PAE: mais um alívio pesado e, oxalá, não fraudulento

DESTAQUE EDITORIAL

O Governo preparou os moçambicanos para que estivessem atentos às “medidas de gestão” que iriam “conter o custo de vida no país”, precipitado por vários factores, no qual se destaca, segundo consta do referido plano do Governo, as dívidas ocultas (que ainda vão nos assombrar) e depois seguem “outros factores”. Estes outros, na descrição do Governo, “incluem a acção terrorista em Cabo Delgado, que já causou mais de 850 mil deslocados internos, a crise sanitária causada pela pandemia da covid-19 e o aumento da frequência e da intensidade dos ciclones e inundações, tendo Moçambique enfrentado mais de nove ciclones nos últimos quatro anos”. No fim é que se pode ler o conflito da invasão Russo à Ucrânia.

Ignorando a sequência da colocação, é preciso assumir que são choques fortes que colocaram a economia moçambicana de joelhos, ao mesmo tempo que a colocaram numa capacidade questionável dos dirigentes de controlar os indicadores económicos.

Muito recentemente, o Governo tentou conter o custo de vida anunciando redução de taxas para conter aumento de preço de combustíveis, mas veio a subir três vezes; anunciou há semanas um subsídio total de mais de 120 milhões de dólares para os transportes de passageiros (e até com ensaios para reintrodução de cartão FAMBA), mas as edilidades da Beira e Maputo vieram a aprovar aumentos e, no seu último fracasso (pelo menos no cúmulo), anunciou a reforma na administração pública introduzindo a Tabela Salarial Única (TSU), que veio criar expectativas que levaram os funcionários públicos a contrair dívidas, que hoje os sufocam e não se tem mais perspectiva de quando é que este documento será implementado. Estas medidas tinham uma relação directa no poder de compra dos moçambicanos.

É nesse contexto que surge, com o mesmo argumento de conter o custo de vida, o Programa de Medidas de Aceleração Económica (PAE), cheio de promessas questionáveis e distinguindo-se com as velhas promessas pelo facto de não se poder questionar a sua eficácia a curto prazo. O seu tempo de implementação coincide com o fim do mandato dos seus mentores, o que sugere tratar-se de um documento com fins políticos do que necessariamente responder os anseios da colectividade.

O custo de vida se sente hoje, mas o Governo mostrou-se incapaz de implementar medidas que trouxessem as repostas que respondessem efectivamente desafios do cotidiano e nas reações às novas promessas, curiosamente não são questionadas as velhas mentiras.

Ainda não entramos na eficácia das 20 medidas que afinal não dizem respeito às massas, na medida em que estão limitadas a sectores restritos, embora há quem afirma que devem ser olhadas em conjunto para se assumir sua eficácia.

Até que as medidas anunciadas para conter o custo de vida mostraram-se fraudulentas, sugerindo do governo uma postura mafiosa e desonesta e um plenos desconhecimento das elites das realidades das massas que governam. A quem iremos, nos próximos dois anos, cobrar pelo fracasso do PAE?

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