O País em que vivemos

OPINIÃO

 Alexandre Chiure

Cada dia que passa surpreendo-me com coisas que acontecem no meu País. Assisto com preocupação à degradação contínua de valores morais na sociedade. A forma de ser e estar choca com a maneira como fomos educados e, modesta à parte, bem-educados, lá na minha aldeia.

Crescemos, por exemplo, a saber que a morte é muito séria. Quando alguém perdia a vida, a notícia circulava apenas entre os adultos. As crianças não deviam saber. Eram protegidas e, por isso, recolhidas para longe da casa onde ocorreu a infelicidade.

Era assim como a sociedade geria casos de falecimento. Havia muito mistério à volta do assunto. Talvez por essa razão que a morte na comunidade, sobretudo entre as crianças, era muito temida.

Todo o mundo sabia valorizar e preservar a vida humana. As pessoas respeitavam-se mutuamente. Casos de suicídios eram bastante raros, incluindo assassinatos por motivos banais, como acontece hoje nos bairros, aldeias, distritos e províncias do País.

Hoje, há uma forte tendência de banalizar a morte. É que as crianças se envolvem em tudo que é cerimónia fúnebre. Vão à capela. Participam nas missas de corpo presente na igreja ou na residência do finado. Frequentam os cemitérios na companhia dos seus pais ou familiares, alegadamente para pisarem as campas.

Outras crianças, sob a capa da pobreza ou na busca de sobrevivência, vendem água nos cemitérios em recipientes de cinco litros para quem queira regar plantas ou flores junto às campas. Algumas fazem o negócio por iniciativa própria e outras a mando dos seus parentes para o ganha-pão.

Como consequência da degradação de valores, a vida deixou de ter importância na sociedade. Alguém pode ser morto a qualquer momento por uma coisinha de nada. Pode ser assassinado por dever 100 meticais a alguém, no lugar de encontrar formas de o obrigar a pagar. Pode ser morto por roubar pato ou galinha no lugar de o denunciar à Polícia.

Na política, alguém pode ser sacrificado por ter uma opinião diferente ou própria. Por pertencer a um ou outro partido político. Pode ser morto por ser honesto, exemplar ou por não pactuar com actos de corrupção num ambiente em que a compra de favores é o modus vivendi na sociedade.

Por falar da política, estou surpreendido e tanto e quanto decepcionado com alguns dirigentes políticos do meu País pela sua capacidade de ter duas caras. Quando convém, sobretudo nos períodos eleitorais, são aparentemente atenciosos e próximos do eleitor. Parece que se preocupam com os problemas das populações.

Ao que tudo indica é uma falsa preocupação, pois, logo a seguir, distanciam-se dos eleitores. Somem nos momentos cruciais em que o seu papel pode ser determinante para aliviar a dor ou salvar vidas. Não dizem nada ante ao desamparo dos seus potenciais eleitores, nem que seja para uma simples manifestação de solidariedade.

A prova disso, por exemplo, é que nos momentos críticos de propagação de coronavírus em Moçambique, tirando um e outro caso, os partidos políticos pouco ou nada fizeram para educar os cidadãos, entre membros, simpatizantes das suas formações políticas e o público em geral, a saberem prevenir-se contra a doença.

Poucos investiram na protecção dos que votam neles regularmente, de cinco em cinco anos. Não se preocuparam com a vida de quem lhes garante a sua manutenção em alguns centros de poder. O País atingiu o pico da doença entre 2020 e 2021e os políticos continuaram num sono profundo como simples espectadores. Perderam a ocasião de identificar-se com a causa nacional e de, com actos concretos, dizer: “Estamos Juntos”.

Os políticos estão a cometer os mesmos erros em relação ao grave problema humanitário que se vive em Cabo Delgado como resultado dos ataques terroristas. Mais de 500 mil pessoas estão deslocadas e vivem nas piores condições de vida noutras zonas da província, outras em Nampula.

Onde andam dezenas de partidos que temos visto em períodos eleitorais a baterem as portas das casas de eleitores a pedir votos? Aqueles que inundam as ruas e os mercados a prometerem tudo e nada? Eles estão, mais uma vez, a marcar distância quando deviam estar mais próximos de quem necessita do seu carinho, da sua solidariedade, da sua atenção.

Alguns falam do assunto, mas em voz baixa e à distância. Ninguém se aproxima para perceber de perto o que se passa e providenciar possíveis apoios aos necessitados.

Acordem e façam política como deve ser. Política pura. Mostrem a todos nós que são sérios. Mexam-se, mobilizem o apoio, interno e externo para os afectados pela guerra em Cabo Delgado. Mostrem que estão preocupados com a situação dos vossos potenciais eleitores. Aprendam a ter sentido de Estado para que os eleitores possam vos respeitar e continuar a confiar o seu voto.

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