Os analistas e comentadores que (infelizmente) temos

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

O melhor é a gente não se meter no que desconhece. O mesmo que dizer: naquilo de que só se conhece «a papa digerida» que nos servem, cuja em inglês leva o apodo de “main stream“, que significa exactamente o “fast food“, que todos consomem, com mais ou menos  mostarda ou ketchup, sem lhe questionar o sabor.

Quero corrigir alguns pontos da minha anterior crónica de opinião e vou começar por questionar: a quem pertencem os grandes Órgãos de Comunicação Social? A quem tem dinheiro para ser dono deles. Não são bancários, são banqueiros; não são trabalhadores, são patrões; não são modestos aforradores, são especuladores. E por aí fora…

Quem determina tudo o que nos rodeia e é transmitido às massas (por isso, “media” é o petit nom de “mass media“)? A mesma gente.

Quem tem acesso às melhores condições de ensino (mas também, às ferramentas mais limitadas ao que cabe no “mainstream“)? As crias dos mesmos, de modo a poderem substituir os papás, nas suas máquinas de acumulação de riqueza e poder. E, também, quem se adapte submissamente aos interesses  dos mesmíssimos: condição facilitada pelos conteúdos que formam o pântano de ignorância, incultura (para mim, não são sinónimos), iliteracia e analfabetismo, onde o cidadão comum é plantado e floresce, em escassez de água e abundância de entulho: revistas cor-de-rosa, de “escândalos”, crimes, muitas aldrabices, tudo retomado e remodelado pelos novos meios de informação e distracção, que lhes acrescentam riélitichós com e para mentecaptos, gritarias futebolístico-políticas de protagonistas entremeados… E outros lixos e escórias.

O objectivo é que o grosso dos cidadãos seja obediente – não às leis, mas às “normas da sociedade” –, ao que é de bom-tom, às liturgias burguesas da “etiqueta”, da “boa-educação”, do “saber estar” e outros entretenimentos, herdados da aristocracia decadente e refinados, de modo a marcar com clareza a “diferença” entre “boas famílias” e “gente vulgar”. De modo a que, em resignada maioria, se acomode à sua condição.

Para tal, a grande habilidade é arrebanhá-la nas «curiosidadezinhas cuscas», para que não questione as deformidades sociais e políticas demasiado visíveis, antes as tome como eternas fatalidades irresolúveis, e recolhê-la no redil da banalidade irracional, destituída de verdadeira curiosidade, sem pensamento autorizado.

O que se escreve por aí, por alguns dos nossos (?) analistas políticos (e ditos conhecedores e especializados), baseia-se nesse conhecimento autorizado, que é mais do que “pensamento único”, opinião que retiro de um extraordinário “e-mail” que recebi do meu querido amigo Coronel Luís Albuquerque e que subscrevo, pois é a ausência dele: ponto.

Tomam a história que lhes contam como se estivesse definitivamente estabelecida, sem contradições, nem abordagens marcadamente ideológicas. E lá vem a Crimeia “anexada”, como ensina a historieta de 30 anos, negada pela História complexa de séculos: a Crimeia nunca teve nada a ver com a Ucrânia, foi-lhe associada no contexto de uma URSS desaparecida, “cedida” – num contexto bem diferente e sem legitimidade para tal – por um odre de vodka oportunista e corrupto chamado Yeltsin (que fez a cama ao Gorbatchov, congeminando um “golpe militar” muito  mal amanhado, para aparecer como o Ganda Salvador – aí sim, a direcção do PCP esqueceu-se completamente da dialéctica Marxista e precipitou-se, claramente, no apressado apoio à teatrada), em mais uma das negociatas que lautamente o enriqueceram e à Família.

Na História que lhes escondem, a Crimeia foi ocupada pelo Potemkin e integrada no Império Russo, no tempo de Catarina, que se fartou de aturar os raptos de camponeses russos pelos tártaros, que os vendiam como escravos aos otomanos. Entre outras malfeitorias…

O resto que os nossos ilustres analistas invocam não ultrapassa a plena integração nas estórias oficiais do auto-proclamado “Ocidente”, sem uma duvidazinha para animar as hostes. A posição expressa pelo PCP não é exactamente a minha opinião pessoal, resultante do facto incontornável de me recusar a “comer as sopas estragadas” que querem enfiar-me no bucho, a disfarçar minimamente a enorme náusea que me provoca esta vaga de unanimidade acéfala, pastoreada por uma horda de hipócritas, que finge que a ocupação da Palestina por Israel e a interminável proliferação de colonatos totalmente ilegais e as centenas de milhares de vítimas palestinas não existe; que a invasão do Iémene pela Arábia Saudita (país medieval que, agora mesmo, executou mais de 80 opositores num só dia), deixando – friamente – que cerca de 400 mil crianças iemenitas estejam (literalmente) a morrer de fome, isto em plena euforia de Solidariedade para com um menor número de crianças ucranianas em fuga.

As crianças ucranianas merecem toda a solidariedade, mas as iemenitas (e as sírias, as palestinianas e tantas outras) também. Há muito mais tempo. Perante a total indiferença dos actuais unanimistas…

Sei que cai mal, na geral ignorância bem instalada nas multidões subitamente despertadas para UMA SOLIDARIEDADE tão específica, em grande parte com a ajuda do jornalismo generalizadamente “amestrado”. Estarei a ser duro? Penso que não (ou talvez sim!).

O mesmo se passa com o Putin, sem dúvida um “Ganda” (e perigosíssimo) malandro. Mas não suporto que, entre outros malandros de idêntico cariz, responsáveis por milhões de vítimas das suas decisões e actos, que os clamores justiceiros ignoram, me apareça o Durão Barroso, cúmplice da invasão do Iraque, com desculpas ainda mais “badalhocas” que as do Putin, «a pregar princípios que ele próprio traiu», a troco de um lugar “principescamente” remunerado no maior (e mais mafioso) Banco do Mundo.

Recuso-me – metaforicamente – a estar na mesma sala com estes abutres. Uma questão de higiene.

E nunca consegui permitir-me a não pensar, muito menos aceitar seja o que for como inquestionável.

Neste caso, as incoerências são mais que muitas. Tão visíveis que até dói.

Não tenho, sequer, paciência para ler alguns dos  artigos integralmente de grande parte dos nossos (?) analistas e ouvir as “verborreias” de grande parte dos nossos (?) Comentadores de «faca-e-alguidar”. Percebe-se, logo de entrada, que segue sem desvios o Livro da Grande Banalidade. Nestes casos, me abstenho.

Sou amigo de alguns deles. Mas, deviam investigar melhor as “baboseiras” que comentam ou opinam antes de as tornar públicas.

Quanto ao enquadramento jurídico-político internacional, o meu amigo Cor. Luís Albuquerque tem TODA A RAZÃO. Idem, no que se refere ao entretenimento dos “nossos” jornalistas que proliferam pela nossa Comunicação Social Moçambicana e sobretudo Portuguesa, incluindo nos habituais Canais de Televisão (também).

E mais não acrescento…

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