuamos a sofrer, pedimos ao Presidente da República para visitar Boquisso, para ver o nosso sofrimento na época chuvosa”

Indo mais longe, Macanana acusa os transportadores de se aproveitarem do sofrimento alheio para angariar dinheiro, uma vez que nos dias de chuva fazem leilões para ver quem paga mais por lugar nos semi-colectivos.

“Os autocarros não podem suprir a demanda do transporte. Eles são a nossa bóia de salvação nos dias de chuva. Os semi-colectivos fazem e desfazem no tempo chuvoso, quem não tiver o que eles cobram é obrigado a esperar pelo autocarro, que por sua vez anda sempre cheio, mesmo sendo época em que o país e o mundo debatem-se com a pandemia da covid-19. Se a estrada estivesse concluída não estaríamos a enfrentar esses problemas”.

ANE promete se pronunciar nos próximos dias

Contactada pelo Evidências para se reagir em torno da demora na conclusão da Estrada do troço Vundissa – EN1, a Administração Nacional de Estrada prometeu se pronunciar nos próximos dias, através da sua delegada provincial de Maputo.

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