Há uma ordem para silenciar Guebuza nos órgãos públicos

DESTAQUE POLÍTICA
  • Depois das palavras incendiárias
  • Para além de Nyusi, as palavras de Guebuza eram dirigidas ao camarada “traidor” Celso Correia

Após as palavras incendiárias do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, no simpósio de celebração dos seus 80 anos, no passado dia 20 de Janeiro, que não foram acolhidas de bom grado por parte do actual Presidente da República, Filipe Nyusi, seus conselheiros e quadros seniores do partido Frelimo, os órgãos públicos e participados (RM, TVM e Notícias) – e alguns capturados – receberam ordens para não veicularem discursos ou qualquer conteúdo que vise enaltecer acções ou feitos de Armando Guebuza. Jornalistas destes órgãos confidenciaram-nos que algumas peças que foram preparadas no dia 20 de Janeiro e nos dias seguintes foram barradas, ficando assim a saber da ordem do silenciamento do antigo Chefe de Estado.

Evidências

Muitos podem ainda não se ter apercebido, mas desde o passado dia 21 de Janeiro, um dia depois de ter proferido um desabafo em que se queixava de perseguição dos camaradas actualmente no poder, deixaram de ser veiculados discursos e notícias sobre Armando Guebuza nos órgãos públicos e participados pelo Estado, à excepção da Televisão de Moçambique, onde um dos seus homens fortes, Armindo Chavana, foi PCA.

Na Rádio Moçambique e Jornal Notícias, incluindo alguns órgãos privados capturados, há ordens expressas de não se passar nada relacionado com Guebuza. Na Rádio Moçambique e os respectivos emissores provinciais, os jornalistas ouviram o comando do silenciamento de Guebuza da voz do director do canal, o decano José Durberque, que disse ter recebido ordens superiores para não se veicular nada sobre Armando Guebuza.

Por exemplo, um dia depois do Simpósio que serviu de palco e plateia para Guebuza desabafar e apontar os canos ao seu sucessor, houve um torneio de Futebol organizado na região de Nditxe, no interior do distrito de Marracuene, a cerca de 40 quilómetros de Maputo, em homenagem a Armando Guebuza.

Todo o material jornalístico produzido neste evento foi barrado no serviço público de radiodifusão e o Jornal Notícias produziu a última peça sobre o antigo estadista na manhã do passado dia 21 de Janeiro, uma peça produzida no dia anterior, tal pode verificar o Jornal Evidências.

Nem mesmo o concorrido Festival Armando Guebuza, que foi antecedido do encerramento do torneio de Futebol, mereceu atenção. Aliás, alguns jornalistas receberam um “ok” para irem fazer cobertura, mas as peças não passaram, cumprindo-se assim a ordem de silenciar Guebuza.

Recorde-se que, depois das declarações de Armando Guebuza, a ala de Filipe Nyusi, que, nas primeiras horas do aniversário de Guebuza chegou a endereçar uma mensagem de felicitação, que foi entendida nalguns círculos como uma tentativa de reaproximação, partiu também para o ataque com parte dos seus emissários nas redes sociais a escreverem textos extensos para ridicularizar AG.

Um dos textos é assinado por Gustavo Mavie, curiosamente antigo defensor acérrimo de Guebuza, que agora usou da astrologia para o atacar de forma veemente, chamando-o de ganancioso, teimoso, verbalmente agressivo, conflituoso, irredutível nas suas convicções, entre outros epítetos.

É o novo capítulo nas relações entre o actual Presidente da República e seu antecessor, numa altura em que o debate sobre o terceiro mandato começa a perder força, sobretudo depois do Congresso da Frelimo e das trapalhadas da TSU, que acabaram afectando grandemente a imagem de Filipe Nyusi e do seu Governo.

Conheça o outro camarada destinatário das palavras de Guebuza

Naquela que é tida como a nova fase de uma guerra sem quartel entre Filipe Nyusi e seu antecessor, este último que se queixa de estar a ser perseguido, uma perseguição que inclui a sua família, coube a Armando Guebuza dar o pontapé de saída às hostilidades, quando  – de viva voz e no seu estilo característico – desabafou, associando a morte de Valentina à mesma conspiração de alguns “camaradas” que colocou Ndambi na cadeia

Num discurso que mostra que as feridas abertas no calor da batalha judicial e política das dívidas ocultas ainda estão frescas, o antigo estadista, sem citar nenhum nome, atirou-se contra alguns camaradas que estarão a conspirar contra a sua família.

“Temos o Ndambi, que a Justiça não explica porquê está lá. Mas fizeram de propósito, para ele não estar cá connosco. A Valentina foi nos arrancada nesta confusão que levou agora o Ndambi à prisão. Mas nos aguentamos. Somos fortes. Se o colonialismo português não conseguiu calar-nos, vencer as nossas convicções, não são os nossos camaradas que vão conseguir isso”, sentenciou Guebuza, num discurso que depois foi replicado nas redes sociais, onde mantém uma legião de seguidores muito forte.

A mensagem é claramente dirigida ao Presidente Nyusi e Celso Correia, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, a quem Armando Guebuza culpa por uma série de tragédias, incluindo a detenção do seu primogénito Armando Ndambi Guebuza, recentemente condenado a 12 anos de prisão em conexão com o caso das dívidas ocultas.

Celso Correia, que foi um dos jovens delfins de Armando Guebuza durante a sua governação, é tido, nos círculos próximos do antigo estadista, como um traidor, com o agravante de ter sido o “master mind” que esteve por detrás do espectáculo das dívidas ocultas, escolhendo quem devia ir preso ou ser amnistiado, tal como ele próprio vincou num áudio gravado clandestinamente pela antiga secretária particular de Armando Guebuza, Inês Moiane.

Por essa razão, Armando Guebuza não o quer ver nem sequer pintado, tendo já o escorraçado por, pelo menos, duas ocasiões quando tentou uma aproximação um pouco antes do julgamento, o que sugere que o antigo Chefe do Estado pode ainda guardar uma enorme mágoa de Celso Correia.

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