Afonso Almeida Brandão
Volta não volta, aparecem-nos para aí uns tipos bem falantes a justificarem “as negociatas” que vão fazendo com uns estudos de viabilidade. Aliás, hoje, já ninguém se atreve a chegar ao Banco e pedir um empréstimo ou um subsídio daqueles que outrora eram pedidos à CEE, seja de que natureza fosse (ou mesmo um financiamento ao Banco Mundial), sem ir munido com o respectivo “calhamaço” milagroso debaixo do braço, que funciona — ou funcionava — como bilhete de entrada obrigatório.
Os estudos de viabilidade servem hipotéticamente para se saber por antecipação se um determinado projecto ou negócio tem condições de singrar ou não. Neste último caso, a coisa arruma-se na gaveta e não se pense mais no assunto, pois a Vida já de si é tão complicada que não vale a pena ir atrás de problemas e chatices.
Só que, na realidade, as coisas não funcionam assim. Basta ver a quantidade de negócios estúpidos que todos os dias abrem e fecham as portas para calcular que os respectivos estudos de viabilidade servem para tudo, menos para aquilo que deviam, pois sempre que nos “encasquinha” uma ideia na cabeça dificilmente desistimos de a levar até ao fim e muito menos acreditamos que um qualquer economista badameco saiba mais do assunto que nós, que andamos há muitos anos a matutar naquilo, e até já prometemos um lugar de escriturária à filha da vizinha Sofia (e a rapariga até já demonstrou que o merece).
Por outro lado, alguma vez estaríamos preparados para pagar um balúrdio por uma resma de papel escarafunchado de gráficos e de mapas para ler na última página que o melhor era ficar quietinho a ver telenovelas em vez de pensarmos em abrir uma “sex-shop” em frente à Catedral de Maputo, — ali mesmo para os lados da Casa Velha —, ou uma plantação de bananas na Zona do Bairro do Aeroporto.
É, pois, evidente que os estudos económicos servem apenas para enganar um ingénuo qualquer ou sacar umas massas do Banco, e como é provável que, mais dia, menos dia, se encontre numa dessas situações, não lhe faz mal nenhum que perceba a lógica daquilo.
Despedido de mariquices e floreados, os estudos limitam-se a indicar as vendas previstas do negócio em cada ano, os respectivos custos, e a identificar quanto é que é preciso que lhe emprestem para arrancar. Como é bom de ver, aquilo tem sempre receitas a mais, encargos abaixo da realidade e, claro, um exagero enorme no investimento para fazer aumentar, na mesma medida, o empréstimo do Banco. Para os tipos que fazem os estudos, a vida é sempre «um mar de rosas». Os clientes nunca reclamam nem devolvem a mercadoria, não existem luvas a pagar por baixo do balcão, em tudo que é repartição, os empregados não roubam o caixa e, sobretudo, a freguesia, seja de que for, aparecem sempre aos magotes, deixando as prateleiras completamente vazias.
Para convencer devidamente os papalvos dos analistas (um dia falaremos desses tipos aqui nesta rubríca), há que saber respeitar algumas regras. Em primeiro lugar, convém que tenha bastante palha para que a coisa tenha um aspecto sério e dê a ideia de que nos fartamos de suar até chegar àqueles números. Depois, há que rechear o documento de meia dúzia de asneiras discretas para dar oportunidade a quem mostrar serviço, cortando umas coisas aqui e ali, sem que, no entanto, o resultado final seja afectado com isso.
Lembre-se que não há nada pior para um burocrata do que ter de engolir um papel sem poder meter “umas colheradas” pelo meio. Pensa logo que lhe querem tirar o emprego, e o mais provável é passar um traço por cima daquilo tudo.
Como já percebeu, leitor amigo, a ideia do Estudo de Viabilidade não é concluir que o negócio serve ou não, mas ser mais um instrumento para atestar uma conclusão que já ninguém nos tira da cabeça. Ou seja, e aqui para nós, só é preciso fazer estudos de viabilidade quando o negócio não tem validade nenhuma. Tem dúvidas…?
Não quero influenciar, de maneira nenhuma, a opinião do leitor. Daí, a questão apresentada em termos de interrogação. Quanto às conclusões a tirar, cada um que tire as conclusões que quiser… Chegados aqui — e para concluir —, importa referir, a título de exemplo, a quantidade de revistas, jornais, “pasquins” e publicações “on-line” que surgiram e desapareceram do Mercado nos últimos 10 anos, designadamente, recordando títulos que foram referência na Comunicação Social Moçambicana — mas de quase nenhuma estabilidade estrutural e de base, como escassa em capital social — como veio a acontecer com a Revista TEMPO (já em 1975, após a Independência),e mais tardeos jornais DEMOS, RENASCER, ACTUAL, WAMPHULA, VOZ DO NORTE, @VERDADE e tantos outros que já esquecemos que algum dia existiram…
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