CEO da TotalEnergies diz que decisão de voltar a Cabo Delgado ainda é prematura

POLÍTICA
  • Desta vez, alega discordância sobre custos relacionados com o reinício do projecto
  • PR tentou seduzir a Total, evocando alta dos preços de GNL no mercado internacional
  • “Ainda é prematuro assumir o regresso a Cabo Delgado”, referiu o CEO da Total

A data do regresso da TotalEnergies ao seu projecto de gás natural na Bacia do Rovuma ainda é uma incógnita, apesar das negociações com o Governo estarem a decorrer a um ritmo satisfatório e das previsões optimistas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesta quarta-feira, 26 de Abril, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, evocou o ambiente de trabalho e alta de preços de Gás Natural Liquefeito (GNL) no mercado internacional para convencer a multinacional francesa a retomar o projecto, que é considerado o maior investimento privado de sempre no continente africano. No entanto, o CEO da TotalEnergies, Patrick Jean Pouyanné, reduziu a cinzas os argumentos elencados pelo Chefe de Estado ao declarar que ainda é prematuro assumir o regresso a Cabo Delgado devido a discordâncias sobre os custos relacionados com o reinício do projecto.

Duarte Sitoe

Em Março de 2021, depois um ataque em Palma, a menos de 25 quilómetros do perímetro de segurança que havia sido estabelecido para o seu acampamento, a Total retirou todo seu pessoal do projecto Mozambique LNG em Afungi e accionou a cláusula de Força Maior, reiterando que só retomaria as actividades mediante ao restabelecimento da ordem e tranquilidade. Volvidos dois anos, o Governo e as Pequenas e Médias Empresas ainda anseiam pelo regresso da multinacional francesa.

Durante a abertura da XV Conferência e Exposição sobre Mineração e Energia que decorreu sob o lema: “Utilizando os recursos naturais de Moçambique para um Desenvolvimento Económico Transformacional e Sustentável”, o Chefe de Estado apoiou-se na alta de preços de GNL no mercado internacional e o ambiente de trabalho favorável no território nacional para “seduzir” a Total a retomar o seu projecto na província de Cabo Delgado.

“É nossa expectativa que o desenvolvimento em terra do empreendimento Mozambique LNG cujo operador é a TotalEnergies volte a ser implementado com brevidade, pois urge aproveitar a janela de oportunidade de mercado com a alta de preços. E temos estado a trabalhar, a cooperação com Total é muito favorável. O ambiente de trabalho também contribui para que a qualquer momento possam retomar as actividades”, disse Nyusi.

Por outro lado, enquanto anseia regresso da multinacional francesa, o Presidente da República destacou o crescimento de 8,8% do contributo da indústria extractiva no Produto Interno Bruto (PIB) na última década, uma vez que passou de 1.8%, em 2011, para perto de 10.6%, em 2022.

“Em Moçambique, a indústria extractiva conheceu um crescimento significativo, tendo passado de 1.8% do PIB em 2011, para perto de 10.6% em 2022. Esta subida em cerca de uma década reflecte um desenvolvimento do projecto de carvão de Moatize, dos empreendimentos de areias pesadas localizadas em Moma e Chibuto. Reflecte também o desenvolvimento de rubis e grafite na província de Cabo Delgado”, revelou o Chefe de Estado para posteriormente mostrar-se preocupado com o facto das multinacionais que operam no País transformarem os recursos que extraem intramuros no estrangeiro, tendo convidado as mesmas para “começarem a pensar em transformar tudo aqui em Moçambique” com vista a empregar mais moçambicanos.

Total pode impor renegociação dos contratos

No entanto, um dia depois de Filipe Nyusi elencar o ambiente de trabalho e alta de preços de Gás Natural Liquefeito (GNL) no mercado internacional para estimular a TotalEnergies a retomar o seu projecto na Bacia do Rovuma, o CEO da Multinacional Francesa, Patrick Jean Pouyanné, veio a terreiro contrariar o optimismo do Presidente da República.

Pouyanné referiu que ainda é prematuro assumir o regresso a Cabo Delgado devido as discordâncias sobre os custos relacionados com o reinicio do projecto.

“Penso que, ao dia de hoje, ainda é prematuro assumir o regresso, porque a nossa equipa local ainda está a trabalhar com o Governo moçambicano e parceiros com vista a poder reiniciar o projecto, mas isso só acontecerá se os custos estiverem sob controlo, isso é fundamental para nós”, declarou o CEO da TotalEnergies, durante a divulgação dos resultados financeiros da empresa para o primeiro trimestre de 2023, dando a entender que a multinacional francesa poderá querer renegociar os contratos.

Por outro lado, Patrick Jean Pouyanné declarou que, para além das questões ligadas a segurança, o regresso a Afungi depende também das negociações com os empreiteiros. “Disse, recentemente, que precisamos que os empreiteiros sejam razoáveis. Alguns deles não o são, pelo que vamos voltar a apresentar propostas, porque não podemos aceitar custos indevidos”. Contudo, considerou que se estará já na “última fase” antes do recomeço.

De lembrar que, em Março do ano em curso, o director de projectos da multinacional francesa, Stephane Le Galles, referiu que com o actual cenário de insegurança que se verifica na província de Cabo de Delgado as exportações de Gás Natural Liquefeito (GNL) só podem arrancar, na pior das hipóteses, em 2027.

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