Assim vai a política portuguesa (e também a moçambicana…)

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

O Primeiro-ministro António Costa tem acusado repetidamente os seus adversários políticos de criarem “casos e casinhos”.

Dada a sua “fuga para parte incerta” desde a turbulência política originada pelo assunto da indemnização milionária a
Alexandra Reis, admite-se que entenda a situa-
ção como irrelevante, ou seja, apenas mais um “casinho” entre tantos outros. E ainda falam de Moçambique, hem?!…

Sim, por cá temos agora o “casinho” do TSU e de dezenas Autarquias espalhadas pelo nosso País que tem estado a provocar muitas “dores de cabeça” a muito boa gente… A FRELIMO e os seus (des)Governantes que o digam!

Contudo, não se procura nestes casos e em particular neste texto, todavia, debater e repisar estes casos (“casinhos”) — quer entre nós, quer em Portugal —, na perspectiva política, já sobejamente abordada por inúmeros analistas e jornalistas, mas tão só colocar algumas questões e hipóteses decorrentes da análise à luz dos princípios da gestão de recursos humanos nas organizações.

E começamos não exactamente por Alexandra Reis, mas por Manuel Beja, o Presidente do Conselho de Administração da TAP, no cargo desde Junho de 2021.

No topo da pirâmide organizacional, atendendo a um âmbito estritamente profissional, Manuel Beja tem passado entre os pingos da chuva em todo este “casinho”. E o Presidente moçambicano Filipe Nyusi também não lhe fica atrás, embora num caso (ou em diversos casos!) de outra natureza…

Voltando ao caso da TAP, qual foi o seu verdadeiro papel na situação criada com Alexandra Reis? Quais as suas responsabilidades directas e/ou indirectas. Estará Manuel Beja devidamente apto a gerir uma organização como a TAP? E Filipe Nyusi igualmente capaz de continuar a dirigir os destinos de Moçambique…?Sem beliscar as capacidades intelectuais e as obras profissionais de um e de outro, a verdade é que os critérios profissionais, normalmente exigíveis para a nomeação de um “Chairman” para uma companhia como a TAP, não estavam consubstanciados na pessoa do primeiro. A sua experiência de 14 anos em “marketing”, de três anos em desenvolvimento corporativo e de seis anos e meio em Direcção de Pessoal não o configurariam como o candidato ideal para a posição que actualmente ocupa, pelo facto da sua experiência se focar única e exclusivamente no Sector das Tecnologias de Informação e dos seus contactos com a Aviação Civil resultarem apenas das suas viagens de avião, como qualquer outro normal cidadão.

Poderemos, eventualmente, aqui admitir que a sua experiência em Gestão de Recursos Humanos tenha sido vincadamente valorizada, atendendo ao quadro que se antecipava de redução do quadro humano da TAP. Mas também não consta que alguma vez tenha levado a cabo uma tão Profunda Reestruturação implicando a saída de 3.000 trabalhadores, como ocorreu recentemente na transportadora aérea portuguesa. Para este tipo de intervenção, quando executada com meios internos, necessita-se de um(a) testa de ferro, alguém que depois do trabalho realizado fica definitivamente “queimado” na organização e que tem de ser devidamente recompensado pelo facto… e nunca poderia ser o próprio “Chairman”.

Alexandra Reis é admitida na TAP, após quase 20 anos de experiência profissional prévia no sector das Telecomunicações, com funções essencialmente relacionadas com o “procurement”, que se entende como todas as actividades directa e indirectamente relacionadas com compras.

Um ano e oito meses antes de entrar na TAP teve a sua primeira experiência com o sector da aviação na “Netjets Europe”, com funções de Direcção neste mesmo domínio profissional.

A sua admissão na TAP, onde começou como “Chief Procurement Officer” e onde esteve três anos, pode, pois, ser entendida como um processo normal e aceitável de transição profissional. Dentro da TAP evoluiu rapidamente para “Chief Corporate Officer”, ocupando um dos lugares do Conselho de Administração onde pontificam ONZE(???) Administradores, CINCO dos quais não executivos.

