Na última semana, o país celebrou, no dia 3 de Fevereiro, o Dia dos Heróis Moçambicanos, data escolhida para homenagear a todos aqueles que deram a sua juventude para lutar contra a ocupação colonial portuguesa em Moçambique. A data coincide com a passagem do 53º aniversário da morte de Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frelimo e arquitecto da unidade nacional.
Nela, a reflexão gira em torno da unidade nacional, o grande legado de Eduardo Mondlane, que criou a Frelimo, através de unificação de três movimentos que se encontravam dispersos, uma façanha que conduziu o país à independência. O legado de unidade só permaneceu até 1977, quando foi ameaçado pela guerra civil, uma luta sangrenta que veio terminar com o acordo que cria a Constituição de 1991, que materializou, em 1994, o multipartidarismo, uma outra conquista rumo à manutenção do legado de Eduardo Mondlane.
Samora Machel foi também grande cultivador da Unidade Nacional e sua liderança em tempos difíceis foi fundamental para fazer o povo acreditar num projecto comum de Estado, não obstante as dificuldades económicas que o país atravessava e o contexto geopolítico a nível internacional.
Apesar de ter se mostrado improdutivo em termos de inovação rumo ao desenvolvimento do País, tendo se limitado na promoção de estabilidade política, o Presidente Chissano, com todos os seus erros, manteve essa conquista ao tentar colocar de perto todos os indivíduos sem se importar com a proveniência política. Consentiu a inclusão de elementos superiores da Renamo nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), a colocação de três membros da Renamo como assessores nas províncias onde aquele partido tinha maior expressão e, em alguns casos, a ascendência em cargos de direcção de membros que se mostravam competentes.
Mas este legado não foi preservado até aos dias actuais. Nem os que se utilizam do discurso de unidade nacional, inserido como um dos pilares do Plano Quinquenal, a cada mandato, mostraram-se capazes de manter.
Pese embora houvesse uma utopia, a partir de 2004, a oposição começou com as queixas de exclusão dos seus membros afectos à administração pública. É neste consulado de Armando Guebuza que inicia a ruptura da única conquista de Chissano. Num dos casos de destaque foi a exoneração do director dos Correios de Moçambique, só porque se descobriu que ele era da oposição. Há vários outros exemplos.
A tensão política sobe de tom porque Guebuza veio com a sua política da Frelimo em primeiro, o que veio conduzir o País ao fracasso em termos políticos, apesar de ter se destacado no que tem que ver com as infra-estruturas, combate à pobreza absoluta e desenvolvimento. É dentro desse contexto que temos as dívidas ocultas, os roubos no INSS em nome do partido, uma lista enorme de escândalos em nome do partido. É um grupo que, colocando o partido em primeiro, rasgou a unidade nacional, embora constasse no PQG como um dos pilares.
Nesse contexto, o País experimenta os seus dissabores alimentados pelo sentimento de exclusão. Mas, o pior estava por vir. É o consulado de Nyusi, um manequim que no meio de marcha insurgiu-se contra tudo e todos. O país foi de novo marcado pelo retrocesso, quando os moçambicanos se viram divididos em partidos e a competência relegada à fidelidade ao partido indispensável no acesso à administração pública e a bajulação premiada. Mas, mais do que isso, Nyusi investiu na captura do próprio Estado e suas instituições reduzidas a meros objectos de adereço.
Nem a Frelimo, nem oposição, nem Sul ou Norte e muito menos a sociedade encontra qualquer contento em seus exercícios. E cada um desses grupos viu-se dividido em mais subgrupos que integram moçambicanos com menos sentido de pertença e moçambicanos mais especiais que os outros. Com efeito, nem estabilidade, nem desenvolvimento, nem direitos civis, o país está estagnado. A ânsia é que os próximos três anos durem segundos.
Como se pode depreender, se com Eduardo Mondlane a utopia do povo era a unidade nacional; com Samora Machel a utopia foi a continuidade da luta para a consolidação das conquistas alcançadas com a luta; com Chissano a utopia foi a reconstrução do país para criar as bases para um futuro melhor; e Com Guebuza os moçambicanos tinham como utopia comum a luta contra a pobreza absoluta, hoje em dia, com Filipe Nyusi ao leme se desconhece uma linha sequer de um projecto comum de Estado ou alguma utopia capaz de imbuir o povo para uma agenda comum. Para onde vamos?
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