- Ao seu estilo de “comunicação-bombeiro”
- Uso do cartão “Famba” nunca passou da fase piloto e está inoperacional
Menos de 12 horas após o início da greve dos chapeiros, o Governo, acossado por imagens violentas que chegavam das ruas, decidiu reunir-se, esta segunda-feira, com os chapeiros para debelar a situação, mas parece que a ementa saiu mal que o soneto e os chapeiros, em áudios postos a circular nas redes sociais, ameaçavam voltar a rua esta terça-feira. É que, o governo e a Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) chegaram a um acordo para se voltar ao subsídio aos transportadores por seis meses, período posto o qual o executivo passa a subsidiar directamente os passageiros, mas as duas medidas estão a ser postas em causa. Primeiro, porque o subsídio aos transportadores vai ser selectivo e, como se tal não bastasse, o sistema “Famba”, proposto pelo governo, está inoperacional, depois de se ter mostrado impraticável pouco depois da fase piloto.
Evidências
Numa conferência de imprensa conjunta entre o Governo e a FEMATRO, convocada no fim do dia de ontem, o executivo de Filipe Nyusi, através do porta-voz do Ministério dos Transportes e Comunicações, anunciou medidas de mitigação do custo de transporte, que permitiram o alcance do consenso com parte dos transportadores para que pudessem voltar a operar praticando os preços anteriores.
Embora só tenha reagido no dia em que os passageiros e populares entraram em greve, Ambrósio Sitoe diz que o Governo já vem trabalhando nas medidas para a mitigação do impacto da subida dos preços dos combustíveis desde Março, e neste momento está de mãos estendidas junto de parceiros internacionais para subsidiar aos mais pobres.
Por essa razão, segundo Sitoe, o governo e seus parceiros de cooperação, adoptaram um pacote de subsídio ao transportado, ou seja, passageiro. Mas, por se tratar de um processo que levará muito tempo, o executivo propõe-se a activar o subsídio aos transportadores por um período de seis meses, para manter o custo dos transportes.
“Enquanto o processo organizativo de fazer chegar o subsídio ao transportador ocorre, os transportadores serão compensados no défice de exploração para continuarem a operar e garantir disponibilidade dos meios. Na conversa que tivemos esta manhã com a FEMATRO foi transmitida esta informação”, referiu Sitoe, reiterando um raro pedido de perdão do governo pela situação que se verificou.
O subsídio será por um período de seis meses e o governo assegura que os parceiros de cooperação vão iniciar o desembolso dos valores prometidos.
O mecanismo que está em cima da mesa é o uso do cartão “Famba”, um sistema de bilhética eletrónica cuja implementação mostrou-se um autêntico falhanço logo na fase piloto, estando neste momento completamente inoperacional em todas as unidades em que estava instalado.
Aliás, nalguns autocarros, os equipamentos do referido sistema que custou milhões de dólares e que o Governo diz que vai, agora, alocar aos transportes semi-colectivos, vulgo chapas, estão completamente vandalizados.
“Estamos cientes de que a maioria da população na área metropolitana de grande Maputo faz no mínimo uma ligação, razão pela qual serão subsidiadas no mínimo quatro viagens por dia, cobrindo 26 dias por mês”, sustentou Sitoe, dando a entender que a medida vai ser aplicada a todo o país.
No entanto, esta medida ignora que a maior parte das pessoas que de dia frequentam a cidade vive nas zonas de expansão, onde para chegar necessitam de mais de três e até quatro chapas, o que não seria totalmente coberto pelas quatro viagens.
Outro aspecto é que só os licenciados é que se vão beneficiar desta medida transitória nos próximos seis meses, o que exclui também grande parte da população que vive nas zonas de expansão, pois poucos operadores licenciados ousam chegar a alguns locais devido aos problemas de degradação de vias de acesso.
Como se tal não bastasse, só na cidade de Maputo, estima-se que existam mais de 3 mil chapas e diariamente, só na cintura do grande Maputo, circulem mais de um milhão de passageiros, mas o governo deixa claro qual vai ser o esforço financeiro, limitando-se a referir que o dinheiro será garantido pelo Banco Mundial.
Não há consenso entre FEMATRO e outros…
FEMATRO assumiu que não autorizou a manifestação. Apesar da relativa calma, há receio de que a grave de transportadores continue, pois o acordo alcançado exclui parte dos transportadores, simplesmente por não estarem associados.
A Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (Fematro) confirmou que chegou a consenso para a retoma do transporte colectivo na cidade e província de Maputo após o executivo comprometer-se com o pagamento do subsídio de transporte nos próximos seis meses. De acordo com Castigo Nhemane, presidente da FEMATRO, o subsídio acordado vai incidir sobre o passageiro e não sobre combustível.
“Encontrou-se um entendimento. O Governo está sensibilizado, no que toca ao facto de que os transportadores têm razão, mas a população tem que ser transportada, por isso o Governo assumiu que vai subsidiar todos os operadores que operam na zona metropolitana do Grande Maputo – transportadores devidamente licenciados, com a situação fiscal regularizada esses vão receber uma ajuda do Governo, entretanto há um trabalho técnico que, em conjunto, vamos fazer urgentemente, de tal maneira que, até aos próximos dias, já estaremos a falar de números”, declarou Nhamane.
O presidente da FEMATRO, apoiando-se na recente subida dos preços dos combustíveis, destacou que uma compensação justa aos transportadores devia cifrar-se em sete meticais por passageiro.
“Hoje, os sete Meticais estão desactualizados com o reajuste do dia um de Julho, tanto que, do nosso lado, precisamos de algum tempo para vermos a correcção dos números anteriores. Usamos este meio para pedir sinceras desculpas aos nossos concidadãos por este constrangimento que se deveu a essas razões. Pela fraca comunicação do lado do Governo, não tínhamos palavras seguras para definir aos nossos membros que posição tinham de tomar”.
Famba é um “cartão inteligente” que permite que o passageiro pague quando estiver viajando de autocarro, comboio, ferryboat, Chapa ou táxi na Grande Área Metropolitana de Maputo. Tudo o que o passageiro precisa fazer é tocar o seu cartão Famba no validador/leitor de cartão quando estiver a iniciar a sua viagem.
A introdução desse cartão começou já faz dois anos, mas fracassou ainda na fase experimental. Na altura, fundos públicos foram gastos em publicidades que não tiveram qualquer efeito. Nos autocarros, foram instalados dispositivos que se encontram vandalizados. Em voz baixa, diz-se que foram vandalizados pelos próprios cobradores e motoristas de autocarros.

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