Admitamos que a sua competência profissional, corroborada por outros profissionais na rede profissional “Linkedin”, e que o seu perfil pessoal voluntarioso/empreendedor e caracterizado por uma vincada ambição profissional tenham sido aproveitados para o desenvolvimento de um cargo “multi-task”, onde se destacou a sua intervenção preponderante no processo de negociação da saída de 3.000 funcionários e que levantou da parte destes e dos Sindicatos acesas críticas sobre o seu excesso de directividade.

Nesta altura, há que colocar algumas questões para reflexão, porque perguntar não ofende, não é verdade, Senhores? Assim:

1ª — A quem prestava contas Alexandra Reis? Ao “Chairman” Manuel Beja, atenta até a experiência deste no domínio da gestão de pessoas? Ou à CEO francesa, Christine Widener? Ou a ambos, numa relação hierárquica bicéfala e sempre muito complexa de gerir?

2ª — Será neste campo estritamente profissional Alexandra Reis a “Kilas, a má da fita”, ou a vítima de uma estratégia de redução rápida de custos da TAP, em que era necessário um(a) “kamikaze”?

3ª — De quem partiu a ordem de despedimento de Alexandra Reis (parece não haver qualquer dúvida de que a rescisão contratual não partiu da sua parte)… da CEO ou do “Chairman”?

4ª — Qual o estado actual das relações profissionais entre o “Chairman” e a CEO?

5ª — A quem reporta verdadeiramente a CEO? Ao “Chairman”, via Conselho de Administração, ou ao Governo, na pessoa do ex-Ministro Pedro Nuno Santos e /ou do Ministro das FinançasFernando Medina?

A indemnização a Alexandra Reis, aparte a dificuldade de aceitação social que a mesma implica, parece ser devida… e a base de partida foi o valor de 1.479.250,00 euros! Mas acabou por levar “limpinhos” Meio Milhão de Euros.

Face ao valor envolvido e pelo trabalho desenvolvido por Alexandra Reis ter sido delicado e implicado variáveis complexas que a conduziram ao conhecimento de informações que escapam ao comum dos cidadãos, houve necessidade de envolver na negociação da sua saída dois importantes gabinetes de advogados portugueses.

Como é habitual nestes casos, a pessoa que fica “queimada” no processo é compensada, não apenas monetariamente, mas também doutras formas, mormente na sua carreira profissional, e daí a sua nomeação para a NAV, cinco meses depois de ter deixado a TAP. Esta nomeação poderá ter sido negociada previamente à assinatura que aceitou fazer da carta de renúncia ao cargo de Administradora, que foi entregue na Conservatória do Registo Comercial.

Porque Alexandra Reis sabe muito sobre o que se passa no difícil quadro de vida da TAP, este cargo na NAV também só poderá ter sido uma antecâmara para poder, com mais legitimidade, ser chamada para funções governativas como Secretária de Estado do Tesouro e comprometê-la ainda mais com o sigilo e a confidencialidade.

Mas, pelo que se constata, terá sido um erro de cálculo de Fernando Medina? Ou do próprio António Costa?

O que fará Alexandra Reis com o que sabe? Ou o que fará o Governo com Alexandra Reis proximamente para que a mesma se mantenha recatada?

Já em relação ao Presidente da República de Moçambique, Sua ExceLência Filipe Nyusi, as razões são bem diferentes, desde ter do seu lado “maus conselheiros” e ministros incompetentes — os “tais lambe-botas” de que falam alguns jornalistas da nossa praça —, aos escândalos das Dívidas Ocultas, ao TSU, aos defalques ocorridos na Edilidade de Tetee de outras Província do País e à falta de Pagamento de Vencimentos de centenas de trabalhadores por esse País fora. E isto para não incluir (também!) a maior parte dos nossos Deputados que estão na Assembleia da República simplesmente a verem os “navios passar” ou a“deliciarem-se” com a sonolência que os caracteriza, por razões de presença quase obrigatória?!

Enfim! Hoje, ficamos por aqui, pois o espaço de que dispomos não nos permite alongar mais, infelizmente…

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