E se o Governo não fosse mentiroso?

EDITORIAL

Num vídeo que circula nas redes sociais, vemos um cidadão a pegar um agente de trânsito pela gola. Trata-se de um civil a exibir sua musculatura no meio de autoridades que têm por chamado a garantia de ordem e tranquilidade pública, mas que, por alguma razão, sentiram-se sensibilizados com o cidadão do que com o colega.

Num outro quadro, dois ministros que engoliram o orgulho, depois que foi exposta a incompetência dos seus mandatários, reúnem-se novamente com os médicos e reconhecem que, contrariamente às garantias anunciadas anteriormente, houve de facto casos de funcionários que com a implementação da Tabela Única Salarial passaram a receber menos do que o que antes auferiam e face a esta gigantesca flagrante mentira prometem corrigir os lapsos de implementação, antes de terminar a correção dos erros de concepção da TSU.

De pequenos a grandes casos, os cenários seguem ilustrando em telas fragmentadas a incapacidade do Governo de dotar o Estado de capacidades para conter os raptos; para prover comida, com as vítimas de guerra a serem assediados em troca de um prato de comida; para pôr em prática as suas voluntárias iniciativas de implementar estímulos económicos, entre outras vontades manifestas, que nunca chegarão ao terreno.

Esse quadro, que sugere falhanço governativo, não é de exclusiva responsabilidade do Governo do dia. Imputa-se a mesma responsabilidade a Frelimo que suporta o Governo, ao partido que concebeu ou deu subsídios para concepção do Plano Quinquenal do Governo, e que tratando de instrumentos que refletem a ânsia da onda vermelha sua implementação ou não, deve merecer um acompanhamento mais honesto e responsável. É uma falta de concertação interna que se manifesta até na implementação de programas estruturantes como a reforma na função pública, que quis alguém que fosse feito em seis meses e o partido limitou-se em saudar.

As marchas em curso, de uma juventude cooptada (a mesma e única, entre os órgãos da Frelimo, que acarinhou um terceiro mandato), em apoio ao Governo, num momento em que a insatisfação pelo rumo do país é palpável, não são suficientes para transmitir a maturidade e apoio da Frelimo ao Governo, pelo contrário tem efeito oposto. A TSU, que não é conhecida dentro da Frelimo, só veio denunciar essa desorganização.

Não é possível uma base desarticulada assegurar uma estrutura pesada de 30 milhões de habitantes. O erro não está apenas na governação, a qualidade dos governados mostra a urgência de uma mudança na Educação e Cultura, duas bases sociais que sofreram uma marginalização sem precedentes nos últimos anos, de topo a base, desde o desinvestimento de educação na base e a politização de academia no topo.

E a vítima é a mesma faixa, a juventude. Vítima da Frelimo para renunciar a sensatez e destilar ódio nas redes sociais e defender a perpetuação de Estado de caos através de apoio a um terceiro mandato. É a faixa mais frágil para influenciar, não sendo por coincidência que os terroristas também se aproveitam da força dela para alimentar as suas fileiras.

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